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Miguel POV

Decidi me dar ao luxo de dormir um pouco mais naquela manhã; quase 09:30 quando finalmente despertei daquele sono pesado. Quando me virei para meu lado esquerdo ela ainda estava lá; respirava pesado e sequer saiu do lugar quando eu me mexi.

Ajeitei minha cabeça um pouco mais no travesseiro para que eu pudesse ter uma visão ainda mais privilegiada dela; agora nós estávamos de frente um para o outro e eu tinha quase certeza que ela surtaria caso abrisse os olhos e se deparasse comigo ali daquele jeito, Marisa desconfiada que era detestava que a ficassem encarando demais, mas eu não me importava. Eu só queria que ela soubesse que mesmo que eu falhasse as vezes e mesmo que não fosse o melhor namorado do mundo, eu sempre estaria ali por ela.

Seus cabelos castanhos a altura dos ombros e aquela expressão serena faziam com que eu me apaixonasse um pouco mais a cada respiração mais profunda que ela dava. Em determinado momento ela respirou um pouco mais fundo do que das outras vezes e se mexeu, eu sabia que ela iria acordar e então lancei meu melhor sorriso e fiquei ali esperando até que ela finalmente abrisse os olhos; assim ela o fez. Quando se deparou com aquele meu sorriso largo a encarando, não hesitou em corresponder muito rapidamente, para logo em seguida colocar o travesseiro na frente do rosto da forma mais meiga que só ela conseguiria ser.

- Bom dia - eu disse em um sussurro -

Ela correspondeu com uma risada frouxa ainda com o rosto sob o travesseiro.

- Bom dia. Pensei que você ia malhar.

- E perder a chance de acordar do teu lado?

Ela retirou o travesseiro do rosto e me encarou com os olhos semicerrados, estiquei minha mão direita até sua face e acariciei de leve sua pele com meu polegar.

- Primeiro eu cuido de você, meu corpo vem depois.

Marisa POV

Parecia que todos os resquícios de raiva que eu ainda insistia em sentir dele, se esvaíram muito rapidamente no momento em que abri meus olhos e o encontrei ali.

Aquele toque suave em contato com minha pele fez com que eu fechasse os olhos e me rendesse de vez àquele momento. Sentia como se o mundo tivesse parado e só restassem nós dois; era incrível como eu me sentia frágil ao lado dele sem que requeresse muito esforço pra isso.

- Que bom que reviu suas prioridades. - com os olhos já abertos, arqueei minhas sobrancelhas e aproximei nossos rostos um pouco mais. Miguel soltou o ar pelo nariz daquele jeitinho que só pertencia a ele e por um instante senti aqueles olhos tão azuis sorrirem para mim, tamanha a genuinidade daquele nosso momento de acordar juntos -

- Tolinha - ele sorriu abertamente - Quer que eu prepare um café?

Eu apenas assenti. Aquele deslizar do polegar dele em meu rosto era aprazível demais para que eu desviasse o foco. Ele me deu um beijo e em seguida se levantou da cama, a visão daquele corpo desnudo atravessando o quarto era a cena mais agradável que eu poderia presenciar em um sábado de manhã.

Ele vestiu uma samba canção cinza, calçou os chinelos e enquanto o via nessa situação só conseguia me questionar o quanto era maravilhoso construir intimidade com uma pessoa; em um dia você é formal e exibe seriedade ao contracenar com seu colega de trabalho, no outro ele simplesmente desfila trajando uma cueca de cetim minúscula bem na sua frente. Sorri com aquele devaneio bobo enquanto o assistia atravessar a porta.

Depois de fazer minhas higienes pessoais, retornei ao quarto tentando me lembrar aonde eu teria enfiado a roupa que havia selecionado para aquele dia. Iríamos a um bar bem perto dali em Ipanema, coisa de dez minutos de carro, o dono era conhecido de Miguel ou alguma coisa do tipo. Era um lugar que ele já estava habituado a ir e segundo o que ele havia descrito, era um ambiente pouco intimista, mesmo que boa parte do espaço fosse a céu aberto.

A calça jeans estava no fundo da mala, cuidadosamente dobrada junto a baby look que ele havia me dado de presente dois dias antes.

"Só pra você saber - ele disse estendendo a sacola de papel em minha direção e me encarava feito um garotinho - Isso aqui te torna quase que oficialmente da minha família. -"

Foram essas palavras que ele usou para me presentear da forma mais fofa possível; eu não era nenhuma aficionada por futebol e menos ainda faria questão de sair por aí trajando aquela camiseta do Vasco, mas aquele campeonato carioca estava mexendo com ele de uma tal forma, que eu nem teria coragem de fazer uma desfeita dessa magnitude. Mas eu me atentaria a isso depois, ainda era cedo e eu provavelmente só começaria a me arrumar depois do almoço.

Decidi que iria até a cozinha para ver como ele estava se saindo, a fala dele sobre só saber o básico para não passar fome, ecoava em minha mente agora e eu poderia jurar que ele precisaria da minha ajuda. Vesti a camiseta de algodão que ele havia deixado sobre a poltrona e caminhei até as escadas, pelo menos teria um pretexto para ficar um pouco mais com o cheiro dele em meu corpo.

Sofia POV

(...)

Num geral, não era do meu feitio permitir que as pessoas me dessem conselhos ou mesmo que de forma indireta me dissessem o que fazer; sempre gostei de tomar as rédeas da minha vida por mais que na maioria das vezes eu não fizesse a menor ideia de como agir. Mas naquela manhã eu não tive escolha.

Minha tia era uma das minhas maiores referências femininas e em diversas ocasiões também fazia as vezes de uma mãe que eu nunca tive. Levando tudo isso em consideração, eu nunca conseguia negar nada a ela.

Quando Luísa e eu acordamos, por volta de dez e meia, havia uma mesa enorme de café da manhã esperando por nós duas. Antes de me sentar vi de longe que ela havia deixado um bilhete fixado a geladeira; da forma mais doce que só ela conseguiria ser, ela nos explicava que precisou ir ao banco com meu avô. Iriam sacar um dinheiro ou algo do tipo, não prestei muita atenção nessa parte. O que me enchia mais os olhos era a maneira como ela praticamente suplicava para que eu fosse assistir aquele bendito jogo.

"Sei que o programa não te agrada, mas encare como uma oportunidade para passar um tempo a mais com o teu pai e com a Marisa também! Não quero que faça mais nenhuma grosseria"

Luísa que estava atrás de mim acompanhando aquele papel com os olhos soltou uma gargalhada quase estridente quando chegamos naquela parte.

- Viu só? A família inteira gostou dela. Só falta você abrir esse seu coraçãozinho.

A ignorei unicamente para evitar que eu a xingasse logo cedo.

De fato aquilo não estava nos meus planos. Pretendia levar Luísa a praia, a levaria para conhecer uns amigos; mas não conseguiria ignorar aquele pedido.

My Fair LadiesOnde histórias criam vida. Descubra agora