.31: Choque de Realidade

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Millie sente a inércia agindo sobre seu corpo no instante em que a caminhonete freia. Seus pulsos estão dormentes, dada a força dos nós sobre os mesmos e ela ainda não enxerga nada. Tudo o que consegue fazer é permanecer imóvel enquanto escuta as portas da caminhonete sendo abertas e botas pisando na neve. A menor se assusta quando sente uma mão a segurando pelo braço.

ㅤㅤㅤㅤ— Venha, Evellyn. — Lúcios a puxa devagar até que ela desça.

ㅤㅤㅤㅤ— O senhor vai querer mais alguma coisa, pai? — pergunta um dos satânicos de cinza.

ㅤㅤㅤㅤ— Nenhuma interrupção e que fiquem aqui vigiando, pro caso de algum canibal aparecer. — o líder dos cultistas pega uma MP5 e também uma pequena cesta que estavam no piso da caminhonete. Em seguida, ele começa a andar até a entrada de um chalé, feito de madeira e paredes de tijolos.

ㅤㅤㅤㅤ— Certo. — seu guarda empunha a CZ BREN 2, se juntando ao seu companheiro, que está armado com uma Remington 870.

ㅤㅤㅤㅤLúcios empurra uma das portas de madeira da construção e adentra o prédio com Millie. Os dois passam pelo hall de entrada do edifício completamente revirado e sujo, e o homem observa o balcão ao fim de um grande tapete marrom, passando direto pelo mesmo e indo para o corredor à esquerda, que leva até as escadas para os andares superiores. Porém, ele também passa por essa parte e caminha mais a dentro no prédio, achando duas grandes portas de vidro e ao empurrar uma delas para a direita, tem acesso a uma ponte de madeira sem corrimãos, que se estende por mais vinte metros até chegar a um píer construído acima do nível do rio que fica nos fundos da pousada.

ㅤㅤㅤㅤ— Por aqui — ele guia a mais nova pela ponte.

ㅤㅤㅤㅤMillie sente uma leve queda na temperatura graças ao vento, e também escuta a correnteza da água conforme se aproxima mais. De repente, a sacola é puxada da sua cabeça e ela fecha os olhos assim que a luz os atinge. Quando suas pupilas se acostumam com a claridade, ela pode ver dezenas de mesas e cadeiras espalhadas pelo píer, algumas viradas e outras ainda arrumadas.

ㅤㅤㅤㅤ— Que lugar é esse? — pergunta a menina, sendo levada até uma das mesas.

ㅤㅤㅤㅤ— Pousada Linbell. Era aqui onde passávamos nossas férias de inverno. Quando não nevava nas viradas de ano, esses céus se coloriam com centenas de fogos de artifício. Eu continuei vindo aqui, mesmo depois dela ter sido tirada de mim. — Lúcios tira o capuz de cima da sua cabeça e sorri, lembrando de momentos passados.

ㅤㅤㅤㅤ— E por que estamos aqui? — Millie olha para as árvores na outra margem do rio, à cerca de quinze metros do píer e depois para o próprio rio, que ainda possui uma correnteza forte o bastante para que a superfície não congele.

ㅤㅤㅤㅤ— Se tem um lugar que a Evellyn jamais esqueceria, é esse. — Lúcios a leva até uma das cadeiras e a senta, puxando sua baioneta reluzente e cortando as cordas que amarravam seus pulsos.

ㅤㅤㅤㅤ— E... qual é o seu plano agora? — a menor massageia seus pulsos.

ㅤㅤㅤㅤ— Vou lhe mostrar algumas coisas que eram da Evellyn antes da sua morte. Isso vai ajudar você a se lembrar e ela a retornar para mim. — o líder dos satânicos puxa uma cadeira e se senta à direita da criança, pondo a cesta na mesa, seguida pela MP5.

ㅤㅤㅤㅤMillie abraça os cotovelos e sente o vento bagunçar seus cabelos. Ela evita fazer contato visual com Lúcios, enquanto consegue sentir sua arma feita de ossos ainda escondida no bolso do moletom logo abaixo do cotovelo. Ela tenta permanecer calma, mas o homem aproxima a mão esquerda do seu rosto, a fim de afastar as mechas loiras. Millie, o impede ao segurar seu braço com as duas mãos e o afasta, mas então Lúcios segura com força a mandíbula da menina, a forçando a encará-lo.

Sangrentos: Destinos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora