VI - Zafira

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O cheiro putrido da taberna a perseguia como um cachorro abandonado, as quatro moedas de bronze lhe garantiram uma pequena quantidade de licor envelhecido com um comerciante qualquer.

Bebericando da bebida, ela entrou em um beco estreito e escuro, a noite já estava avançada, conforme o relógio de bolso mostrava que eram 02:40 da madrugada.

O vento carregado em gotas gélidas de chuva caiam sobre sua pele suja, trazendo um ar estranho, sombrio, era como se a noite trouxesse a tona todos os pesares e males do reino.

Ouviu-se um assobio baixo e agudo. O cheiro de petulância e desejo cortou o ar, fazendo suas narinas dilatarem e parecerem ter sido cortadas em tirar. Ela sorriu diante da arrogância vã que rondavam os dois corpos que se aproximavam pelos cantos escuros da rua molhada e deserta. O som das passadas integrava o tamanho de ambos, as que faziam maior barulho demonstravam o peso, e ela podia jurar que um era maior que o outro e um era robusto, já o comparsa seria de porte e peso medianos.

- Sozinha, tão tarde da noite, molly.
Insultou o que seria o mais robusto, porém ela continuou a caminhar sem sequer olhar para trás. A mão já estava fechada em punhos, pareceu que pequenos cortes se abriam conforme ela o deixou impune por chama-la de meretriz, no que seria a gíria de uma cria das montanhas de prata.

- Não vai nos responder? Que molly mal educada.
Eles riram, assim que ela parou abruptamente, os passos ganharam um ritmo lento, preguiçoso.

Ela se virou para encara-los, e viu que não errara. O mais robusto, era composto por uma barriga saliente, sem cabelos, e estava imundo, assim como seu seguidor, com a diferença que este era magro, e parecia jovem, mas também usava trapos sujos, assim como o sorriso podre que estampava o rosto fino.

Eles pararam quando identificaram o verde de seus olhos, que pareciam ter vida própria naquele beco escuro. Ela sorriu amplamente, mostrando caninos afiados e prateados, assim como os dentes revestidos de prata Gufrin, o mais leve e um dos mais afiados materiais.

As garras de prata que se ajustavam perfeitamente em seus dedos brilhou na luz fraca da lamparina que pendiam a poucos metros dali.

O presente que Josefh lhe dera era usado com mais frequência que ele imaginaria. Com a falta de suas garras originais, ele as substituirá com prata pura.

- Oh, não. Eu nunca estou sozinha.
Como um raio ela os atacou. O cabelo de luar se agitava conforme ela girava, cortava e sorria diante da carnificina que fizera, os gritos eram tão satisfatórios quanto doce seria para uma criança. Quando não passavam de tiras de carne, sangue e ossos, ela passou a língua pelas garras, era uma mistura metálica de doce e azedo, como se pudesse sentir os dias de podridão de ambos ela abaixou as mãos.

- Eu avisei que humanos tem um gosto ruim.
Thomas disse as suas costas. O perfume de alecrim e sabonete artesanal fizeram sua sede aumentar assim como um nó em sua garganta.

- Nem todos tem.
Ela ronronou, se virando para encarar o jovem forte, com os braços cruzados no peito que dava o tipo de sorriso que o fazia sempre estar com alguma mulher.

Seus olhos pretos passaram da mulher a sua frente para os corpos jogados como lixo naquele beco, e no rosto a expressão de nojo não passou despercebida.

- Se não gostou do que viu, sugiro que não venha me procurar da próxima vez.
Ela endireitou os ombros e continuou a andar, mas não antes de ter o braço agarrado por Thomas.

- Não foi isso, Zara.
Ele sussura em seu ouvido, soltando seu braço quando um rosnado baixo sai do fundo da garaganta de Zafira.

- Não me chame assim. Na próxima vez, você se juntara a eles.
Ela aponta com a cabeça na direção dos dois homens que apodrecem nas ruas imundas.

Trono De Fogo - Fragmentos De Chamas E AguaOnde histórias criam vida. Descubra agora