Trono De Fogo - Fragmentos De Chamas E Agua

XXIV - Reizy

  Levantou em um solavanco, suava frio, e passou os olhos rapidamente ao seu redor, procurando por algo que não sabia exatamente o que era.

Assim que viu um par de olhos dourados arregalados, não se importou quando aos tropeços desceu do que parecia ser uma cama e abraçou a mulher, tocava seu corpo a procura de cortes, feridas ou queimadura, mas não encontrou nada, ela continuava com os olhos levemente arregalados, quando ela a abraçava em desespero, só um breve contato para provar que estava ali.

Afastando-se ela descansou sua testa na dela.

Tyttar massageava os seus braços e sussurrava que ela estava ali e tudo ficaria bem. Mas tudo tinha sido tão real, ela conseguia sentir o sangue em seu corpo e podia ver o rosto pálido dela, com a vida se esvaindo.

- Rey.
Uma voz grossa e calma a chamou a suas costas, mas ela só conseguia abraçar Tyttar, não queria solta-la com medo que ela se fosse, com medo que fosse só uma ilusão que podia escapar por entre seus dedos.

- Rey.
Belorian a chamou novamente, e com hesitação Tyttar se afastou para que ela pudesse se virar, mas não soltou sua mão.

- O que aconteceu comigo?
Fora a primeira coisa que passou por sua cabeça, olhou em volta enquanto ele respirava fundo, ainda era final de tarde, e pelas ervas, frascos e bandagens concluiu que estava na sala da curandeira Wecsar. Seus pensamentos iam de encontro aquele campo de batalha, aquele homem que não sabia se tinha conseguido salvar.

- Você desmaiou na floresta, Tyttar a trouxe até aqui, onde você começou a delirar. Você chamava por ela e gritava.

A mão se apertou na sua. Quando Belorian tomou fôlego e se levantou da cadeira ao lado da cama onde estava.

- A missão é daqui a poucas horas e creio que não esteja em boas condições para participar dela. Tyttar cuidará de você, não saiam de casa essa noite.

Ele começava a andar para fora da enfermaria. Assim que passou pela porta ela soltou a mão da mulher e correu atrás dele puxando seu braço para que ele parasse, olhando em seus olhos ela esbravejou.

- Você não pode me tirar da missão assim!
Ele se fechou completamente, frio como uma pedra ele disse.

-Posso e vou. Você não vai.
Ele se virou para continuar sua caminhada mas ela o puxou novamente, ganhando um bufar e um olhar irritado.

- Eu treinei todos esses meses para isso, você não pode me tirar só porque eu desmaiei por alguns minutos, eu estou bem Belorian, posso provar peça para eu fazer qualquer coisa que eu faço. Mas não me tire da missão. Você sabe que eu preciso disso tanto quanto você. Belorian, eu sou sua melhor aprendiz, eu fui a primeira em todas as lições, você vai precisar de mim lá.
Ele pousou sua mão em seu ombro apertando levemente quando deu eu passo em sua direção.

- Rey, você acima de minha melhor aprendiz é minha lurith*, não me perdoaria se algo acontecesse com você. Você ficou inconsciente por horas, e se isso acontecer enquanto estivermos lá?
Ela arrumou os ombros ficando mais ereta.

- Não vai acontecer. E eu também já fiz o juramento, você sabe o que acontecerá se eu não for.
Ela cruzou os braços, ele a fitou por longos minutos, viu que não conseguiria dobra-la então suspirou e suavizou seu olhar.

- Você vai. – antes que ela pudesse comemorar ele ergueu uma mão e continuou – Mas, Piefh ficará de olho em você.
Ela fechou o rosto.

- Não, não, não. Coloque qualquer outra pessoa, pode ser você mesmo, menos ele.
Belorian riu, gargalhando, sabia que ela não se dava bem com Piefh desde que eram pequenos. Ele começou a caminhar, e ela o seguiu.

- Belorian... – ela choramingou – Por favor.
Ele parou de caminhar e seu sorriso murchou, seu semblante se tornou frio e seus olhos distantes. Quando se fixaram nos dela, o azul que antes cintilava estava sem brilho, ela queria conseguir conforta-lo, mas sabia que não conseguiria, o que havia se quebrado dentro dele, não poderia ser consertado por ela e não sabia se algum dia poderia ficar inteiro.

- Fique perto de mim a todo instante. Estamos indo para destruir o forte, se toma-los será uma porta aberta para Kebair. Ninguém o tomará de nós, pois eles têm medo de elfos. Obedeça minhas ordens, entraremos e sairemos, sem mais. Não posso perder mais uma pessoa.
Ela não conseguiu dizer nada, só assentiu e o viu partir, o homem que estava diante dela estava quebrado e isso a machucava, ele tinha sido um pai para ela, mas um rei tirou a felicidade que ele poderia ter tido, e hoje, quando a lua ficasse alta no céu eles destruiriam o forte de Kebair.

Tomariam com sangue aquilo que eles haviam tirado deles com ódio.

*luriths são pessoas que não foram criados por seus pais e sim por outras pessoas. Lurith do élfico significa filho(a).