Cada dia que passa, o frio em Finger aumenta. O sol já não brilha mais ao amanhecer e as nuvens estão cada vez mais cinzas. Nas ruas da capital, poças de água oriundas dos hidrantes que foram abertos para combater os incêndios do início do colapso já congelaram. Praticamente todas as árvores perderam suas folhas - exceto os pinheiros que eram vendidos para as festas natalinas -, que se misturam com a sujeira da cidade. Os milhares de canibais se mantém rodeando os locais com maior acúmulo de corpos e agora eles são os únicos que ainda comem os restos mortais necrosados, já que os corvos sumiram em decorrência do frio.
ㅤㅤㅤㅤNo terceiro andar do Wall Shopping, a maioria das pessoas já está acordada e fazendo algumas tarefas de limpeza e organização, para passar o tempo. Dentro de uma loja de brinquedos, uma mulher com cerca de cinquenta anos limpa seus óculos no agasalho de algodão, enquanto vigia um total de oito crianças com idades entre três e sete anos, que estão brincando dentro de um cercado.
ㅤㅤㅤㅤOutras crianças mais velhas também estão na loja, mas espalhadas pelos corredores. Uma segunda mulher, mais jovem, está com seus dois filhos - um casal -, os vendo brincarem com uma bola. O menino de cachos pretos executa um chute com toda a sua pouca força e o objeto acaba subindo demais, passando acima da menininha de cabelo liso da mesma cor que seu irmão e olhos azuis como o céu. Ela está com uma chupeta na boca e aparenta ter menos de quatro anos.
ㅤㅤㅤㅤ— Gol!! — O menino vibra após seu feito. — Agora você tem que buscar a bola, Sophia. — ele aponta na direção.
ㅤㅤㅤㅤA pequenina olha para a sua mãe, que sorri para ela:
ㅤㅤㅤㅤ— Vai, filha.
ㅤㅤㅤㅤEla então se vira e começa a dar pequenos passos na direção onde a bola foi. Chupando o bico da chupeta enquanto anda, ela acha a brinquedo entre duas estantes e o pega com as duas mãozinhas. Quando está prestes a se virar, um barulho vindo de uma prateleira caída chama sua atenção. Curiosa, a pequena caminha segurando a bola até o local da bagunça. Ao chegar lá, ela acaba pisando em um mordedor com apito que estava perto de vários que caíram de uma sacola, gerando o barulho que ela escutou. Ao ser pressionado, o mordedor faz um barulho que assusta a criança, fazendo-a recuar alguns passos, soltando a bola, que quica e rola, indo parar na frente da prateleira, que parece estar caída sobre algo. Sophia anda apressada até a bola que parou após encostar no metal da estante e assim que ela pega no objeto, uma mão pálida e suja de sangue surge por baixo da estante, agarrando seu braço esquerdo e a puxando.
ㅤㅤㅤㅤA criança chama desesperadamente por sua mãe, enquanto é puxada pelo canibal.
ㅤㅤㅤㅤ— SOPHIA?! — a mãe da pequena começa a correr na direção dos gritos, que alertaram todas as pessoas do lado de fora da loja de brinquedos.
ㅤㅤㅤㅤO funcionário reanimado puxa a menininha para baixo da estante, deixando apenas suas pernas pra fora. ela grita e chora desesperadamente enquanto o chão começa a ser coberto por sangue.
ㅤㅤㅤㅤ— MEU DEUS, NÃO!!! — a mãe finalmente chega e vê as pernas da sua filha se mexendo sobre o líquido vermelho, ao som dos rosnados do morto-vivo que a atacou. Desesperada, ela agarra sua filha pela cintura e tenta puxá-la com toda a sua força.
ㅤㅤㅤㅤNa entrada da loja de brinquedos, Harry e mais dois homens, todos armados com tacos de beisebol e pedaços de madeira, entram seguindo os gritos e achando a mulher puxando sua filha.
ㅤㅤㅤㅤ— Ajuda ela, rápido!! Você, me ajuda a levantar essa estante! — o cowboy joga o taco e se apressa até a estante.
ㅤㅤㅤㅤ— MINHA FILHA!!! — a mulher se desespera enquanto o jovem que Harry instruiu a ajudá-la puxa a menina.
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Sangrentos: Destinos Cruzados
HorrorUma pandemia causa o colapso mundial, tirando de circulação governos, comércios, emissoras de TV e a vida como era conhecida; uma praga que faz os mortos se erguerem para o topo da cadeia alimentar e dominarem o globo, banqueteando-se dos vivos. Na...