Edimburgo, Escócia – Novembro de 2019
Mark saiu para a rua, observado o tempo enevoado. Eram três da tarde e o sol parecia prestes a se pôr. Pelo que pudera perceber pelas poucas horas que estivera em Edimburgo, os dias eram sempre assim naquela altura do ano. Tal como aquele frio meio húmido que entrava pelo casaco dentro. Fez a primeira resolução do dia: comprar um guarda chuva.
A agência de adoção ficava perto do local onde Mark se hospedara e estava a ganhar coragem para se dirigir até onde fora adotado há tantos anos trás. Na sua cabeça surgiram vários cenários, mas o pior de todos era ter tido todo o trabalho de viajar até Edimburgo, mais de doze horas de viagem, e não descobrir nada. Além de se ter chateado com o melhor amigo... Assim que chegara, no dia anterior, enviara uma mensagem de voz para Wally, mas este ainda não respondera. Não ia mentir, estava preocupado.
Após comprar um chapéu de chuva numa pequena loja local, dirigiu-se com um nó na garganta para a agência de adoção. Mal entrou no edifício, viu a rececionista a falar ao telemóvel por trás de um balcão de atendimento. Esta, mal o viu, lançou-lhe um sorriso. Era uma senhora no final dos seus cinquentas, de cabelo preto pincelado com alguns brancos. Apesar de ter o dobro da sua idade, não deixou de mandar vários piropos a Mark.
- Gracie, desculpa, tenho aqui um belo jovem de olhos cinzentos na receção, vou ter de desligar – disse ela com um forte sotaque escocês, guardando o aparelho e olhando para Mark, pronta para o atender – Então, fofo, está tudo bem?
- Sim, está tudo – respondeu Mark não sabendo que reação ter ao galanteio. Ficou parado uns segundos sem dizer nada.
- Então, querido, o que é que queres? – perguntou a mulher, impaciente – Não vieste até aqui só para ficar especado a olhar para a minha beleza, pois não?
Desta vez, Mark não aguentou e riu-se.
- Não, hum... - começou ele, ainda a se rir. Aproximou-se do balcão – O meu nome é Mark Henderson. Eu fui adotado nesta agência de adoção há vinte e sete anos atrás.
- E deixa-me adivinhar, viste direto dos Estados Unidos só para descobrir quem são os teus pais biológicos – supôs a rececionista.
- Sim, como adivinhou? – perguntou Mark.
- Querido, o teu sotaque americano é inconfundível – esclareceu a rececionista com um sorriso meloso.
- Ah, pois... - gaguejou Mark, constrangido.
- Bom, espero que não tenhas atravessado meio mundo para nada – disse ela, levantando-se, com um papel e caneta na mão - Diz-me o nome dos teus pais adotivos por favor, vou tentar encontrar o ficheiro. Infelizmente, não deve estar no sistema, só começamos a lá colocá-los há quinze anos.
- Helen e Steve Henderson.
A rececionista escreveu os nomes no papel e desapareceu para dentro das instalações. Mark, que não conseguia ficar quieto, foi espreitar atrás do balcão. Nele existia um computador do século passado. Literalmente. Pesquisar os ficheiros nele seria um martírio. Mesmo assim, Mark olhou em volta e, não vendo ninguém, tentou pesquisar o seu nome. Não surgiu nada. Os nomes de Steve e Helen. Nada. Southward. Nada. A mulher dissera a verdade.
Mark encostou-se na cadeira e olhou em volta. Tinha de esperar a volta da rececionista. Olhou novamente para o balcão. Talvez houvesse alguma coisa interessante naqueles papeis todos. Abriu uma das gavetas e logo encontrou um caderno muito interessante que na sua primeira página tinha escrito "Códigos" e em baixo um conjunto de números. Talvez aquilo desse jeito. Pegou no telemóvel e fotografou a página.
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Barbastella - A Origem [COMPLETO]
VampireVencedora do Wattys 2021 na categoria Mistério e Suspense! Numa vila perdida em plena Escócia, o choro de um bebé corta a noite acompanhado pelo terror de uma nova realidade. Décadas passadas, Mark Henderson descobre ser adotado e decide partir em b...