Miguel POV
Durante um certo tempo cheguei a pensar que não tinha ouvido bem. Ela tinha mesmo me dado um fora? Quem em sã consciência recusaria um convite meu? Quer dizer, sem querer ser prepotente nem nada, mas eu sabia que muitas implorariam por uma noite comigo. Pensei em dizer isso a ela ali no calor do momento, eu detestava o fato de receber um não assim tão seco, mas não era apropriado. A conhecendo como eu a conhecia, isso faria com que ela se afastasse ainda mais. Mas eu não me daria por vencido tão facilmente, se ela queria fazer jogo duro eu não me importava. Teria todo o tempo do mundo. Tentei recolher o resto de dignidade que ainda me restava e quando tive a certeza de que havia me recomposto, tornei a repetir a pergunta. Dessa vez eu tentaria outro tipo de abordagem.
- Marisa, é só um jantar formal. Não faria nada que você não permitisse - meu nervosismo foi entregue quando ri e a expressão irônica com a qual ela me encarava estava me matando -
- Que seja. Eu só não quero ir e pronto. - ela disse isso e se virou caminhando em direção a sala -
Aquilo não era muito do meu feitio, mas se ela estava a fim de me ver rastejando, eu iria tentar.
- Só me diz um motivo. - dei ênfase a palavra "um" e em seguida tomei seu braço fazendo com que ela se virasse. Estava me fuzilando com o olhar - Poxa, a gente não se via há anos e agora seremos colegas de novo. Eu só quero conversar, saber como você está... - ela puxou o braço e já dava sinais de que sua paciência estava se esvaindo, então eu permaneci firme com a encenação - Sabe, eu gosto de manter uma boa convivência com as pessoas que eu trabalho.
- Então chama um deles pra sair ué.
Ela estava sendo bastante fria e pelo visto irredutível. Daquela vez eu me dei por vencido, até porque ela me deixou falando sozinho em seguida. Pude a tempo vê-la saindo pela porta de entrada e estranhamente me senti péssimo por ter estragado tudo.
- Tomou um toco é? - estava perdido em meus pensamentos e só me permiti voltar para a realidade quando ouvi a voz de Claudia confirmando aquilo que eu mais queria esconder agora -
- Tá visível assim?
- Essa sua cara de Madalena arrependida não engana ninguém. - ela bateu levemente com a palma da mão em minha testa e só fiz rir. Em seguida fiz um gesto pedindo para que ela se aproximasse um pouco mais -
- Eu preciso da sua ajuda.
Ela apenas arqueou a sobrancelha esquerda em conjunto com uma expressão de descontentamento. Mas eu precisava tentar
- Eu te conto essa história detalhadamente outra hora, porque por enquanto você só precisa saber que eu não vou sossegar enquanto não trepar com ela.
Tínhamos intimidade o suficiente para que eu dissesse aquilo, então fiquei um pouco desconcertado com a maneira como ela negou repetidas vezes com a cabeça enquanto me encarava com um olhar vazio.
- Eu só vou te adiantar uma coisa, Falabella. - ela apontou o dedo indicador em direção ao meu peito - A Marisa é bem diferente das mulheres que você costuma levar pra sua casa toda semana. Desista
- O que quer dizer?
- Que ela não tem a menor pretensão de ficar contigo. Só isso. - Claudia deu de ombros -
- Ela te disse isso?
- Não precisa. Qualquer pessoa decente que saiba do seu histórico amoroso não faria uma besteira dessas.
Eu pensei seriamente em me opor, mas querendo ou não ela estava certa.
- O que eu quero dizer, Miguel, é que se vocês saírem amanhã ou depois ela vai esperar que você ligue no dia seguinte. E te conhecendo como eu conheço eu duvido que faça isso.
Eu precisava pensar um pouco mais sobre aquilo; mas de certa forma ela tinha razão. Nem passava pela minha cabeça firmar compromisso com uma pessoa que eu iria ter que conviver semanalmente... Tentei colocar as coisas na balança por um instante e em seguida voltei a insistir.
- Você tem o número dela?
Eu sabia que tinha uma caneta em algum lugar. Passei as mãos pelo bolso da calça e lá estava ela. Fui até a sala a procura de um guardanapo e em seguida parei de frente para ela estendendo as mãos. Claudia riu tão alto que por um momento cheguei a pensar que todas as atenções dos presentes naquela sala se voltaram a nós.
- Você só pode ter perdido a noção. É evidente que eu não te passaria - ela disse sendo bastante firme. Seria possível que eu precisaria me humilhar mais uma vez num intervalo tão curto de tempo? -
- Por favor - meus olhos estavam brilhando - Eu juro que não digo que foi você quem deu (...)
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My Fair Ladies
Romance"Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho" este trecho eternizado por Tom Jobim jamais poderia ser aplicado à vida de um dos protagonistas dessa história; Miguel Falabella. Um carioca desapegado, de alma leve e faceiro que não troca...