Ela era como um sonho bom

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Sofia POV

Eu conhecia bem os meus limites, sabia até onde eu conseguiria lidar com meu lado emocional e depois de mais da metade daquele dia sem nem sair do meu quarto, eu decididamente ainda não me sentia preparada para enfrentar o meu pai logo mais.

O pior era que não descartava a hipótese de que ele trouxesse Marisa para passar a noite, eu conhecia meu pai bem o bastante para saber que ele tentaria me vencer pela insistência - já que argumentar comigo era quase perda de tempo -. Eu raramente dava o braço a torcer e em uma situação daquelas seria ainda mais improvável.

Minha maior preocupação agora era o fato de Maria não ter trocado uma palavra comigo o dia todo; em situações como aquela, ela sempre vinha até mim. Independente de eu estar ou não certa. Mas não naquele dia... Eu dividia aquela casa com mais duas pessoas apenas e ambas estavam contra mim pelo visto.

Meu estômago dava voltas, também pudera, já eram quase nove horas da noite e após aquele almoço intragável não tinha me alimentado mais. Talvez a comida da mãe da Luísa não caísse tão mal naquela noite... Na verdade qualquer coisa ainda era melhor do que continuar ali. Peguei o telefone ao lado de minha cama e liguei para ela sem pensar duas vezes.

- Posso passar a noite aí? – foi a primeira coisa que eu disse assim que ela atendeu –

- Hã – ela pareceu demorar um pouco até sintonizar. Provavelmente estaria estudando – O que aconteceu?

- Posso ou não, Luísa? – perguntei impaciente já colocando meu pijama na mochila. Se ela fazia tanta questão assim de conversar, tinha que ser pessoalmente –

- Claro. – ela finamente  cedeu – Quer que eu te encontre?

Ela me conhecia bem o suficiente para saber o quanto eu gostava de pessoas eficientes e talvez mais ainda, que eu detestava conversar quando estava nervosa. Combinei de encontrá-la na porta do prédio mesmo, ela e a mãe estariam me esperando lá embaixo em dez minutos.

Joguei mais algumas coisas dentro da mochila e fiz um breve exame de consciência se deveria ou não levar o celular, digamos que eu não queria sob hipótese alguma que eles fossem atrás de mim e fora isso, o fato de que não estava esperando nenhuma ligação especial naquela noite. O deixei sobre a cama mesmo e tratei de tentar chegar até a sala sem ser notada. Abri a porta vagarosamente e tudo estava quieto demais; ainda era cedo e era improvável que meu pai já estivesse em casa. Caminhei pé ante pé e quase nem respirava, quando já estava no fim do corredor, escutei a voz de Maria bastante animada vindo da cozinha, não sei ao certo com quem ela falava, mas aparentemente tinha recebido alguma boa notícia relacionada a algum familiar. Acho que ela estava ocupada demais com aquela ligação para que me visse passando por ali, sim? Dito e feito! Cruzei a sala de jantar, apressei o passo até chegar a sala de estar e bingo! Agora já passava a chave pela porta com cautela.

Marisa POV

Vê-lo agir daquela maneira era como uma espécie de antídoto para que eu perdesse de uma vez por todas aquela insegurança. Era como se ele me dissesse pelo olhar que se preciso fosse, nós dois lutaríamos contra o mundo.

Por um momento cheguei a esquecer até da vergonha que ele tinha me feito passar; em condições normais eu exigiria que aquilo ficasse só entre nós dois, mas sinceramente? Acho que aquela nossa situação já deixara de ser segredo a muito tempo. Ele finalmente me colocou no chão quando percebeu Dennis vindo em nossa direção.

- E então? Posso convidar o casalzinho pra sair com a gente?

Eu estava louca para que ele dissesse que sim. Depois de um dia daqueles, nada melhor que sair com os nossos amigos e comemorar a nossa felicidade com bastante álcool. Acho que nós dois merecíamos. Nos entreolhamos por um segundo e tentei me empenhar ao máximo para fazer aquele pedido pelo olhar mesmo, não me restavam dúvidas de que ele entenderia.

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