Miguel POV
Ser inconsequente era algo que já não fazia mais parte da minha vida a medida que fui adquirindo maturidade ao longo dos anos. Minhas experiências pessoais me ensinaram da melhor forma, o quanto eu deveria ser cauteloso sobretudo antes de tomar decisões, mas era impossível ter algo em mente quando o assunto era Marisa. Ela me tirava do eixo.
Não pensei duas vezes quando Maria me instigou a ir atrás dela, mesmo sem dizer através de palavras, eu sabia que ela gostaria mais do que nunca que Marisa soubesse de uma vez por todas o que eu estava guardando comigo nas últimas semanas. Tomei um banho mais ou menos rápido, vesti a primeira roupa que encontrei no closet e segui de volta para aquele teatro com o coração apertado. Cheio de incertezas.
Parecia que algo estava tentando colaborar comigo naquela tarde, Dennis me parou já na entrada alegando que havia um problema com a energia do local e não tinha nem previsão para resolverem. Em condições normais aquilo me deixaria puto, eu começaria a reclamar, xingar a quinta geração da família do pessoal da companhia de luz ou até mesmo descontar em um dos presentes ali, mas estava tão interessado em ir atrás dela que isso nem me passava pela cabeça agora. Dennis avisou que a viu entrando no camarim e tratei de ir logo até lá.
Percebi que ela e Claudia conversavam e bati suavemente na porta para anunciar que estava ali. Dentro do meu inconsciente eu pedia aos céus para que pudesse ter a chance de ficar um pouco mais a sós com ela; eu adorava ter a companhia de Claudia na minha vida, mas hoje eu definitivamente precisava abrir mão disso por um bem maior.
- Eu acho que você DEVE entrar - Claudia deu bastante ênfase àquele deve enquanto efetuava uma piscadela em minha direção. Acho que nem teria o trabalho de explicar a ela que pretendia dizer algo importante demais a Marisa -
Eu de fato precisaria agradecer muito a ela pela forma como estava se empenhando em me ajudar com Marisa nos últimos dias. Era o tipo de coisa que irmãos fariam um pelo outro. Dei passagem a ela e em seguida fechei a porta passando a chave. Não havia necessidade de tamanho sigilo, mas seria melhor ainda se não fosse incomodado. Aquilo de certa forma me dava um pouco mais de confiança para ter a certeza de que não diria nada fora do lugar a ela.
Marisa me encarava com um sorriso bastante contido, parecia um pouco sem jeito e no fim das contas eu também estava. Juntei o restante de coragem que ainda tinha e em passos curtos, acabei por me juntar a ela naquele pequeno sofá.
Eu parecia um dois de paus. O nervosismo tomava conta de tal forma, que sentia minha boca completamente seca. Ela parecia já impaciente e por mais que eu estivesse evitando fazer qualquer tipo de contato visual entre nós, eu sentia que os olhos dela chegavam a pesar sobre mim como se exigissem que eu me posicionasse. Quando achei que já estava pronto, me atrevi a falar o que julgava mais certo agora.
- Eu não sei o que deu nela. - eu disse quase em um sussurro -
- Miguel - ela me interrompeu e no momento em que a encarei, ela fazia o mesmo com uma expressão doce - Tá tudo bem. O que ela disse não me ofendeu.
Quase suspirei aliviado no momento em que ela disse aquilo, mas eu ainda insistia em me retratar. Ela estava sendo maravilhosa demais para que não o fizesse.
- É sério, amor - saiu quase no automático. Não tinha pretensões de chamá-la assim e tive bastante receio de que ela se ofendesse, por mais que não fosse minha intenção. Esperei um pouco mais para ver se ela iria me interromper e quando senti que estava tudo bem, prossegui - Sei que não ficou chateada, mas isso não significa que ela pode sair falando o que bem entender.
Ela sorriu assentindo
- É a forma como ela acha de chamar sua atenção. - ela disse com naturalidade me fazendo refletir um pouco. Ela estava certa. Em pouco tempo de convivência ela já sabia bem o que se passava dentro da minha casa -
- De qualquer forma eu prometo que não vai se repetir. - nem sei se ela deu muita credibilidade ao que eu estava dizendo, mas eu estava mais motivado do que nunca a fazer com que os ânimos se acalmassem -.
O silêncio tomava conta daquele ambiente e eu só me questionava se saberia quando chegasse a hora de dizer o que eu mais queria. Enquanto essa hora não chegava, eu decidi me arriscar um pouco mais quando puxei aquele assunto.
- Você me acharia muito babaca se eu quisesse saber o que achou de ontem? - eu disse sem rodeios. Afinal de contas, ainda não havíamos falado nada sobre e me importava muito saber se ela se sentiu bem comigo -
Marisa riu soltando o ar pelo nariz e negou com a cabeça. Permaneceu em silêncio e em seguida passou as mãos de leve pelo meu cabelo.
- Não acharia. - a encarei um pouco esperançoso - Você fez com que eu me sentisse especial e perdesse pelo menos um pouco da insegurança.
- Você se sente insegura só comigo - sorri enquanto me ajeitava melhor no sofá para recostar no ombro dela a analisando feito um cachorrinho pidão - Eu queria entender por que te causo tanto pânico assim.
Ela riu com tanta simplicidade que pensei que derreteria
- Quem mandou você destruir a sua reputação pelos corredores da firma hein?
- Deixa eu te falar uma coisa - meu tom de voz era um pouco mais sério agora; me ajeitei novamente e dessa vez fiquei de frente para ela - Posso? - ela assentiu e agora só deus sabe o que iria acontecer -
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My Fair Ladies
Romance"Fundamental é mesmo o amor é impossível ser feliz sozinho" este trecho eternizado por Tom Jobim jamais poderia ser aplicado à vida de um dos protagonistas dessa história; Miguel Falabella. Um carioca desapegado, de alma leve e faceiro que não troca...