Blair

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   Eu realmente não sabia o que falar, parabenizar Chuck pela recém conquista foi o máximo que consegui. Nosso último encontro havia sido bem ruim, eu o mandei embora, mas estava tentando me redimir. Não que estivesse totalmente errada, a postura ciumenta dele me pegou desprevenida. Não foi nada possessivo, mas esse tipo de ciúme não era corriqueiro na minha vida, eu não sabia de que forma reagir, acabou sendo da pior possível. Chuck me confundiu, sentimos ciúmes quando estamos interessados em alguém, certo?

  O problema é que esse cara é uma enorme contradição, e não sei se tenho coragem o suficiente para tentar entender.

— Pessoal, está ficando um pouco tarde, eu preciso ir para casa. — A voz de Serena me despertou dos meus pensamentos. — Eu ficaria mais tempo, mas vim pra cá direto do aeroporto, estou um pouco cansada. — A loira deu um abraço apertado em Chuck, os dois tinham uma sintonia visível, mesmo discutindo o tempo inteiro. — Feliz aniversário, seu esquisito. Comprei um presente pra você, passe na Gucci. — Ouvi ela sussurrar, Chuck parecia satisfeito. Aquilo me deixou um pouco insegura em relação ao meu presente, a Gucci não era famosa por produtos baratos. 

O dinheiro que havia recebido pelo nosso trato permanecia inteiro. Usei para quitar as dívidas de aluguel, mas depois do pagamento, reembolsei. Não estava com intenção de ficar com aquela grana, minhas motivações para aceitar o combinado haviam mudado bastante, principalmente quando aceitei estar apaixonada por Chuck Bass. Portanto, meu presente não era lá o mais caro, mas era de coração.

— Precisa de carona, Serena? — Nate perguntou, senti um toque de esperança em sua voz. Seus olhos azuis tinham uma clara expectativa. —  Eu vi que chegou de táxi. 

— Pode ser, não estou muito disposta a esperar por um carro. —  A loira respondeu com indiferença. Eu a conhecia o suficiente para ver por trás da armadura, ela provavelmente estava nervosa por ter que dividir espaço com Nate nos próximos momentos. — Blair, eu prometi ficar para te ajudar a limpar tudo, posso mandar alguém no meu lugar? — Ela me direcionou um olhar mais caloroso, o biquinho que formou com o lábio a deixou adorável.

—  Tudo bem, S. Não se preocupe, não fizemos nenhuma sujeira. —  Respondi com sinceridade. O máximo de lixo eram os copos de bebida e pratos que comemos bolo. E sim, meu bolo havia ficado incrível.

— Eu posso ajudar. —  Chuck falou, ele tinha as mãos nos bolsos. O cabelo levemente bagunçado e a camisa com alguns botões abertos o deixavam mais sexy que o normal. 

—  Não precisa. — Soltei, sem fazer contato visual. Precisava colocar as ideias no lugar, ficar longe dele era necessário para que isso desse certo. Ele tinha conseguido o papel, aquilo só podia significar que nosso acordo havia chegado ao fim.

   Serena e Nate se despediram de nós, Archibald fez questão de me tirar do chão com um abraço de urso, o que me causou alguns risinhos. Chuck e eu estávamos na tarefa silenciosa de recolher o lixo, já que ele não havia desistido de me ajudar. A mesa do bolo estava decorada com algumas fotos dele em momentos aleatórios, eu ainda não tinha decidido qual seria o destino desses registros. 

— Blair, desculpe não ter te contado sobre o papel. —  Ele sussurrou, parado com uma sacola plástica na mão. — Recebi a notícia pouco antes de você, quando sua mensagem chegou, estava chegando da reunião. Não quis omitir informações, só não queria estragar o momento. 

— Entendi. — Pelo menos ele não iria desaparecer sem dar satisfações. — Eu estou realmente feliz por ter conseguido esse papel, não consigo pensar em alguém mais dedicado. Quero te ver brilhando nas telas de cinema. — Meu tom de voz vacilou, mas acho que ele não percebeu. Não queria vê-lo através de tela alguma, queria que ele permanecesse ao meu lado, nem que fosse numa droga de encenação. 

— Obrigado. — Ele deu um sorriso que não alcançou os olhos. — Não teria conseguido sem você.

—  Que nada, se eu não aceitasse a proposta,  você encontraria alguém para encenar contigo. 

— A diferença é que seria cem por cento encenação, com você as coisas foram... de verdade. — Chuck parecia relutante em casa palavra, eu estava sentindo o ar se esvaindo. 

— Tenho uma coisa pra você. — Por que diabos eu mudei de assunto? — Não é nada da Gucci, mas espero que goste. — Procurei no armário o meu embrulho com fitinhas e corações. Chuck pareceu surpreso quando entreguei o presente. 

— Não precisava se incomodar, Blair. — Agora ele tinha um sorriso de verdade no rosto, parecia uma criança na manhã de natal. Soltou a sacola de lixo e foi se sentar no sofá com o embrulho nas mãos, o acompanhei. Quando ele terminou de se livrar das fitas e do pacote, pareceu contente ao ver um porta-retrato com a nossa primeira foto, tirada por um paparazzi. Foi quando Chuck me pegou desprevenida, o dia do nosso primeiro beijo. Aquela foto tinha bastante significado para mim.

  O outro presente era um CD que eu mesma havia personalizado, a capa tinha uma foto nossa no dia em que fomos à boate com Serena, nossos sorrisos não podiam ser encenação, não era coisa da minha cabeça. 

— As faixas eu também selecionei pelo computador, são algumas canções que me fazem lembrar de você. — Falei, usando minha coragem. Estava desnudando meus sentimentos ali, e admito que ensaiei o que dizer o dia inteiro. — Sei que seria mais prático montar uma playlist no spotify, mas o ato de reunir num cd me chamou mais atenção. 

—  Perfeito, eu amei. Vou ouvir assim que chegar no carro. — Chuck sorria de canto a canto, e aquilo estava me tirando o ar. Era injusto o homem ser tão bonito. 

   O último presente era um chaveiro com vários pingentes, Chuck tinha uma expressão confusa, o que me arrancou um sorriso. 

— Me dê. — Peguei o chaveiro da sua mão e segurei o primeiro pingente. — Representa o primeiro hambúrguer que comemos juntos, lembra? Comida para um batalhão, Chuck. — Ele deu uma risada, eu também sorria igual uma idiota. — O segundo pingente é uma câmera fotográfica, que representa seus fiéis amigos paparazzi. — ele me observava, seus olhos estavam mais intensos, as risadas haviam cessado. — O terceiro é um pingente que peguei no Empire Hotel, por isso as iniciais EH. — Fiz uma pausa para tentar lembrar o que havia planejado falar, sem sucesso. —  O quarto é o ícone do instagram, relembrando aquela vez que te acertei no rosto e tive que ir pedir desculpas... O último é uma casa, simboliza o meu apartamento. O que você fez, foi tudo para mim naquele momento, eu estava apavorada, morrendo de medo de ficar sem um lar. O que recebi foi além de dinheiro para quitar minhas dívidas, mas uma pessoa para me mostrar que eu não precisava resolver tudo sozinha. Obrigada Chuck, por ter sido meu refúgio no pior momento. — Estava com vontade de desabar em lágrimas, mas consegui segurar, apesar dos olhos brilhando. 

  Chuck tinha os olhos fixos nos meus, não sei em qual momento nossos dedos se entrelaçaram, mas não me importava. Ele se aproximou até ter a testa encostada na minha, nossas respirações se misturaram. 

— Nunca conheci alguém como você, Blair. — Chuck sussurrou. — Eu nunca vou conseguir agradecer, por tudo. — Se afastou, já estava de pé juntando os presentes de volta no embrulho. Quando a porta da frente bateu, deixando apenas um silêncio doloroso, percebi que meus dias com Chuck haviam chegado ao fim. Me permiti chorar. 

A PropostaWhere stories live. Discover now