Capitolo VI

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— Eu vejo os sonhos como anjos... E eles evitam que o mal se manifeste.

— Sua forma de pensar... É como a de um anjo... Perdoe-me, mas, não nos apresentamos... - Fiquei a admirá-la em sua timidez visível.

— Ah! É verdade... Eu me chamo..

O sinal bateu, e havia acabado o intervalo, nós demos um abraço forte e ganhei um beijo doce no rosto, nem fizemos muita questão de dizer nossos nomes.

Meus pais precisam conhecê-la! Irei levá-la hoje mesmo até minha humilde casa, uma nova amiga, ou, talvez amante... Para nós italianos o termo "amante" significa duas pessoas que se amam verdadeiramente, e não a amante de uma pessoa que já é comprometida, isso surgiu, porque houve muitos casamentos forçados séculos atrás sem amor, e a amante ou, o amante seria a pessoa que o coração escolheu para amar.

Senti um lampejo breve de felicidade, logo voltei a sala, pensando naquele genuíno sorriso dela, e a voz terna. Ela me devolveu a inocência dos detalhes... Quanta nobreza em sua comunicação.

O professor falava, e eu olhava para janela lá fora, sonhando em encontrá-la novamente, é a garota mais bela que eu já vi aqui... E eu comecei a descrevê-la em rascunhos.


"Meu coração amou antes de agora? Essa visão rejeita tal pensamento, pois nunca tinha eu visto a verdadeira beleza antes dessa manhã."

— Senhorita TOLOMEI!

— Sim, professor? - Respondi estando ainda distraída em meus pensamentos.

— Poderia ler... O que acabara de escrever? E em voz alta... Por gentileza!

— Mas são meus pensamentos, é de privacidade minha...

— Ordeno que leias... Já que não prestou atenção a nenhum momento na minha aula.

— Já que insiste...

— Meu coração amou antes de agora? Essa visão rejeita tal pensamento, pois nunca tinha eu, visto... A verdadeira beleza antes dessa bela manhã.

— Você quem escreveu isso, e agora? Está no curso errado... - Veio se aproximando da minha mesa, me olhando meio intrigado.

— Duvidas da minha capacidade intelectual, professor?! E não é o primeiro a me dizer sobre eu estar no curso errado.

— Não jamais! É que... Essas palavras suas... São idênticas as de Romeu Montecchio, ele as escreveu para sua amada Julieta Capuleto...

— Não é possível! Isso é ridículo! NÃO ZOMBES DE MEU SOBRENOME! E nem da minha família!


Eu levantei da cadeira e fui pra cima dele, e o puxei pela gola da camisa encarando-o com fúria.

— Olha aqui, se zombar novamente de mim, irei de acabar com sua vida! Eu sou uma Tolomei, e ordeno respeito a minha tragédia histórica. Não tolerarei mais ficar na sua aula, irei me retirar e só voltarei aqui, quando você estiver saído desse campus! - Os alunos me olharam assustados, inclusive o professor.

— É impossível me tirar daqui! Sou o melhor professor de gestão empresarial de Harvard. Me solte por favor, eu não quis te ofender.

— Duvidas?! Bom saber que duvida... Adeus, professor!

— Espere... Se duvida do que eu disse, vamos conversar com uma professora de literatura inglesa, ou, uma bibliotecária daqui.

Eu não dei ouvidos, saí correndo pelos corredores à procura daquela misteriosa moça, e assim convidá-la para sairmos desse lugarzinho insuportável. Odeio me sentir desafiada, ou, humilhada por alguém em público. Corro em busca de encontrá-la por aí, meus olhos desesperados, mãos suando frio, e meu corpo em pura adrenalina... Quando eu me esbarro justamente com ela, que estava a mexer no seu armário... Num corredor bem distante do meu.

Não suporto ficar presa num lugar por muito tempo.


— Olá... - Meu sorriso se mostra sedutor.

— Ei! Nos encontramos de novo... - Sorriu tímida e ao mesmo tempo surpresa com minha inesperada presença.

— Vamos embora daqui? Que tal irmos para minha casa?! Preciso te mostrar meu jardim!

— Mas... Eu ia para minha aula... - Disse ela com uma expressão confusa, porém divina!

— Por favor... Eu gostei muito de sua companhia, senhorita! Eu não quero ficar assistindo aula hoje, e sim andar à cavalo contigo e mostrar meu jardim de flores que cultivo.. . - Sorri de forma gentil, tocando levemente em suas mãos macias.

— Que encantadora! Então vamos, onde está o seu cavalo?

— Na fazenda aqui da Universidade... Mas, é sério que aceita meu convite?

— Já não te disse que amo provar o sabor que a liberdade tem? E isso seria um sequestro? (Risos)

— Pode ser um... Se quiser (Risos entre nós).

— Então corra atrás de mim, e me sequestre! - Disse rindo, e já correndo na minha frente.

Fomos correndo e rindo como duas fugitivas adolescentes, como era gostoso ver o sorriso dela, não sei  se ela percebeu, mas, estava inebriada por sua presença, tão doce... É uma mulher de traços que diria até... Sagrados...

Chegamos aonde estava meu cavalo, e ficou surpresa ao vê-lo.

— Que cavalo belíssimo! E como eu irei?

— Irá montada comigo... Abraçada, se importa? - Disse eu já subindo no animal, e estendendo minha mão a ela, pra que possa subir também.

— De forma alguma, vamos, me sequestre para bem longe daqui ! - Ela riu e se segurou firme em mim, e eu respirei fundo com sua aproximação ao meu corpo.



E fiz o meu diamante negro, correr como um raio, na tentativa de impressionar a corajosa dama que sequestrei comigo. (Risos)

AS JULIETASOnde histórias criam vida. Descubra agora