.4: Mudanças Drásticas

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O sol surge e vai aos pouco, iluminando a desolada — outrora magnífica — capital do Estado de Finger, Denverport. Agora afundada em destruição, a cidade apresenta milhares de focos de incêndio espalhados por ruas, prédios, estabelecimentos, casas e tudo mais o que for possível para o fogo consumir, já que o corpo de bombeiros está fora de circulação, assim como qualquer outro serviço dentro da metrópole. Em alguns dos edifícios mais altos, pessoas penduraram em suas varandas, lenções brancos com avisos como “socorro”; “nos ajude”; “S.O.S” e qualquer outra mensagem que signifique um pedido de socorro desesperado.

ㅤㅤㅤㅤNo centro de Denverport, o Saint OpenSide, o maior prédio empresarial da cidade, com seus 120 andares, está com o seu térreo rodeado com milhares de mortos-vivos que destruíram as defesas montadas pelo exército e se espalharam pelo interior da monumental construção, obrigando os sobreviventes que conseguiram chegar ao terraço a terem que dormir lá mesmo, com o ar rarefeito e um frio intenso. Mas essa é apenas uma das condições difíceis que aqueles que deram a sorte — ou o azar — de sobreviverem tiveram que enfrentar.

ㅤㅤㅤㅤFato é que Denverport caiu em apenas uma noite. Nem mesmo o exército com o auxílio da Guarda Nacional foi capaz de deter o avanço brutal dos infectados, que agora rodeiam as pequenas zonas sitiadas de bairros e outros centros urbanos, onde centenas de sobreviventes estão sendo mantidos até a chegada de um incerto resgate. Aqueles que não conseguiram ser levados até essas zonas de segurança, estão tendo que se virar como podem. Esse é o caso de Josh Lee Samuels, um homem que até a tarde do dia anterior, era um importante empresário, atuando como CEO de uma seguradora privada, mas que agora não passa de um homem assustado, correndo no meio de um beco com o braço direito pingando sangue e manchando seu terno caro.

ㅤㅤㅤㅤDesesperado e em estado de choque após receber uma mordida violenta que arrancou um pedaço do seu bíceps, ele tropeça em algumas caixas de papelão vazias, caindo no chão molhado e tendo seus ouvidos invadidos pelos sons horríveis dos monstros que o perseguem. Engatinhando até se levantar, Josh sai do beco e é surpreendido por um segundo grupo de mortos-vivos — cerca de dez, ele não consegue ver direito — e quase cai novamente, mas consegue manter o equilíbrio e correr para o meio da pista, sendo perseguido fervorosamente pelos canibais enquanto pede a Deus pela sua vida várias e várias vezes, até que olha para um prédio 20 metros à sua frente e vê lá uma chance de salvação, usando o que lhe resta de energia para alcançar o portão de ferro pintado de branco e começa a tentar forçá-lo, conseguindo abrir pois o sistema do portão eletrônico foi desativado com a queda total de energia.

ㅤㅤㅤㅤAgora dentro do jardim do edifício, ele corre para as portas da entrada e joga seu corpo na madeira, não conseguindo abri-las e vendo que elas estão bloqueadas por algum móvel pesado. Suplicando para que alguém o ajude, Josh sente sua espinha se arrepiar ao ouvir os grunhidos dos andarilhos que entraram pelo portão que ele não trancou e olhando por cima do ombro, vê que o grupo com mais de vinte deles já está cobrindo a distância de seis metros que os separam. Ainda mais desesperado, ele começa a correr pelo jardim, buscando outra forma de entrar no Residencial Lammar.

Millie acorda devagar, mas se levanta rapidamente, querendo que tudo o que aconteceu antes não passasse de um terrível pesadelo, mas isso não acontece e ela vê que está no mesmo quarto de paredes cinzas que Dylan lhe deu para dormir, agora iluminado por uma janela logo acima da cama. Suspirando, ela tenta não pensar em Allen e olha seu pulso, já bem menor do que quando havia ido se deitar. Saindo debaixo das cobertas, ela se senta no colchão de molas e pula algumas vezes, sentindo como é macio e então calça seus tênis, ficando de pé e indo para a frente do espelho preso à porta, se vendo dentro de uma blusa verde que Dylan lhe entregou, sem estampa e cujas mangas passam dos seus cotovelos e a barra vai até a metade das coxas. Amarrando o cabelo, mas puxando uma mecha para cobrir o ferimento em sua testa, ela abre a porta, entrando no corredor parcialmente iluminado e caminha até a sala de estar, vendo o lugar do mesmo jeito de sempre e ao dar a volta no sofá, se depara com Dylan encostado no parapeito da varanda, olhando para baixo.

Sangrentos: Destinos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora