XIII - Kazriel.

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Assim que ela saiu, olhou em volta e viu os olhos curiosos que o rondavam, mas não se importou, não quando a risada borbulhante de estrelas explodindo ainda o atordoava. Seguiu para onde Aleph estava, ele não disse nada por um tempo, mas seus olhos vidrados falavam por si só.

- O que foi?
Kazriel perguntou, enquanto tomava de sua taça.

- Dar um soco em Ethan, seria menos doloroso que aquilo.
Foi sua resposta. Reprimindo o sorriso que ameaçava surgir ele disse sem qualquer emoção.

- Creio que eu seja um parceiro melhor.

- Creio, que esteja em território perigoso.
Ele avisa.

- Quando eu não estou? Foi uma dança, não uma declaração crua de guerra.

- Não me pareceu, somente, uma dança. E não fui o único a pensar assim.

Olhando a sua volta, viu que Ethan dançava com uma dama, mas seus olhos sempre que possível se desviavam para a porta dos jardins, por onde ela havia saído.

Algo não se encaixava, e isso o perturbava, o rei sorria satisfeito, quando olhava a decepção estampada no semblante do filho.

Algo torceu em seu peito, forte como um chicote descendo ao encontro da pele, uma explosão de diferentes emoções, raiva, dor, e uma enorme vazio. Como uma ponte, ele sentiu algo no final, era indescritível, mas era forte, mais forte do que qualquer coisa. Isso. Aquela ponte. Aquela confusão tirou seu ar.

O colar esquentou em seu bolso, reagindo aquela ligação.

Tinha tantas pessoas ali, tantos olhos, que o descontrole parecia que o consumiria. Era um encantamento simples que segurava e encobria sua magia. Seu temperamento sempre dificultava o véu que encobria seu eu.

Precisava sair daquele lugar, aquela festa, para ele, havia acabado.

Com cada passo em direção ao jardim, a ponte em seu interior balançava. Quando a grama tocou suas botas, o ar parecia mais limpo, não era o sufocante de dentro do salão.

Quando dobrou a escuridão, passando pelo frio reconfortante, não sabia para onde ia, só que precisava se manter longe. Antes da noite que havia dobrado se esvair ao seu redor, a voz sensual de estrelas cadentes o parou no meio da travessia.

Ela estava sentada no chão de costa o vestido caindo ao seu redor como luz da lua, pura e brilhante.

Ela cantava baixo, a melodia era suave, mas melancólica. A música era cantada em uma língua que não sabia, parecia antiga, e esquecida, mas era bela.

A imagem a sua frente era inebriante. Estavam em uma sala ampla, as paredes eram inteiras de vidro, como janelas, estavam abertas, a luz prateada acolhia a canção cantada pela mulher sentada a sua frente.

Quando seu ombros balançaram e a voz ficou embargada, a culpa por ter invadido seu espaço pessoal o balançou, antes que dobrasse novamente, ela ergueu uma mão, o luar banhou sua pele dourada.

Ela inspirou profundamente, como se tentasse se manter na luz, e se esforçasse para se agarrar a ela. Ele sabia qual era a sensação de se perder na escuridão, e quando ela parou de soluçar e sussurou olhando as estrelas acima, algo que a muito ele havia perdido dentro de si, se soltou.

- Obrigada por ouvir.

Soltando o encantamento, noite ondulou em todo o lugar, preenchendo o local, antes de ir embora ele viu o sorriso que se formou nos lábios da mulher que brilhava como uma estrela cadente em meio às estrelas que ela agradecia, as estrelas que lhe deram a luz naquele momento.

Enquanto partia, não pôde impedir o sorriso que se formou.

Trono De Fogo - Fragmentos De Chamas E AguaOnde histórias criam vida. Descubra agora