A Proposta

Chuck

   Blair era a mulher mais complicada que eu já havia conhecido, talvez por nunca ter feito esforço de entender nenhuma antes. Como a garota pareceu tão desesperada por mim numa noite, e depois me descartou como se não tivesse significado nada? Estava tentando não ser maricas, mas aquela madrugada mexeu comigo, ela era boa pra caralho. Era evidente que as coisas entre nós tinham evoluído, mas esta manhã havia deixado evidente a necessidade de reerguer alguns limites. 

— Ela simplesmente te mandou embora, irmão? — Nate perguntou, estávamos sentados no bar do Empire Hotel. Eu estava me queixando da situação que acabara de acontecer. 

— Não tem como entender, mas ultrapassamos o nosso combinado. Não deveria ter acontecido, mas não consigo me sentir arrependido. — Tomei outro gole de vinho, a substância leve estava me ajudando a esvair da raiva. — Sério Nate, eu pretendo dar fim nessa encenação toda, tenho uma reunião amanhã, provavelmente com o veredito final. — Fugir era mesmo a opção mais madura do que resolver as coisas. 

— Você tá com as bolas presas, Bass. — Nate tinha um riso debochado no rosto. — E está inconformado porque a garota te mandou embora, mas ninguém mandou você ter sido um asno ciumento. — Ele tamborilava os dedos na mesa, reafirmando sua postura agitada.

— Eu não estou com nada preso, só quero limpar minha reputação. — Cruzei os braços, na defensiva. — Ciúmes? Ela estava claramente desconfortável com aquele insistente na porta, eu tentei facilitar as coisas.

— E tem certeza que não piorou a situação?

— Foda-se, Archibald. — Ele deu uma risadinha vitoriosa. Foda-se, eu não era obrigado a ficar quieto enquanto um cara dava em cima da minha suposta namorada. Ok, marcar território talvez tenha sido idiota, mas não era motivo para me mandar embora.

— Não vou insistir, se você tem tanta certeza que está certo... — Não, eu não tinha. — Já que está praticamente de volta à vida de solteiro, o que pretende fazer para comemorar o aniversário? — Ah, meu aniversário seria no dia seguinte, na segunda-feira. Nate e eu tínhamos o costume de comemorar em boates, mas minha vontade de festejar era inexistente. Blair realmente havia ferrado meu humor. 

— Não sei, qualquer merda que não precise de muito tempo. — Soltei áspero, o que fez meu amigo dar risada. Esse cara está sempre bobo alegre?

   Mais de 24 horas sem qualquer sinal da Blair. Meu dia havia sido cansativo, uma viagem de curta de três horas para uma reunião com os produtores do filme e minha equipe. Era para eu me sentir contente por ter conseguido o papel principal no filme do meu ídolo desde moleque, mas não estava. Era dia do meu aniversário, ela simplesmente não tinha mandado sequer uma mensagem de texto. Eu sei que nunca comentei sobre meu aniversário estar perto, mas a internet toda estava me parabenizando, não era tão difícil descobrir.

  Além disso, eu precisaria me mudar para Los Angeles  na próxima semana, as gravações do filme começariam. Consequentemente, meu relacionamento precisava terminar. Os produtores estavam contentes pelo meu esforço, disseram que provei levar a sério esse compromisso, me aconselharam a terminar tudo com uma declaração em qualquer rede social. 

"Chuck, preciso que venha ao meu apartamento. É urgente!" Blair 7:00 pm.

  A mensagem no meu celular chegou assim que coloquei minha pequena mala em cima da cama do Hotel, seriam meus últimos dias naquele lugar que me recebeu tão bem. Apesar do cansaço e da mágoa, a preocupação tomou o protagonismo. Antes que pudesse pensar, estava buscando pela chave do carro e andando em direção à porta. 

"Estou a caminho. O que aconteceu?" Chuck 7:05 pm.

"Eu preciso de ajuda, tem que ser agora." Blair 7:05 pm.

  Por um milagre, o trânsito não estava parado e consegui chegar na metade do tempo normal. Subi os degraus de dois em dois, estava com medo de algo ruim ter acontecido. Durante o trajeto, minha cabeça só pensava no pior. Blair era muito sozinha, a probabilidade de ter se machucado e ficado sem alguém para levá-la ao hospital era angustiante demais. Meu coração estava realmente acelerado quando toquei a maçaneta.

— Surpresa! — Ouvi a familiar voz que me tirava do sério. Blair estava com um chapéu de aniversário na cabeça, notei uma pequena mancha de pó branco na sua bochecha, ela parecia um pouco insegura. Seu apartamento tinha vários balões com meu nome, todos espalhados por lugares da sala. Uma mesa decorada com enfeites vermelhos e um solitário bolo de chocolate com brigadeiro, parecia delicioso. A faixa enorme com felicitações também chamou minha atenção. 

— Opa, surpresa! — Ouvi a voz de Nate atrás de mim. Ele e Serena estavam com sacolas nas mãos, e sorrisos bastante suspeitos. — Desculpa irmão, mas não imaginávamos que chegaria tão depressa. — Ele me abraçou enquanto entrávamos, Serena ficou me observando com uma expressão pensativa, seu olhar revesava entre Blair e eu. 

— Feliz aniversário, Chuck. — Finalmente a loira deu o braço a torcer e me abraçou, aproveitou para me apertar mais que o necessário. Ela fazia isso para me irritar desde que éramos mais jovens. 

— Hum.. Obrigado. — Coloquei as mãos nos bolsos da calça enquanto me aproximava mais da decoração da festa surpresa. — Está tudo lindo pra caramba. — Tentei não manter contato visual com a mulher linda pra caralho que permanecia me observando. 

— Está realmente incrível, a Blair ficou o dia inteiro preparando as coisas. — Serena respondeu, ela tinha um sorriso enorme no rosto. — Nate estava trabalhando, eu também, por isso nos atrasamos. Desculpe B, prometo que ajudo a limpar tudo. — Então Blair não havia falado comigo o dia todo por isso, ela estava fazendo tudo... pra mim.

— Obrigado Blair, você acertou como sempre. — Falei, finalmente fazendo contato visual, recebi um sorriso contido. 

— Fico feliz que tenha gostado, mas não elogie demais, o bolo talvez não tenha ficado tão bom. Eu tentei comprar, mas hum.. ocorreram uns imprevistos. — Ah, então era por isso que ela estava com aquela mancha na bochecha. Minha vontade era de me aproximar para limpar, resolvi lembrar dos limites. — Feliz aniversário, desculpe não ter ligado antes. — Ela estava adorável com aquele chapéu pontudo e as orelhas de fora. Senti o peito apertar por ter que me despedir em breve.

— Não precisa se desculpar por nada. Ninguém nunca fez algo assim por mim no meu aniversário, eu realmente só posso agradecer. — As palavras saíam antes que pudesse filtrar, mas o sorriso que recebi esvaziou qualquer receio de estar falando demais. 

— E aquela vez que eu comprei um peixe pra você? — Nate falou, me fazendo sair do meu transe com a Blair.

— Aquele peixe era seu, você me deu porque não tinha tempo para cuidar. — Respondi, meu amigo deu de ombros, sem parecer afetado. 

— Mas foi romântico, Bass. Você precisa reconhecer. — Aquilo me fez rir. Quando Serena retornou servindo copos de bebida, conversas aleatórias tomaram o ambiente. 

   Por incrível que pareça, não ficou um climão estranho em nenhum momento. Foi o aniversário mais divertido que conseguia me lembrar, já que estava bêbado demais nos anteriores para me recordar de qualquer coisa. Estava claro o quanto Blair era especial para os meus amigos, já que a interação entre eles fluía tão bem. 

— Chuck, você conseguiu o papel? — A pergunta de Blair fez minha risada congelar, acabei até esquecendo o que Nate estava falando. Quando voltei o olhar na direção da garota, ela tinha o celular aberto em algum site de notícias. Sua expressão não era de felicidade, notei que ela apertava o copo que estava na outra mão. 

— Hum.. Sim, eu consegui. — Nate e Serena me parabenizaram com animação, alheios ao olhar caído de Blair. — Semana que vem eu preciso ir para Los Angeles. — Terminei, tentando não parecer afetado. 

— Parabéns. — Blair falou baixo, com um sorriso forçado no rosto. 

Droga.