Nosso estranho amor

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Miguel

O que foi que eu fiz?

Era o único pensamento a me nortear quando a notei ali, estática e com uma insatisfação evidente no olhar. Ela tinha ouvido, certeza que sim. Estive tão ocupado tentando agradar a todo mundo e agora tinha acabado de estragar tudo justamente com a pessoa que eu menos queria magoar.

Eu precisava ir atrás dela, mesmo sabendo que qualquer justificativa minha poderia ser descartada sem pesar algum. Isso se é que eu teria pelo menos a oportunidade de falar alguma coisa... Tudo pareceu ainda mais distante quando a vi sumir por entre as pilastras que separavam a cozinha e a sala de jantar. Eu não ficaria em paz se a deixasse escapar mais uma vez.

Minhas pernas teimaram em sair do lugar quando me desvencilhei de Laís; era ridiculamente impressionante como eu ficava vulnerável mesmo longe dela.

– O que foi? — Laís sussurrou disfarçadamente —

– Eu já volto. — disse sem mais delongas após nos afastar —

Ela merecia uma explicação digna mas se eu usasse de minha sinceridade logo agora, aí sim ela me odiaria pra sempre.

Sofia

Uma das muitas vantagens de ser uma pessoa observadora, era a tremenda facilidade que eu tinha em pegar as coisas no ar. Mesmo ali de uma considerável distância pude sacar que havia algo errado acontecendo dada a agilidade de Marisa ao passar pela sala, ela parecia mesmo disposta a sair dali não só pela pressa, mas principalmente pela forma como ela aparentava estar abatida; qual foi a merda que ele fez desta vez?

– Não é melhor a gente ir atrás dela? — Luísa sugeriu demonstrando ter visto o mesmo que eu —

Eu estava louca para intervir,  mas se eu bem o conhecia, nem tinha muito o que fazer. Era problema deles, não nos dizia respeito.

– Espera só mais dez segundos. — tentei abstrair a confusão com a qual ela me encarou depois disso, em breve ela entenderia ao que eu estava me referindo —

Dito e feito. Não se passou nem mais meio segundo e meu pai surgiu com aquela cara de cachorrinho caído da mudança e eu diria que a ponto de deslocar o pescoço devido ao movimento repetitivo de vasculhar cada canto daquela sala em busca dela.

– Vocês viram se a Marisa desceu? — ele expressava inquietação quando nos abordou —

– Eu não vou nem perguntar o que foi que você aprontou — revirei os olhos e me levantei do sofá ficando frente a frente com ele —

– Nem eu sei ainda.

Ah ele sabia sim. Pra cima de mim não.

– Tá perdendo tempo aqui então, pai. Vai logo atrás dela! — eu exclamei impaciente —

– Mas e se ela já tiver ido embora?

Qual era a intenção dele em sempre colocar um empecilho em tudo?

– Não foi. — peguei o copo que ele segurava tentando acelerar o processo —  Eu sei que não foi — não tinha tanta certeza assim, mas eu precisava acalmá-lo —

– Sofia, eu não queria deixar a Laís sozinha aqui de novo...

Ele estava se esquivando, dava pra ver.

– Bora, coragem — fui o afastando com uma das mãos já em direção a porta — Deixa que da Laís eu tomo conta.

– O que você vai fazer? — ele empacou de novo já no meio do caminho — Não vai ser grossa com ela, Sofia. Ela não tem nada a ver com o que tá acontecendo.

My Fair LadiesOnde histórias criam vida. Descubra agora