Epílogo

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Algures nas margens do Gargantula, Escócia – Abril de 2020

O vento soprava suavemente, trazendo com ele o ar da primavera. Erva verde crescia descontroladamente por todo o lado e a folhagem das arvores criava uma copa fechada que apenas em alguns pontos deixava a luz do sol chegar ao chão. Nesses locais, a erva era mais alta e acompanhada de algumas flores amarelas. Caminhando por cimas destas sem descrição, um jovem casal avançava de forma pesarosa carregando pesadas mochilas às costas.

- Eu avisei que não era boa ideia desviar-nos do caminho – queixou-se uma mulher que não parecia ter mais de vinte anos. Atrás dela, a namorada suspirou.

- Qual é o problema? Não é como se a floresta fosse eterna, daqui a pouco vamos encontrar uma aldeia – lembrou, franzindo o sobrolho quando reparou que a namorada acabara de pisar, sem perceber, uma bonita flor.

A primeira mulher parou, tirando com dificuldade a mochila das costas e deixando-a cair no chão. Rodou os ombros, sentindo os músculos tensos e depois encostou-se precariamente ao rugoso tronco de um pinheiro.

- Estou tão cansada. Os meus pés doem – queixou-se, tentando não sucumbir à vontade de se descalçar – Nunca pensei dizer isto com um calçado que não fosse de salto alto.

A outra deixou escapar uma gargalhada, pousando também a mochila no chão.

- És mesmo uma menina da cidade, Cameron – comentou, apoiando as mãos na cintura e respirando fundo. O ar ali era tão puro! E tinha a certeza que conseguia ouvir água a correr – Querer tentar encontrar o rio? Pode ser que dê para nadar...

- Em Abril? – exclamou Cameron, em choque, colocando uma mão no peito de forma dramática – Estás louca, Davina?

- Bom, eu vou pelo menos molhar um pé – declarou Davina, afastando-se de seguida, não se preocupando em levar a mochila.

Cameron resmungou em voz baixa e procurou por algo nos bolsos. Pegou no telemóvel de última geração e suspirou quando percebeu que este não tinha nem um traço de rede. Voltou a guardá-lo, daquela vez na sua mochila. O que uma pessoa fazia por amor...

Desencostou-se da arvore e olhou a folhagem densa acima de si. Nem podiam se guiar pela luz do sol! Não era como se ela soubesse fazer isso, mas mesmo que o quisesse fazer, não conseguia. Começou a caminhar no mesmo lugar, resmungando para si, fazendo sem perceber uma marca em forma do sinal infinito na erva. Poucos minutos depois, um grito interrompeu os seus pensamentos.

- Davina? – chamou Cameron, parando repentinamente. Não ouviu qualquer resposta ao seu chamado.

Olhou em volta rapidamente e pegou do chão um ramo de arvore caído, com algumas folhas verdes agarradas. Segurou-o como se fosse uma arma e caminhou na direção do grito, pronta a enfrentar qualquer coisa que aparecesse na sua frente. Desde que não fosse um urso... Havia ursos na Escócia? Não queria ser o novo Leonardo DiCaprio...

Após avançar alguns metros, começou a ouvir o som da água que Davina mencionara. Ela sempre ouvira melhor que Cameron. Mais à frente começou a notar por entre as árvores uma escarpa rochosa muito branca.

- Davina! – chamou mais uma vez, elevando a voz o mais que conseguia.

- Cameron, cuidado!

Cameron parou ao ouvir a voz da namorada. Olhou para baixo e percebeu que se encontrava na beira de uma descida íngreme. No seu fundo, próxima do rio, estava Davina caída. A corrente era tão rápida que Cameron acreditava que mesmo colocando só um pé na água, alguém podia ser arrastado.

Sem pensar muito mais, apoiou o ramo no chão, tentando descer da forma mais segura possível, mas quando estava apenas a dois metros do fundo, escorregou numa pedra. Soltou um grito assustado e caiu de costas, sendo arrastada pela terra, parando pouco depois perto de Davina. Sentindo o coração com as batidas a mil, levantou-se, ficando sentada, e sacudiu a roupas.

Barbastella - A Origem [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora