E o que pretende de mim

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Marisa POV

Morar em um condomínio fechado por diversas vezes me passava a tranquilidade que eu gostaria desde que havia saído da casa de meus pais; eu sabia que poderia deitar a cabeça em meu travesseiro todas as noites sem me preocupar se estava ou não em segurança. Não era muito habitual que eu recebesse ligações naquele horário e quando me certifiquei de que realmente não conhecia aquele número, uma série de possibilidades ruins me invadiram a mente, se intensificando ainda mais quando tornei a repetir aquele "alô" sem obter respostas. Corri os olhos pelo identificador novamente e o DDD era mesmo de São Paulo; a tensão faz com que pensemos em todo tipo de coisa e aquelas alturas eu já tinha colocado na cabeça que havia alguém querendo me assustar. Eu ouvia claramente alguém respirando de forma falha do outro lado da linha e quando consegui juntar o resto de coragem que ainda me restava eu fui direta.

- Merda, diz logo quem é!

- Ei, não precisa ficar brava. Sou eu.

Aquilo era real ou eu estava imaginando coisas? Pisquei os olhos algumas vezes antes de me sintonizar de vez.

- Você é doido? Quem te passou meu telefone?

- Isso não vem ao caso agora. Ah, e desculpa se assustei você. - ele tinha uma voz tão doce que cheguei a duvidar que se tratava do mesmo Miguel que eu conhecia -


- O que você quer? - minha paciência já estava se esvaindo e não fiz a menor questão de esconder isso -

- Bom... - uma pausa e um riso contido. Ele parecia meio aéreo - Eu na verdade queria refazer o convite que te fiz mais cedo.

Respirei fundo enquanto balançava a cabeça por diversas vezes em sinal de negação. Não era possível.

- E eu já te dei a resposta. Eu não vou mudar de ideia.

Eu tentava manter a pose mas por dentro eu já estava praticamente de quatro por ele. Saber que ele estava insistindo me fazia pensar que talvez aquilo realmente valesse a pena, ele não iria atrás de uma mulher sem que estivesse MUITO interessado, mas eu ainda queria ver até onde aquilo iria chegar.

- Nem se eu jurar que vou me manter longe de você?

Era covardia continuar negando, eu o queria em cima de mim se fosse possível. Permaneci em silêncio ali naquele quarto enorme, não que quisesse, mas eu realmente não soube o que responder.

- Só me diz uma coisa então, você está saindo com alguém? É isso?

Ele não precisava saber que há meses eu não tinha um encontro não é? Aquilo não vinha ao caso.

- Não, Miguel. Eu não estou - fiz uma pausa tentando montar o restante da frase - Eu só não acho uma boa ideia ter esse tipo de contato com você.

- Mas por que não? Eu estou te convidando como um amigo apenas.

Eu não estava totalmente convencida depois de ouvir aquilo. Se ele costumava trepar com as amigas dele aquilo era novidade pra mim.

- Nós nem somos amigos, Miguel. - semicerrei os olhos ainda meio incrédula com minha insanidade - Agora se me dá licença, eu vou desligar.

- Espera! - ele praticamente gritou do outro lado - E se eu levar uma pessoa conosco?

Bem, aquela não era exatamente a proposta que eu gostaria de receber, mas a longo prazo me pareceu um bom plano. Pelo menos com mais alguém junto a nós, eu não precisaria me preocupar com especulações ou algum comentário pretensioso da mídia.

Miguel POV

Eu mesmo não estava acreditando ainda no que estava prestes a fazer, mas se eu estava disposto a lutar por aquela mulher, eu usaria de todas as armas possíveis até conseguir o que eu queria. O que viria depois disso não vinha ao caso.

- E então? - ela ainda não havia dado um parecer então decidi perguntar mais uma vez -

- Quem? - ela já dava sinais de impaciência há tempos mas aquilo não me importava mais. Eu não tinha chegado até aqui a troco de nada -

- Minha filha. Sofia está ansiosa pra conhecer as pessoas que vão trabalhar comigo esse ano.

Digamos que mentir não era algo que eu costumava fazer com frequência, mas naquele caso era por um bem maior. Pude ouvir que ela havia respirado um pouco mais fundo do que das outras vezes e ali me preparei para o que quer que fosse. Ou eu a venceria pelo cansaço ou eu estava prestes a ouvir uma série de desaforos.

- Tudo bem. Se é assim eu aceito.

Mal cheguei a ouvir o que ela disse depois do sim. Eu tinha um sorriso tão aberto estampado em meu rosto que mal me reconhecia.

- Amanhã às oito está bom pra você?

Combinamos que iríamos ao meu restaurante favorito em São Paulo; o Quattrino era o lugar perfeito para que eu pudesse por em prática todas as minhas táticas de flerte. Ela pediu para que eu desligasse depois daquilo, iria voltar para o banho ou algo assim. Me joguei em minha cama em seguida e enquanto olhava para o vazio daquele teto eu me lembrava da conversa que Claudia e eu havíamos tido mais cedo. Ela insistia em dizer que eu gostava de mulheres fáceis e eu relutei por diversas vezes afirmando que aquele tipo de perfil não me atraía; ela me conhecia bem o suficiente pra dizer aquilo e por mais que eu negasse, ela tinha uma certa razão. Eu não tinha paciência e nem tempo para todo aquele contexto de joguinhos de conquista, nem me lembrava se alguma vez já tinha saído com alguém que me demandasse isso. Mas eu sentia algo diferente por Marisa; por mais gostosa que ela fosse, era aquele ar de mistério que me prendia a ela. Aquela sensação de não saber o que estava por vir mexia demais comigo. Era incrível que mesmo após anos terem se passado, ela fosse capaz de me despertar os mesmos sentimentos de antes; se algum dia eu já quis conhecer a fundo aquela mulher, eu estava mais motivado do que nunca a fazê-lo no dia seguinte.

My Fair LadiesOnde histórias criam vida. Descubra agora