Marisa POV
Felizmente os ânimos estavam bastante controlados durante aquele ensaio, as temidas perguntas que eu já esperava ouvir não aconteceram. Ainda bem! Aquilo me dava um gás a mais, me deixava mais tranquila... Consegui me soltar bem mais do que no dia anterior e inclusive ouvir de Cecil Thiré que minha personagem parecia ter sido feita para mim. Não sei se aquilo era exatamente um elogio, mas vindo de quem era eu me sentia feliz de qualquer forma. Aliás, eu merecia um prêmio por estar conseguindo manter o meu foco naquele ensaio quando na realidade eu não tirava meu marido fictício da cabeça.
Já estávamos ali a umas duas horas e eu acho que me perderia se fosse contar todas as vezes em que nossos olhares se cruzaram naquela manhã. Era como se ansiássemos por gravar as cenas em que Caco e Magda teriam algum contato físico unicamente para que dessa forma a lembrança da noite passada permanecesse ainda mais vívida em nosso imaginário. Claudia em contrapartida não nos dava um minuto sequer de paz! Em todas essas ocasiões ela nos fitava com um sorriso malicioso como se nos dissesse internamente que ela já sabia o que estava acontecendo ali.Anyway... Eu contaria com riqueza de detalhes mesmo, talvez mais ainda por que precisasse tomar uma opinião com ela. Ela o conhecia melhor do que eu, afinal de contas. Ainda precisava saber se eu tinha perdido o juízo de vez por estar dando corda a ele ou se ainda me restava um pouco de sanidade quando pensava em não confiar tanto assim.
Fomos liberados para o almoço logo em seguida e imaginei que seria a oportunidade perfeita para conversar com ela; acredito que ela tenha pensado exatamente o mesmo quando saiu feito louca me puxando pelo antebraço e me levando até a coxia.
- Anda. Põe pra fora logo.
Dei uma risada frouxa pela forma como ela estava me abordando.
- Transamos ontem. É isso.
Claudia cobriu a boca com as mãos e negou com a cabeça algumas vezes. Não sei se aquele semblante surpreso era um bom sinal.
- Eu vou dar um soco nele - ela finalmente falou ainda com as mãos cobrindo o rosto. Mantive meus olhos semicerrados e a fitei com certa confusão - Eu não tô acreditando que ele te induziu a isso, Marisa!
Ela estava prestes a se virar e ir até onde ele estava com Denis quando a segurei pelo braço.
- Tá doida?! - a repreendi - Eu quis. Não teve indução nenhuma - ri franzindo o cenho -
- Ah então quem perdeu o juízo foi você.
Não sei como mas eu já estava adivinhando que iria ouvir algo do tipo. O que me deixava desapontada e mais do que isso, bem mais insegura do que o normal. A expressão vazia que a encarei em seguida só confirmava ainda mais o que eu queria agora, como se implorasse para que ela fosse clara ao se referir a ele; eu ainda precisava saber com quem estava lidando.
- A gente faz o seguinte então - ela parou por um instante e sorriu - Você almoça comigo e me conta melhor como foi isso - a voz dela era mais suave agora - Só vou pegar a minha bolsa.
Decidi esperá-la ali onde estava mesmo e pouco depois ela surgiu acompanhada de Aracy. Em momento algum aquilo me deixava incomodada, talvez ouvir uma opinião mais experiente fosse melhor ainda, já que aquele comentário de Claudia me deixara com a pulga atrás da orelha. Quando já estávamos quase na saída, pude ouvir a voz dele chamar por mim.
- Eu - me virei para encará-lo assim meio sem interesse mesmo -
- Aonde estão indo?
Parecia meio óbvio já que fomos liberados justamente para o almoço. Eu tentaria manter a pose, mas era quase impossível ser fria ou racional quando ele evitava manter por muito tempo o contato visual unicamente por timidez. Acho que no fundo aquele garotinho introvertido o qual ele tanto me falara nas últimas semanas, ainda vivia ali dentro dele.
- Almoçar - a intenção era responder somente aquilo, mas quando percebi a forma como ele e Claudia se entreolhavam pensei que talvez ela estivesse dando uma deixa para que ela pudesse o jogar contra a parede bem na minha frente - Quer ir com a gente?
As chances de que ele aceitasse eram quase nulas, mas não me custava tentar.
- Na verdade eu queria te fazer um convite.
Ponderei um pouco antes de perguntar qualquer coisa e antes que eu desse um parecer, Claudia nos disse que esperaria lá fora.
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My Fair Ladies
Romance"Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho" este trecho eternizado por Tom Jobim jamais poderia ser aplicado à vida de um dos protagonistas dessa história; Miguel Falabella. Um carioca desapegado, de alma leve e faceiro que não troca...