Mark acordou sobressaltado. Olhou em volta, sem ter a certeza de onde estava. Foi nessa altura que os acontecimentos do dia anterior surgiram na sua mente. Sentou-se na cama e esfregou os olhos. O sono desaparecera. Pegou no telemóvel e conferiu as horas. Ainda não eram oito da manhã.
Levantou-se da cama e espreitou pela janela para a rua. Estava um nevoeiro terrível e não havia sinal de que o sol ia nascer em breve. Noutras circunstâncias, era capaz de considerar voltar para a cama e dormir, mas ele já estava completamente acordado. Apesar de não se lembrar, tinha a noção de que sonhara muito durante a noite. Mesmo assim não tinha muito sono, pois a ansiedade que sentia para conhecer os pais era avassaladora. Por isso, antes que Amelia viesse falar com ele, decidiu dar uma volta pela cidade para espairecer, mesmo que ainda fosse de noite.
Vestiu-se e abriu devagar a porta. Apesar de ser cedo, conseguia já ouvir algumas vozes no andar inferior. Saiu do quarto e fechou a porta sem fazer barulho. Como ia dar uma volta rápida pela cidade, levava apenas o telemóvel e as chaves do quarto. Após ir à casa de banho comum, cobriu a cabeça com o capuz do seu casaco e começou a descer as escadas para o andar inferior. Não encontrou ninguém no bar, mas ouviu alguns sons vindos da cave. Ignorou-os e abriu a porta principal, saindo para a rua. O nevoeiro continuava denso, mas, desde o tempo em que se levantara, surgira um lusco-fusco que começava a iluminar Southward.
Já no exterior, Mark decidiu não passear pela praça, mas sim seguir para as traseiras do NewScot pois pareciam existir uns caminhos de terra que para lá se dirigiam. Não precisou de passar muito tempo na rua para o frio do nevoeiro começar a se entranhar na roupa. A indumentária que trouxera não era apropriada para o frio húmido da Escócia.
Pouco se afastara das traseiras da pensão quando começou a ver algo estranho a se desenhar no nevoeiro. Era quase tão alto como Mark e parecia se estender para os lados, paralelamente ao NewScot. Decidiu aproximar-se mais até que descobriu o que era aquela estranha construção: um estranho amontoado de gigantes pedras brancas. Mas não eram bem pedras soltas, era como a encosta de uma montanha rochosa, mas ali, á sua frente, elevando-se no ar.
Mark decidiu trepar para cima das pedras e ver o que estava do outro lado, mas logo teve que recuar. O chão desaparecera ou pelo menos estava tão fundo que o nevoeiro o cobria. Recuou novamente para segurança e pegou numa pequena pedra que atirou para o outro lado. O som da sua chegada nunca regressou. O que chegou foi o som tênue de água. Mark subiu novamente para cima do muro e aguçou a audição, tentando escutar qualquer coisa. Muito levemente e algo longe, conseguiu ouvir o som de água que corria muito rápido algures nas profundezas.
Mark voltou a descer e esfregou os braços, tentando aquecer-se. O nevoeiro começava a desvanecer, mas não o suficiente para que ele conseguisse ver tudo o que o rodeava. Regressou ao caminho de terra e após andar mais uns metros, começou a perceber a forma de uma casa surgindo no nevoeiro. Esta possuía dois andares e apesar de ser de pedra, tinha um ar bastante recente. Provavelmente tinha sido renovada. Aproximou-se dela, mas ninguém estava à vista. Ainda era cedo, talvez os seus moradores estivessem a dormir.
Continuou a caminhar devagar, amaldiçoando-se por não ter trazido os seus headphones que tinham ficado na pensão. Aquele ar enevoado, a meia luz, dava-lhe vontade de ouvir música. Provavelmente também o distrairia do frio. A casa começava novamente a desaparecer no nevoeiro atrás de si, quando o caminho de terra por onde seguia se dividiu em dois. Uma das partes, parecia subir uma pequena encosta. Encolhendo os ombros, cortou à direita, subindo-o. Sabia que por aquele lugar era onde se encontrava o rio, mas o caminho continuava a subir e na sua direção, levando Mark a acreditar que provavelmente levava a uma espécie de miradouro.
Subitamente, começou a perceber que o nevoeiro começava a ficar cada vez mais fino, até que acabou por se desvanecer por completo, mostrando a Mark uma imagem inacreditável do que o rodeava. Aquele era mesmo um miradouro sobre o rio, já que as mesmas pedras que tinha visto antigamente perto da pensão, perpetuavam-se até àquele local. Todavia, eram bem mais baixas, fazendo até que fosse um pouco perigoso aproximar-se da borda.
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Barbastella - A Origem [COMPLETO]
VampireVencedora do Wattys 2021 na categoria Mistério e Suspense! Numa vila perdida em plena Escócia, o choro de um bebé corta a noite acompanhado pelo terror de uma nova realidade. Décadas passadas, Mark Henderson descobre ser adotado e decide partir em b...