— Dylan!! Socorro!! — o apelo de Millie pode ser ouvido de longe, misteriosamente ecoando no campo aberto. Dylan observa os arredores, reconhecendo aquele lugar como sendo o pátio de trens em Denverport, mas agora completamente destruído após sofrer o bombardeio militar. — Dylan!! — a voz de da menina é carregada de choro.
ㅤㅤㅤㅤO policial começa a correr. Passando em meio às chamas, ele escuta mais gritos de Millie vindos de um prédio cuja cobertura e partes das parede sumiram e grandes chamas sobem aos céus, no que parece ser um caldeirão gigante. Assim que ele dá a volta e chega na frente da enorme oficina, o que ele vê o petrifica.
ㅤㅤㅤㅤ— Dylan... me ajuda... — Millie fala com dificuldade, enquanto é erguida pelo pescoço por um infectado em chamas, trajado com uniformes militares.
ㅤㅤㅤㅤAos pés do morto, Dylan consegue identificar Yumi, ou pelo menos, a metade que sobrou do seu rosto. A asiática está jogada no chão sobre seu próprio sangue, com o lado esquerdo do seu crânio exposto. Seu cérebro escapa por onde devia estar seu olho e além disso, sua jugular foi arrancada e seus órgãos internos estão expostos dentro do dorso brutalmente rasgado. Horrorizado com a cena, ele encara o militar, que agora o fuzila por cima do ombro e abre sua mandíbula:
ㅤㅤㅤㅤ— ... morra... — a fala do monstro é claramente audível. As chamas envolvem o seu rosto necrosado, fazendo pedaços de carne e pele mortas crepitarem enquanto seu olho direito derrete como se fosse a gema mole de um ovo. Sua mão direita aperta o pescoço de Millie, que grita desesperadamente enquanto as chamas alcançam seu cabelo e envolvem sua cabeça.
ㅤㅤㅤㅤ— NÃÃÃOO!! — o policial avança contra o monstro, que com um movimento, quebra o pescoço de Millie e o som se propaga como se fosse um tiro, só que assustadoramente mais alto. Junto com o estrondo, tudo fica escuro e mortalmente silencioso.
ㅤㅤㅤㅤA luminosidade volta aos poucos, mas não completamente. Dylan se vê agora dentro de um quarto com paredes de madeira cujo papel de parede está descascado. O piso de madeira é coberto por uma camada grossa de poeira e cinzas de cigarro. Todo aquele ambiente lhe é horrivelmente familiar.
ㅤㅤㅤㅤ— Não... — ele percebe que sua voz mudou e se assusta ao ver que seus braços estão menores. Ao olhar para a direita, fica de frente para um espelho que lhe revela que ele agora está com seis anos de idade, mas com a sua consciência de adulto. É essa a consciência que o faz temer os passos que se aproximam da porta fechada do cômodo.
ㅤㅤㅤㅤO pequeno fica completamente petrificado. Os passos cessam e é possível ver as sombras de duas pernas por baixo da porta, que emite uma luz vermelha do outro lado. A madeira então começa a ser esmurrada até que a porta é violentamente arrancada das dobradiças e jogada para a frente, batendo no guarda-roupa marrom sem uma das portas. Dylan cai no chão de susto e ao olhar para a entrada, ele vê uma criatura com corpo de humano completamente nu, mas sua cabeça se assemelha a um crânio de animal com uma feição de ódio e um par de chifres pequenos. A boca repleta de dentes afiados se abre e uma fumaça cinza é expelida. O demônio encara Dylan com seus olhos vermelhos incandescentes.
ㅤㅤㅤㅤ— Vem... brincar... com o... pa... pai... — e ele avança a uma velocidade impressionante para cima da criança.
ㅤㅤㅤㅤAcordando abruptamente do pesadelo e sem ar, Dylan leva ambas as mãos até seu pescoço, respirando fundo e sentando no colchonete em que estava dormindo. Ele enche os pulmões de oxigênio, tentando afastar os pensamentos que rondam sua mente nesse momento, se acalmando aos poucos. Dylan passa a destra na testa, desgrudando os fios de cabelo da testa suada e se levanta, olhando por cima do ombro a beliche nos fundos do trailer, onde Yumi está na cama de baixo e Millie na de cima, ambas dormindo profundamente. Controlando suas mãos trêmulas, ele alcança suas botas e se dirige até um do bancos da mesa, onde se senta e começa a calçá-las.
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Sangrentos: Destinos Cruzados
TerrorUma pandemia causa o colapso mundial, tirando de circulação governos, comércios, emissoras de TV e a vida como era conhecida; uma praga que faz os mortos se erguerem para o topo da cadeia alimentar e dominarem o globo, banqueteando-se dos vivos. Na...