Trigésimo Segundo

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Aviso: Este capítulo pode ter conteúdo sensível.

A leve claridade da noite desapareceu enquanto nuvens escuras surgiram no horizonte. Por volta das cinco da tarde começou a cair neve pesada, que logo formou um manto que cobriu a terra. Um forte vento começou a soprar, tudo indicando que aquela noite seria tempestuosa. O frio não o incomodou ao princípio. Estava consciente de que este existia, mas não o estava a incomodar, sendo até um pouco relaxante. Foi apenas quando um ramo de uma árvore perto de si e se partiu, deixando cair em cima dele um pedaço de neve, que Mark acordou.

Tentou abrir os olhos, mas nada viu. Quando abriu a boca para respirar engoliu por engano algo gélido. Sentou-se repentinamente, percebendo que estivera coberto de neve. Rapidamente foi atingido por uma rajada de vento que o desconcertou. Olhou em volta, percebendo que não estava no seu quarto, mas sim rodeado de árvores e o que parecia ser uma tempestade de neve. Quão grande fora a sua ressaca? Levantou-se, sacudindo a neve de cima de si e acabando de tossir aquela que engolira por engano.

Encostou-se à árvore perto de si, na qual o ramo partido balançava precariamente, ameaçando cair. Onde estaria? Richard estaria com ele? Decidiu caminhar um pouco, analisando para o ambiente que o rodeava. Apenas árvores e mais árvores, que faziam tudo parecer igual. Porque não estava em casa? Parou, refazendo os seus passos. Encontrara-se com Richard no NewScot para beber, tinham caminhado na floresta, encontrado a casa abandonada... E depois de tentar abrir uma porta fechada à chave... fizera o quê? Não se lembrava de mais nada.

Voltou para o local onde acordara, percebendo que começava a ser coberto de neve, como se nunca tivesse lá estado. Será que Richard se encontrava como ele, desmaiado debaixo da neve? Testou a voz, tentando chamar pelo irmão. De início, esta saiu um pouco rouca, como se a não usasse há algum tempo. Depois conseguiu aclará-la, chamando por Richard enquanto escavava com os pés onde a neve parecia formar montes um pouco irregulares.

Desistiu após alguns minutos. Ou Richard não se encontrava naquele lugar ou estava já tão coberto pela neve que Mark precisaria de ajuda para o encontrar. Olhou em volta, procurando por um ponto de referência para se onde pudesse dirigir, mas tudo parecia igual. Começou a caminhar sem rumo, sem saber para onde ir, pensando apenas em encontrar auxílio.

Esfregou os braços, num gesto involuntário, por causa do frio extremo. Nesse momento, olhou para as mangas da sua camisola e, com espanto, percebeu que estavam rasgadas em várias áreas. O seu casaco estava desaparecido, tendo-o provavelmente perdido. Ao olhar para os pés, percebeu também que estava descalço. O que acontecera? Parecia que andara à luta com um urso, mas não tinha nenhum ferimento.

O vento começava a aumentar e com ele o frio. Apesar de estar gelado, Mark não sentia tanto frio como achava que seria suposto sentir no meio de um nevão. Provavelmente estava em estado de choque, quase hipotérmico. O que significava que poderia desmaiar a qualquer momento. Cada vez mais crescia a importância de procurar um refúgio. Se caísse ali, ninguém o encontraria até de manhã.

Enquanto caminhava, pareceu-lhe ouvir algumas vezes vozes à distância. Era vozes que chegavam e desapareciam com o vento. Apesar da falta de visibilidade, Mark conseguia distinguir as formas no seu caminho, mesmo desbotadas. Afinal, o que era a cor a não ser o reflexo da luz?

Momentos depois, Mark julgou ouvir uma voz a chamá-lo.

- Pssst!

Com certeza a sua mente estava a pregar-lhe partidas. Quem andaria no meio daquela tempestade? A não ser ele, claro, embora não percebesse porque estava ali. Pisou sem querer num galho caído de uma arvore, partindo-o. O som sobressaltou-o e, juntamente com a estranha voz que antes ouvira, contribuiu para uma aura de filme de terror que o começava a assustar.

Barbastella - A Origem [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora