XIX - Guinevere

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Seu controle era um fio vermelho que se esticava a cada dia, embora fino como uma corrente de ouro, era tão resistente quanto aço, não conseguia discernir quando ele havia se tornado tão frágil, bastou as palavras serem absorvidas que esse fio definhou.

Sua pele esquentou contra sua vontade, o poço de sua magia era um enorme caldeirão que aos poucos transbordava. A magia é como um pássaro, tem sua vontade própria, e se não treinado lutará para ser solto, se mantido preso sempre, assim que a gaiola se abrir será quase impossível prende-lo.

Não soltava nada de seu poder, a tensão crescia a cada segundo, se enroscava como uma cobra em cada centímetro de seu corpo esperando para dar o bote.

Ele soltou-a, mas não demonstrava medo, nem repulsa como a maioria das pessoas, ele não demonstrava nada, e naquele instante preferiu que ele se enraivecesse, que a questionasse, mas não o fez. Não conseguia formular palavras, sua mente estava vazia, ela estava vazia.

Assim que virou e partiu e não sentiu sua mão a prendendo mais, fora um alívio, mas algo estava errado com ela, a ausência daquele calor momentâneo era como dormir com o espinho de uma rosa espetando-a, suportável mas desconfortável.

Assim que chegou ao corredor que levava ao seu quarto, passos apressados vinham em sua direção, sua mão foi automaticamente para a adaga escondida por seu casaco, assim que se virou erguendo a lâmina, Ethan arregalou os olhos levantando as mãos em um gesto de rendição, suspirando ela abaixou a mão, ele deu-lhe um sorriso nervoso.

- Não me mate, eu me rendo.
Ele brincou arrancando um sorriso fraco dela.

- Não vou alteza, tem minha misericórdia.
Ambos continuaram pelo corredor, os ombros dele tocavam seu braço, ter sua companhia era reconfortante, em meio a tantas confusões ele se mantinha neutro, e isso era mais do que ela gostaria que fizesse.

- Desculpe. - Ele disse assim que ela abriu a porta, dando passagem ele entrou - O rei não enxerga os limites, não vê que há coisas que são melhores quando não atiçadas.

Ela se dirigiu ao armário, apontando para que ele se sentasse, pegando seu traje preto, ela o jogou em cima da cama ao lado do príncipe, puxando as armas do canto do armário ela as colocou em cima da roupa, quando parou cruzou os braços no peito e o encarou, ele tinha um pesar em seus olhos.

- Não peça desculpas pelos erros cometidos por seu pai. Ele não é você, então não tome seus erros para si.

- Quando você se retirou tentei convence-lo a não manda-la para a fronteira, mas ele não ouve. Mas irei convence-lo sobre Marin, você não tem obrigação de fazer aquilo, é desumano.

- Não enfrente-o por mim, Ethan. Ele está tentando se livrar do empecilho que sou, mas eu lhe garanto que não será tão fácil se livrar de mim, você ainda terá que me aguentar por muito tempo. - o sorriso que repuxou seus lábios foram refletidos nos próprios do príncipe - agradeço por tentar me defender, mas não vou matar aquelas pessoas por capricho, isso vai contra meus princípios, mesmo que isso tire minha vida.
Ele não respondeu de imediato, o assunto era desconfortável para ambos.

- Já escolheu um campeão?
Ela perguntou mudando de assunto.

- Ainda não, mas tenho alguns em mente, todos os preparativos vem tirando muito de minha energia, não tenho tempo para nada ultimamente.

Ela sorriu, se ele soubesse todas as coisas que ela anda fazendo certamente não se consideraria ocupado. Teria que se arrumar rápido, se quisesse terminar suas coisas antes de partir.

- Mas ainda assim arrumou tempo para vir aqui.
Ela ergueu uma sobrancelha, ele sorriu com o canto de sua boca antes de falar.

- Temos que dar certo privilégio para as coisas que gostamos.

- Obrigada.
Foi sua resposta. Ele pareceu confuso se pondo de pé, ele se aproximou dela seu cheiro era como uma barreira ao seu redor ela não se afastou.

- Pelo que, Guinevere?
Ele sussurrou estava tão perto que era possível sentir sua respiração tocando sua bochecha.

- Por ser bom, Ethan.
Sua mão segurou em sua cintura, trazendo-a para perto, sua outra mão afastou uma mecha de seu rosto seus olhos estavam fixados em sua boca quando ele se aproximou mais e sorriu, faltava a distância de um dedo para que seus lábios se tocassem.

Ela ergue a mão e acariciou sua bochecha seguindo uma linha até seu lábio, que se entreabriu ao seu toque, ela beijou-lhe o canto da boca, depois sussurrou ainda perto de seus lábios.

- Não será tão fácil assim, pequeno Príncipe.
Ela sorriu de sua ingenuidade, desvencilhando de seu toque pegou as roupas em cima da cama, parada em frente a sua casa de banho, virou para ele que passava as mãos na nuca confuso e sorriu.

- Quem sabe da próxima vez.
Fechando a porta atrás de si, ouviu seus passos indo em direção a porta do quarto, e baixo como um sussurro divertimento flutuava em suas palavras quando se despediu dizendo, não sabia ao certo se para ela ou si mesmo.

- Na próxima vez, Guinevere.

Trono De Fogo - Fragmentos De Chamas E AguaOnde histórias criam vida. Descubra agora