Blair

422 76 321
                                    

 Três dias. Era esse o prazo que me restava, acho que é melhor começar a usar o tempo esgotando para achar algum quartinho num subúrbio, qualquer coisa é melhor que morar nas calçadas de Nova York. Pra completar, eu estava responsável pelo café no Empire Hotel, então meus turnos estavam começando mais cedo. 

— Bom dia, Dan. — Eu sorri pro meu parceiro, ele estava levando duas travessas para a mesa com alguns tipos diferentes de pães. 

— E aí Blair, você tá melhor? Tem andado um pouco aérea essa semana. — Tenho a sensação de que Dan está sempre de bom humor, ou é muito bom em ignorar as situações difíceis da vida. De qualquer forma, ter uma pessoa assim é reconfortante. 

— Tenho sido uma péssima companhia, um porre, né? Me desculpa.. — Estava me encaminhando para atrás da bancada, eu ficaria responsável por servir café. Dei uma olhada rápida num espelho na parede, as pontas do meu cabelo estavam enroladas, meu batom era um tom de rosa claro. A boa aparência também era importante e pré-requisito, felizmente estava me sentindo bonita hoje. 

—Tudo bem, eu entendo que algo está acontecendo com você. Mas você sabe que pode contar com a minha ajuda, certo? Te considero uma pessoa boa demais pra ficar chateada pelos cantos. — Deu uma piscadela e foi conferir alguns hóspedes, se estavam precisando de algo. Dan é um cara raro, e era bom ter alguém pra contar. Ainda assim, sempre fui eu por mim, não tenho o hábito de pedir socorro. Vou esperar minhas opções se esgotarem. 

— Um café, por favor. — Essa voz... Foquei minha atenção no homem que se sentava numa área de cadeiras isolada à frente da bancada, Chuck Bass também era de tirar o fôlego ao amanhecer. Não quero tietar o cara e não tenho interesse romântico, mas sejam compreensivos, ele é um cara muito gato e eu não sabia que estava hospedado no Empire Hotel, fui pega desprevenida. 

— Um minuto, por favor. — O rosto focado no telefone, provavelmente não se lembrava de mim, ou não prestou muita atenção quando sentou. Vários hóspedes não eram de conversar, mas não pareceu que ele era uma pessoa muito fechada. 

— Que droga.. — ele estava resmungando alguma coisa que não prestei atenção. Coloquei o café que tinha acabado de ficar pronto numa xícara e servi.

—  O senhor quer algo para comer? — Levei o açúcar e o adoçante. Finalmente ele levantou a cabeça, tinha uma ruga entre as sobrancelhas. Alguém acordou irritado, pelo visto. 

— Eu te conheço de algum lugar. — Dos seus sonhos. Óbvio que não falaria isso, não parecia o momento para fazer gracinhas, e eu nem conheço esse cara. 

— Não tenho certeza. — Sorri para outro hóspede que se acomodou numa cadeira próxima, este era mais simpático. Me encarreguei de servir o café enquanto tentava ignorar a presença da estrelinha ali.

— Eu não me esqueceria desse sorriso. — Ah fala sério, aguentar essa idiotice não estava no meu contrato de trabalho. Espero que o outro hóspede não tenha escutado. O cara é prepotente, não tinha sequer dado bom dia, agora tá bancando o galanteador. Me esforcei para não revirar os olhos. 

— O senhor precisa de mais alguma coisa? O café está bom? —Preciso ser profissional e desviar o assunto desse caminho ridículo que Chuck Bass está tentando traçar. 

— Ah, eu preciso de mais alguma coisa, com certeza. Preciso me lembrar de onde eu te conheço. — Meus olhos reviraram antes de conseguir controlar. No mesmo momento, Chuck arqueou uma das sobrancelhas. — A contratação daqui realmente está menos rigorosa, é a segunda funcionária que não faz questão de ser agradável... — Ele juntou as sobrancelhas novamente e em seguida, a expressão se ilumina. — Você estava no último andar aquele dia!

— Sim, senhor Bass. Achou que eu estava de uniforme por qual motivo? — Que retardado, ele tem alzheimer ou o que? 

— Perdoe minha memória, naquele dia eu exagerei na bebida. — O outro hóspede se despediu assim que terminou o café, limpei a sujeira deixada. Eu realmente não estava afim de bater papo com esse cara esquisito. A prova viva de que beleza não é tudo.

— Tudo bem, não se preocupe. 

— E eu posso saber o seu nome? — O celular estava apitando, mas foi ignorado. Espero que ele não esteja achando que serei mais uma das mulheres que ele conquista. 

— Eu... — neste momento, um cara loiro chegou por trás do Chuck e deu um tapinha nas costas. Era Nate Archibald, esses caras são mais bonitos pessoalmente. Eu realmente acho as músicas dele incríveis, portanto, preciso controlar e fingir costume. Aproveitei pra ir conferir o café. 

— E aí, Bass. Não lembro da última vez que te vi sorrindo pela manhã. — ele usava jeans e uma camisa de alguma banda de rock, o oposto de Chuck que usava roupa social. Ambos pareciam prontos para uma sessão de fotos. — Bom dia, querida. — sorriu para mim, retribuí. — Pode me servir um café, por favor? — Educação, aprenda Bass.

— Oi, Nate. E eu não lembro da última vez que te vi acordado de manhã. — Deixei de ouvir a conversa dos dois e terminei de preparar o café. 

— Aqui está, senhor Archibald. Quer algo para comer? — Estas perguntas já eram mecânicas, eu só queria que eles terminassem o café e parar de me sentir desconfortável. 

— Muito obrigado, querida. Posso saber seu nome? — Qual o problema desses caras e a fixação por nomes? Como se fossem se lembrar...

— Me chamo Blair. 

— Prazer em te conhecer Blair, eu sou o Nate, obrigado pelo café. E não, não estou com fome. — O sorriso nunca abandonava o rosto, os olhos azuis eram suaves, Chuck tinha um olhar mais intenso.  As mulheres provavelmente caíam aos pés de Nate, fiquei contente por ele não ser mais um cantor rude. 

— Hm.. Prazer senhor Archibald. Se precisar de algo, é só me dizer. — dei outro sorriso e me locomovi até outros hóspedes se aproximando na outra ponta da bancada.

— Eu só recebo revirada de olhos, você recebe sorrisos. —  Ouvi Chuck resmungar e acabei tendo que segurar o riso. 

— Eu posso te ensinar a conquistar mulheres, Bass. — Nate tirou sarro. Ele está achando que me conquistou? Outro retardado então. 

— Não sabia que estava tentando conquistar a garota. — Machos idiotas, acham que sou surda ou o que? Não tenho o cérebro de um primata também.

— Eu não estou, o nome disso é educação, sobrancelhudo. — Eu ri enquanto servia café. Pela visão periférica, percebi que Chuck estava me encarando. Droga, não tenho culpa se foi engraçado. 

— Blair. — Chuck me chamou, espero que ele não brigue comigo por ter rido. — Eu tenho alguns compromissos hoje, mas espere por mim mais tarde — Esse cara não pode ser legal das ideias. O que tem mais tarde?

   Chuck não me deu nem a oportunidade de responder, já estava seguindo o trajeto para a porta. Quando olhei para Nate com olhar interrogativo, ele deu de ombros. 

— Não olhe para mim. Mas pelo que eu sei, ele está com aquele olhar de determinação. Esse cara quando mete algo na cabeça, não há quem tire. Boa sorte, B. — B? Nate deu uma piscadela e se retirou também. Eu estou bem confusa, mas de qualquer forma, Chuck vai sofrer o alzheimer novamente e esquecer esta manhã. 

A PropostaWhere stories live. Discover now