.10: Sangrentos

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A desolada metrópole de Denverport foi rapidamente afundada na noite fria e gélida. O único som que pode ser ouvido por toda a cidade são os das centenas de hélices dos helicópteros que sobrevoam o centro da cidade e outros pontos isolados, mantendo milhares de mortos-vivos concentrados nestas áreas enquanto o bombardeio que deve acabar com todos não se inicia. Hora ou outra, tiros são disparados das aeronaves, mas não nos infectados, mas em civis que viam neles uma chance de saírem daquele pesadelo, mas só encontravam um amargo fim nas mãos dos soldados.

ㅤㅤㅤㅤDentro da casa de Yumi, Dylan observa uma vela presa a um pirex na mesa de centro da sala. Todo o cômodo está com a coloração laranja das pequenas chamas espalhadas em móveis e no piso. Usando um casaco marrom que pertencia ao irmão da asiática, ele está sentado em uma poltrona de frente para o sofá onde Millie dorme profundamente, enrolada em dois lençóis. A calmaria é perturbada quando ele escuta passos saindo da cozinha e se vira, vendo Yumi indo ao seu encontro, com duas tigelas pequenas nas mãos.

ㅤㅤㅤㅤ— Espaguete, toma. — a mulher lhe entrega uma das tigelas e se senta na mesa de centro.

ㅤㅤㅤㅤ— Obrigado.

ㅤㅤㅤㅤ— Quando acabarmos, vou precisar da sua ajuda. — ela gira o garfo na massa e o leva à boca.

ㅤㅤㅤㅤ— Pra...? — Dylan não faz contato visual.

ㅤㅤㅤㅤ— Num quarto onde a Rosy... trabalhava. Tem um armário com as armas que eu te disse, lembra? — Yumi observa o policial lhe dirigir um olhar de desconfiança.

ㅤㅤㅤㅤ— E no que ela "trabalhava"?

ㅤㅤㅤㅤ— A Rosy faz ou fazia parte de uma gangue. Você deve conhecer, já que era da polícia. CLD, ou "Comando Libertação de Denverport".

ㅤㅤㅤㅤ— Sei.

ㅤㅤㅤㅤ— Pois é. Pulando todos os detalhes que não importam, ela guardava armas e munição aqui em casa, pro caso de precisar. Também me ensinou a atirar com um rifle que tem lá.

ㅤㅤㅤㅤ— E quais armas têm aqui? — Dylan pergunta após engolir o macarrão.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, não entendo bem de nomes, mas elas as chamava de submetralhadoras.

ㅤㅤㅤㅤ— Certo... — ele olha para a comida. — Como você tá? Depois... daquilo lá.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah — Yumi suspira. —, sabe como é. Pelo menos agora, não adianta pensar muito nessas coisas, agora que outras piores tão acontecendo. Mas pelo menos aquele cara tá morto e nada de mais grave aconteceu.

ㅤㅤㅤㅤ— É, pelo menos.

ㅤㅤㅤㅤOs dois ficam em silêncio e Yumi olha por cima do ombro, vendo Millie deitada em seu sofá, sem fazer nenhum movimento.

ㅤㅤㅤㅤ— Ela é bem avançada, eu diria. A gente conversou um pouco quando você tava resolvendo a parada no shopping. — ela olha para Dylan, ficando em silêncio. — Mas têm horas em que ela parece muito inocente.

ㅤㅤㅤㅤ— Você nem faz ideia... — ele relembra o que conversou com a menor antes de ter seu ferimento tratado. — Ela é uma criança de dez anos num corpo de catorze.

ㅤㅤㅤㅤ— Por que acha isso?

ㅤㅤㅤㅤ— Deu pra ver pelo jeito como ela faz umas e outras coisas.

ㅤㅤㅤㅤ— Hm. Ela parece um pouco com você também, na questão de não falar muito.

ㅤㅤㅤㅤ— Espera ela se acostumar com você.

ㅤㅤㅤㅤ— Não vou achar ruim. Sempre me dei bem com crianças. — Yumi sorri de canto.

ㅤㅤㅤㅤ— Termina aí pra gente ver esse armário. — Dylan põe a tigela vazia ao lado da asiática.
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Com uma lanterna, Dylan ilumina o interior de um pequeno quarto, tornando visível uma cama de solteiro e um guarda-roupa. A mesa da escrivaninha não é totalmente iluminada, mas é notável que a mesma está repleta de vidraças e um pequeno fogão elétrico; aparato que o policial reconhece dos laboratórios de metanfetamina, mas acaba por ignorar a pequena fábrica de drogas e fica ao lado da cama, olhando Yumi encaixar uma das pontas de um pé-de-cabra na fresta do armário de metal do outro lado do dormitório, mas ela tem certa dificuldade para forçar as dobradiças e bufa.

Sangrentos: Destinos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora