Terceiro

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Mark esfregou os olhos, que já lhe doíam. Eram oito da manhã e o pouco sol que entrava pela janela fizera desaparecer o restante de sono que ainda sentia. Passara a noite em branco, a pensar nas poucas informações que havia descoberto. Quando chegara a casa, sentara-se no sofá agarrado ao seu portátil, tentando encontrar mais informações sobre a cidade natal dos pais, mas qual foi o seu espanto quando não conseguiu encontrar nada.

Southward parecia não existir. Não encontrou nenhuma referência no Reino Unido ou no mundo inteiro. Parecia que alguém inventara uma cidade só para esconder o verdadeiro paradeiro. Portanto, descartou por completo essa informação. A única pista real que tinha era a agência de adoção em Edimburgo, mas após algumas pesquisas descobriu que eles não forneciam informações sobre os pais biológicos sem o consentimento dos mesmos.

Olhou para o casaco que havia deixado caído numa cadeira. A sua única saída podia estar dentro de um volumoso envelope, escondido no seu bolso. Mas usá-la significaria entrar num novo nível na sua vida, quase já ultrapassada, de criminoso. Apesar de ter feito algumas coisas na vida que muita gente consideraria crime, ele nunca se considerara como um verdadeiro criminoso.

Mark tinha quinze anos quando assaltou uma casa pela primeira vez, influenciado por um grupo de rapazes que queria impressionar. Afinal, no secundário, o estatuto era tudo. Ou assim o pensava ele. Era uma casa pertencente a um advogado, famoso nos últimos tempos por ter dado um enorme desfalque numa empresa de construção. Como este e a família tinham saído da cidade durante uns tempos para fugir do escândalo, os seus "amigos" convenceram Mark a fazerem um assalto ao corrupto.

Contudo, o grupo de Mark não era exatamente composto por adolescentes vindos da pobreza. Alguns tinham pais igualmente indiciados por corrupção. Eles não faziam aqueles assaltos para roubar. Era só pela adrenalina de fazer algo fora da lei e tentarem promover algum tipo de justiça, mesmo que retorcida.

Mark tinha algum jeito para a informática, o que favoreceu a sua entrada naquele grupo. Muitas vezes já tinha contornado o sistema de segurança dos seus pais para poder sair às escondidas no meio da noite e muita gente da sua escola sabia disso. Foi essa a principal razão porque foi escolhido: porque o sistema de alarmes na casa do advogado corrupto era igual ao dos seus pais.

Quando chegou o dia D, tudo correu melhor do que esperavam e talvez tenha sido esse o ponto de partida para que decidissem a continuar a fazer o mesmo durante muitos anos, pelos menos até serem apanhados. Contudo, como tinham pais ricos e influentes, nem isso os parou. Com latas de tinta, grafitaram tudo o que podiam. Depois disso, tiveram uma pequena festa, ou seja, comeram e beberam tudo o que conseguiram. Só não convidaram mais pessoas porque um membro do grupo acho que era arriscado.

Até ao final do secundário, Mark foi apanhado seis vezes, mas perdeu a conta às casas que assaltou. Quando chegou a altura da faculdade, encontraram forma de entrarem todos para a mesma. Com o grupo todo junto e mais alguns membros, continuaram a fazer aqueles assaltos, mas mais perigosos. Um dos novos membros do grupo tinha mais experiência naquele tipo de atos e ensinou Mark a contornar muitos outros sistemas de segurança.

Passaram a fazer assaltos menos frequentemente, mas mais arriscados e muito melhor planeados. Não se limitavam a entrar nas casas de quem era acusado de crimes contra o povo, mas também os considerados apenas suspeitos. Muitas vezes encontraram provas irrefutáveis de que eles eram culpados e, após anonimamente as entregarem à polícia, os suspeitos eram presos e condenados. De vez em quando o grupo de Mark era apanhado, mas não ficava preso durante muito tempo. O máximo que Mark ficou na cadeia foram doze horas.

Tudo chegou a um fim quando Mark tinha vinte e três anos. Mais especificamente, há quatro anos atrás. Parecia um assalto como qualquer outro: ninguém em casa, um banqueiro indiciado por corrupção. O plano era fazerem uns grafitis, se divertirem um pouco dentro do casarão e depois iam embora. Mas as coisas não correram como o desejado.

Barbastella - A Origem [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora