"Que seria das estrelas, se não fosse a noite escura?"
- Dante Alighieri.Uma forte dor irradiava de seu braço conforme ela o puxava para se soltar das pesadas algemas, sua tentativa, inútil, só fez com que o já quebrado osso se partisse em mais um pedaço.
Caida enquanto agonizava nas pedras imundas das masmorras de Lawrence, ela orava para qualquer deus já esquecido que pudesse ouvi-la, pedia que levassem sua alma para a luz, para Ophen, onde pudesse, por fim descansar.
A cada dia que se passava torcia para que seu braço infeccionasse e pudesse finalmente partir. Embora implorasse todos os dias silenciosamente para Hyanth, sua protetora, que a libertasse. Gritava para que Lawrence a tirasse de lá. Mas, naquela pequena e pútrida masmorra, ninguém a ouvia, ninguém iria salva-la.
O frio congelava até o sangue quente que corria em suas veias, e naquele lugar, sua única companhia era a escuridão.
O mundo se acabava lá fora, dia após dia, em guerras que não pôde lutar. Mas ela olhava para o céu e sussurrava seus clamores, e podia jurar que ele a respondia.
Enquanto contava as infinitas estrelas pelo buraco entre as pedras, uma luz amarela, fraca, brilhou do lado de fora da sua cela, se aproximando cada vez mais pelo corredor estreito, e antes que pudesse piscar, ele estava a sua frente.
Seus dedos estavam brancos, quando suas unhas se cravaram na palma das mãos. Gotas de sangue quente pingavam no chão grudento, se misturando ao líquido vermelho já seco, de dias atrás.
Ela cerrou os dentes para impedir que tremessem, embora seu corpo todo parecesse ter entrado em combustão.
Se arrastando para as grades da cela, apertou-as, socou e berrou. Uma dor jamais sentida a congelava, quando Dante caía de joelhos a sua frente.
Sua mente estava vazia, desespero tomou conta de cada pedaço que se quebrava dela. Sua voz falhava, enquanto negava. Não podia estar acontecendo, não podia. Ela se negava a acreditar. Ela estendeu a mão, tentando alcança-lo, talvez pudesse salva-lo.
Sangue já escorria da boca e do nariz de seu companheiro, o sangue do homem que ela amava.
Ele soltou um grito alto de terror e dor enquanto seu corpo todo tremia, o som estremeceu seus ossos, e partiu uma parte de seu coração. Suas veias saltavam e brilhavam em laranja avermelhado. Ela soube naquele momento oque estavam fazendo. Matavam o homem que ela amava com Flants, um veneno que queimava suas vítimas, matando-as de dentro para fora. Eles o matariam queimado, pois sabiam oque corria em suas veias, sabiam sua origem, e a queriam despedaçada, e a única parte que ainda estava intocada de sua alma, morria à sua frente.
As barras de ferro se tornaram laranjas com o calor que saía da palma da sua mão. A dor que irradiava pela sua espinha e se alastrava por todo seu corpo, queimando ossos e tendões, como se cada célula tentasse pular para fora de sua pele, era oque os grilhões de ferro faziam com um hospedeiro de magia, mas ela não ligava, não enquanto seu mundo desabava sobe seus pés.
- Dante!
Seu grito era vazio e desesperado, tão doloroso enquanto se debatia para se soltar. Talvez se o alcançasse a tempo ainda podia salva-lo. Se agarrava a essa esperança, pois não podia perde-lo.
Ela repetiu seu nome como uma oração suplicante, enquanto ele assumia um tom assombroso de cinza esbranquiçado, seus olhos fitavam o além.
- Dante! Dante, por favor! Por favor...
Ela estendia seu braço através das barras que queimavam sua pele, marcando-a para sempre.
Ele caiu em quatro apoios, sobre os braços, com um último puxão do que restava de sua força, ele alcançou sua mão, mas não conseguia se aproximar mais e sua magia não era forte o bastante com todo aquele ferro de Galian.
- Eu amo você.
Ele balbuciou antes de seu corpo se tornasse nada além de cinzas e dolorosas lembranças. Seus olhos ainda estavam vívidos em um último momento de clareza, então ela sussurrou, com a garganta em carne viva.
- Eu sempre vou amar você.
Antes que pudesse ousar respirar mais uma vez, seu corpo queimou, mas ela não o soltou, mesmo quando sua mão virou carvão aceso na dela. Uma onda laranja passou pelo seu cabelo, deixando pó escuro para trás, assim como todo o corpo de seu amado, ela o olhou até que não enxergasse através do embaçado das lágrimas. Até que ele se fosse completamente.
Com tantas coisas que haviam feito a ela durante todos esses anos, olhar para a mancha negra no chão, onde o corpo do seu amado havia estado a quebrou, em tantos pedaços que jamais poderia remenda-lo.
O grito grutual e primitivo que atravessou seu corpo, reverberou nas estruturas das masmorras.
Não conseguia segurar o choro, os gritos e as tremedeiras que a sacudiam, a dor que irrompeu do braço aberto e das queimaduras recentes não a impediu de abraçar as pernas e se encolher, quando odiou aquilo, aquele fogo que queimava em sua alma, o mesmo fogo que matara ele.
Eles haviam conseguido oque mais queriam, ela se afastou das barras quentes, como se a queimasse, não só o corpo, mas a alma.
Em meio às lágrimas olhou para o estreito corredor, por onde ele havia vindo, e ali, uma sombra encapuzada sorriu.
▪▪▪▪
Com um solavanco ela acorda, suor escorre pelo seu corpo, quando lágrimas salgadas e quentes correm por seu rosto. Com as pernas bambas ela correu pelo chão liso do seu aposento até a casa de banho, com a visão escurecendo ela despejou todo seu jantar na privada, bile subia queimando, e lágrimas encheram seus olhos fechados.
Estava tendo pesadelos desde que chegou, eram tão reais, que podia jurar que voltava aquele calabouço, voltava a tê-lo tão perto, sem poder fazer nada.
Depois que finalmente deixou de vomitar, e lavar a boca, caminhou até a pequena varanda. Deixou que o frio a beijasse, soprando sua camisola, quando o relógio soou 4:00 horas da manhã. Olhou para o céu estrelado e sentindo um toque reconfortante, que a acompanhava desde que fora presa naquela masmorra, sentou-se em um pequeno espaço no chão, descansando sua cabeça no parapeito, inspirou o ar gélido da madrugada e contou para as estrelas sua história.
Os capítulos são um pouco grandes, pq não consigo me conter, sorry. Boa leitura e se gostarem, votem, please. 💖
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Trono De Fogo - Fragmentos De Chamas E Agua
FantasyA imortalidade pode ser bela, mas quando se cresce em meio à guerra e presencia mais destruição do que vida, ela se torna um fardo muito grande para se carregar, assim, a priny de Hylos Guinevere viveu durante boa parte da sua vida, vendo os que ama...