Uma trégua?

201 12 457
                                    

Sofia POV

[...]

Em pouco menos de duas semanas se findaria mais um ano letivo; apesar dos vários conflitos familiares e por que não dizer de algumas horas a mais de terapia, surpreendentemente minhas notas se mantiveram excelentes até então. Ocupar a mente com meus livros ainda parecia ser o mais sensato a se fazer...

Tive uma certa dificuldade em digerir por completo aquela leva de mudanças que vinham acontecendo, meu pai parecia ter assumido uma outra personalidade nos últimos dias, o que acabava nos afastando ainda mais; na verdade Laís era o nome da prioridade atual dele. Era a razão pela qual ele passava cada vez menos tempo em casa e eu até poderia estar enganada, mas talvez fosse também a mesma razão para que ele estivesse um pouco mais tenso do que o habitual. Era algo que vinha me preocupando inclusive.

- Quer almoçar lá em casa hoje?

Luísa e eu vínhamos pelos corredores logo após o soar do último sinal daquele dia indicando o término das aulas. Já a algum tempo minha mente viajava para longe e eu mal me dava conta do assunto inicial.

- Acho que não - sorri um pouco desconcertada, eu odiava recusar os convites dela - Maria disse que ia fazer estrogonofe hoje.

Aquele não era exatamente o motivo para que eu dispensasse, mas eu achei que assim ela não faria mais perguntas.

- É, sendo assim acho que não dá pra competir com a comida da minha mãe - ela riu contidamente e já na saída paramos em frente ao portão como fazíamos sempre. Depois de alguns segundos em silêncio ela me analisou de cima a baixo - Você tá estranha, Sofia. - ela semicerrou os olhos e negou com a cabeça - Aliás, você tá mais estranha do que de costume.

Eu ri como nunca já concordando com a afirmação dela.

- Por que tá dizendo isso?

- Não sei, parece preocupada e distante. Aconteceu alguma coisa?

- Não exatamente - a respondi desanimada - Nada que você já não saiba.

- Teu pai aprontou de novo?

- Ah, até que não. Mas esse lance dele com a Laís tá meio estranho. Eu jurei que não ia me intrometer nisso mas eu sinto como se fosse a única pessoa ajuizada da família.

Eu não queria prolongar demais e então procurei ser breve na minha explicação sobre o que exatamente me incomodava, ainda não tínhamos conversado a fundo sobre e era sempre bom ouvir a opinião dela.

- Tá - ela cruzou os braços e me fitou confusa - E o que pensa em fazer?

- Não é óbvio? Eu tô indo conversar agora com a Marisa.

Ela arregalou os olhos de uma tal forma que eu temia que todas as atenções da rua se voltassem a nós quando ela desse início ao surto.

- E não, não vou te levar comigo.

- Ah, Sofia... Deixa, vai? Pelo menos quando o seu pai descobrir não vai poder te matar.

Era algo a se considerar... Ela seria testemunha afinal de contas.

- Hoje não, Lu. - ajeitei a alça da mochila e me virei - Quando tudo estiver mais tranquilo eu te levo junto, prometo.

(...)

Assim que o táxi parou em frente ao edifício dela, me prontifiquei em ligar pra casa avisando que atrasaria um pouco - passar a tarde na biblioteca nunca falhava ‐.

Apesar de ter estado ali poucas vezes - coisa de duas ou três no máximo - minha memória fotográfica era excelente e eu não me esqueceria tão fácil da fachada daquele prédio branco.

Passei pela recepção torcendo para que o porteiro ainda se lembrasse de mim e não só se lembrava como até me chamara pelo nome. Depois de uma breve interação eu me despedi alegando que estava com um pouco de pressa.

- Dê lembranças ao seu pai; diga que ele está sumido.

Eu acenei de volta e em seguida tomei o elevador. Não sei se era tarde demais para me arrepender mas enquanto subia eu começava a me questionar sobre o quê exatamente eu deveria dizer a ela; ou mesmo se ela não iria me achar muito invasiva por estar ali; o mal de sofrer de ansiedade era planejar demais.

A porta se abrira e agora era tudo ou nada, o apartamento era quase de frente para o elevador e dois passos apenas seriam suficientes para que nos encontrássemos.

Afundei o dedo na campainha me precavendo para que não se estendesse demais a ponto de irritar, eu estava impaciente e quando cogitei repetir o ato ouvi alguém girando as chaves pela fechadura.

Por um momento cheguei a pensar que teria batido no apartamento errado; um deus grego me observava curioso enquanto eu não sabia se prestava atenção nele, na música ambiente que preenchia a sala de estar, ou se no delicioso cheiro que vinha da cozinha. O avental que ele usava indicava que provavelmente ele estaria comandando o fogão naquele dia.

- Oi. Eu posso ajudar?

- É, oi - apertei os olhos efetuando um gesto em direção ao hall, eu queria não demonstrar o meu nervosismo mas era impossível - A Marisa não mora mais aqui?

- Ela mora sim - ele recostou o corpo sobre o batente cruzando os braços - E você quem é?

- Sofia. Eu sou filha do Miguel - analisei brevemente se deveria concluir o restante da frase, talvez ele nem fizesse ideia sobre o que eu estava falando - Namorado dela... Ou ex, sei lá.

- Ah, então você é a Sofia - ele abriu um sorriso largo - Muito prazer --depois estendeu a mão até mim - Gustavo.

- Entra - ele se afastou da porta dando passagem - Amor! Tem visita pra você.

Eu tinha ouvido bem? Agora era como se tudo começasse a fazer sentido de novo, eu poderia até estar equivocada mas enfim conseguia entender qual era a do meu pai com a Laís.

- Sofia, por que não vai até lá? Acho que ela não ouviu - ele gesticulou apontando para o quarto dela - Ela disse que ia dar um jeito nas unhas. Eu preciso terminar o nosso almoço.

Eu assenti com um meio sorriso e fui até ela. A porta entreaberta me revelara uma Marisa bastante empenhada na missão de tirar as cutículas da mão direita; a toalha no cabelo e o roupão que ela usava indicavam uma mulher recém saída de um banho.

- Posso entrar? - bati na porta de forma suave para não assustá-la -.

Marisa POV

De imediato não conseguira distinguir de quem era aquela voz, por mais que aquele sotaque carioca um pouco carregado fosse familiar, eu ainda tinha algumas dúvidas. Quando ergui minha cabeça em direção a porta lá estava ela, um pouco diferente do que eu costumava presenciar, com uma expressão doce e talvez até com um toque de timidez.

- Sofia?! - tentei buscar a fundo o que dizer mas eu estava atônita; afastei um pouco a bagunça que havia deixado sobre a cama e me voltei para ela ainda eufórica - Claro, entra.

Tentei raciocinar durante o pequeno intervalo que tivera enquanto ela encostava a porta e adentrava pelo quarto, eu não estava só surpresa com a visita; mais do que isso, eu estava preocupada.

- Deixa suas coisas ali - apontei para o divã sugerindo que ela colocasse a mochila e a jaqueta lá -

- Aconteceu alguma coisa? - eu já temia pela resposta - Senta aqui - bati a palma da mão sobre a ponta da cama -

- Não aconteceu ainda. - ela relutara durante um tempo até decidir se sentar de frente para mim - Depende de você.

- Hum? - semicerrei os olhos entregando confusão -

- Marisa - ela respirou fundo - Você sabe que eu não viria até aqui se não fosse caso de vida ou morte né?

- O que...

- Alguém precisa parar o meu pai. - ela me encarou um pouco mais séria do que das outras vezes - E eu não consigo pensar em ninguém além de você.

Sofia POV

O nervosismo poderia ser o meu pior inimigo agora, mas eu iria organizar aquelas palavras ainda embaralhadas para que nenhuma vírgula se destoasse e ela pudesse compreender bem o que eu queria dizer.

- Eu ainda não entendi.

- Você se lembra de como agiu quando teve seu primeiro namorinho de adolescência?

Não sei se era a melhor das analogias mas eu ainda era meio inexperiente no assunto, por isso precisava me dirigir diretamente a ela.

- Em que sentido? - ela parecia cada vez mais perdida -

- Sabe - a encarei gesticulando com as mãos - Quando você começa a fazer coisas que normalmente não faria. Assim... Só pra fazer média.

- E por que a surpresa? - ela me confrontou irônica - Seu pai sempre fez isso.

- É, mas há uma linha tênue entre sair da rotina e ir ao pagode num domingo a tarde.

Minha fala fez com que ela deixasse de lado os bons modos permitindo que uma gargalhada ecoasse estridente pelo quarto. Mas eu continuava séria.

- Tá - ela se recompôs por um minuto passando o dorso das mãos pelos olhos - Só me conta por que isso te afeta tanto assim.

- Não me afeta, mas eu sinto que ele não tá bem.

- Ele te disse isso?

Eu neguei com a cabeça e prossegui

- Ele anda estranho. Desmarcando compromissos, ficando cada vez menos em casa. A Laís mora em Itaquera e agora ele não sai mais de lá. - tentei não expressar o meu descontentamento, mas era nítido -

- Hummm - ela prolongou - Agora acho que entendi.

- Não! Eu juro que não é ciúme - eu a encarei tentando manter a compostura - Mas é que até dois meses atrás ele era só um mala apaixonado que falava em você o dia todo. Agora ele vive a vida dessa moça.

- Você também é difícil de agradar né? - ela praticamente me repreendeu - Ela passou no teatro ontem e me pareceu ser uma ótima pessoa.

Minha abordagem pelo visto não ia funcionar, precisava apelar para qualquer outra coisa que a atingisse.

- Eu não tô questionando isso, eu só acho que as realidades de vocês são muito diferentes e eu não sei até que ponto ele realmente gosta dela ou só mergulhou de cabeça pra te esquecer.

Eu tinha certeza que depois dessa ela pelo menos cogitaria perguntar sobre ele, mas a única reação dela foi desviar nossos olhares; já era um começo.

- Vocês se encontraram essa semana não foi? Digo, sem ser na reunião de ontem.

Ela confirmou com a cabeça

- Eu fui ao médico e ele me encontrou por lá depois; eu tinha um compromisso, já estava em cima da hora e ele passou na farmácia pra comprar umas vitaminas que eu preciso tomar. - ela fez uma pausa estendendo a mão até a mesinha ao lado da cama, deu um gole na água e tornou a me encarar - Mas foi coisa rápida. Não devo ter parado dez minutos com ele.

- E jura que não achou nada diferente?

- Ah, ele reclamou de cansaço e insônia... Nenhuma novidade.

Eu me levantei em um só ato e comecei andar de um lado para o outro naquele quarto. Era a única coisa que eu sabia fazer quando ficava impaciente.

- Você não percebe? - parei ficando a alguns centímetros dela - Ele tá agindo estranho assim porque ainda é louco contigo... Eu não tenho nada contra a Laís, mas é nítido que ele só engatou esse namoro por que não queria que você saísse por cima.

- Eu saísse por cima?

- É lógico! - precisei alterar um pouco o tom de voz - Como já era previsto aquela besta ia se arrepender e ia voltar atrás, ia te pedir outra chance. Quando ele viu que você era jogo duro e de quebra arrumou um gato que dá de dez nele...

- Ei, Sofia - ela me interrompeu antes que eu concluísse - Eu não voltei com o Gustavo só pra atingir o teu pai, acho bom que isso fique claro. Aconteceu que ele surgiu em um momento onde eu estava vulnerável demais, onde tinha minhas incertezas sobre o Miguel e achei que seria o mais certo a se fazer. Gustavo e eu ainda tínhamos algo mal resolvido. - ela fez uma pequena pausa - Aliás, você mesma é testemunha do quanto estávamos brigando.

- Então você tá me dizendo nas entrelinhas que ainda gosta dele...

- Não, eu não disse isso - ela ergueu o polegar em minha direção - Não mistura as coisas. Você sabe que a gente preferiu manter a amizade por conta do bebê e também porque não faz sentido viver em pé de guerra se vamos trabalhar juntos ainda por um bom tempo.

Eu já estava quase entregando os pontos, eu queria que ela admitisse a qualquer custo, mas pelo visto nada do que eu dissesse seria suficiente. Das duas uma, ou ela já tinha mesmo superado de vez ou sabia atuar muito bem.

Aparentemente já não restava nada que eu pudesse fazer e quando eu ameacei sair de vez daquele lugar, me ocorrera algo. Era minha última tentativa.

- Você não vai nem repensar o convite que a minha tia te fez de passar o Natal com a gente? Ela disse que os seus pais iam viajar né.

- Eles vão sim. - ela se levantou e caminhou até mim - Mas eu já conversei com ela e dispensei, Sofia; o Gustavo e eu vamos pra Londrina com a mãe dele. E além do mais eu não acho que o seu pai gostaria de nos ver por lá.

Eu encarei o chão por um instante antes de decidir se eu deveria ou não apelar.

- Marisa - eu a analisei com um semblante vago - Não tem chance mesmo de uma reconciliação?

Ela suspirou e pareceu pensar bastante antes de responder, talvez fosse meu último resquício de esperança.

- Eu segui a minha vida, Sosô. - ela sorriu passando as mãos pelo comprimento dos meus cabelos - Seu pai fez o mesmo e tá tudo bem. O nosso laço vai ser pra sempre, mas como casal a gente não dá certo.

Eu não tinha a menor ligação com ela e muitas das vezes desejei que ela jamais tivesse cruzado o nosso caminho, mas agora eu sentia um pesar tão grande no peito. Era como se eu fosse uma criança tendo que lidar com a separação dos pais. Apesar das nossas diferenças e dos diversos embates, eu não queria que as coisas chegassem ao ponto que estavam. Talvez eu devesse dizer a ela tudo isso, mas aquilo não era do meu feitio.

- Eu acho que já vou indo. - coloquei a mão sobre a maçaneta já prestes a sair -

- Eu ia te falar pra ficar e almoçar com a gente, o Gustavo é um ótimo chef... Mas a Maria deve estar te esperando né?

Eu assenti um pouco apática.

- Não esquece suas coisas - ela deu meia volta indo até onde eu tinha deixado a jaqueta e a mochila, agradeci de forma breve já me despedindo dela -

- Sofia, eu acho que a gente não vai se encontrar de novo até o ano que vem.

Eu a observei ir até o closet e em seguida voltar com uma sacola de papel em mãos

- Eu ganhei essa saia no amigo secreto da firma - ela sorriu de forma contida - Não sei se o seu pai comentou. Enfim, ela ficou apertada e além do mais é bem mais curta do que o que eu normalmente usaria - ela tirou a peça da sacola - Eu acho que é mais parecida com você ou com a Luísa do que comigo. - sim, ela tinha razão, eu adorava jeans rasgados - Fica como meu presente de Natal. - ela sorriu me entregando o pacote -

- A Luísa que não se atreva, já é minha - nós duas rimos em uníssono - E... - estava prolongando porque realmente não sabia se seria patético demais - Vê se não some... Eu não costumo receber muitas notícias de você e do meu irmão - sorri com certa ternura - E não é nada fácil ter que vir até aqui pra saber.

Quando eu me virei para abrir a porta ela me surpreendeu me puxando para um abraço; eu estava meio resistente e parecia que meu corpo se recusava a me obedecer, aquilo era estranho afinal de contas, mas eu sabia que ela estava agindo com sinceridade e aos poucos fui cedendo.

- Quer que eu te leve até a porta?

Eu balancei a cabeça em negação tentando não prolongar ainda mais tudo aquilo, meu estômago começava a dar voltas e eu ainda precisava pensar se valeria ou não a pena ter uma conversa franca com o meu pai. Estávamos afastados e a real era que só agora eu me dava conta de que talvez esse relacionamento atual fosse mais cômodo pra ele...

Talvez Marisa é que fosse mulher demais pra ele...

Marisa POV

Estaria mentindo se não reconhecesse o tamanho do impacto que aquela inesperada visita me causara; mais ainda se dissesse que meus sentimentos não haviam se confundido. Eu estava em paz com a minha escolha e fazendo de tudo para que valesse a pena; Gustavo me transmitia segurança e tinha um jeito único de me fazer sentir a mulher mais especial do mundo, mas era covardia pensar que talvez Miguel e eu estivéssemos sendo injustos um com o outro.

Fui até a janela e por detrás da cortina a vi atravessar pelo gramado, parecia apressada até. Naquele intervalo eu fazia um breve esboço do quanto Sofia estava mudada; era nítido que ainda havia uma certa resistência em relação a mim mas ela tinha amadurecido muito. E apesar dos pesares eu ainda a via como uma menina com uma grande carência emocional que tentava a todo custo suprir uma ausência de anos... Sempre alertei Miguel quanto a isso e querendo ou não me preocupava o fato de que agora eu não poderia mais ajudar... Eu tinha me afeiçoado à ela sem sombra de dúvidas.

- Ma - Gustavo adentrou pelo quarto fazendo com que eu me desligasse de vez dos meus pensamentos - Eu nem vi que a Sofia tinha ido embora - ele se aproximou de mim me abraçando por trás -

- É, ela não tinha intenção de demorar. - disfarcei -

- E o que ela queria?

- Nada de mais.

Ele não era invasivo e eu sabia que não ficaria insistindo para que eu contasse tudo em detalhes.

- Vamos almoçar? - ele fez o convite e me virei para encará-lo - Lembrando que você precisa se alimentar muito bem, senhorita. - ele sorriu deixando vários beijos em meus lábios - Temos que cuidar desse grandão que vem aí.

Eu detestava compará-los mas ele era tão doce que se tornava inevitável; eu me derretia em todas as ocasiões em que ele me mimava daquele jeito e felizmente era um gatilho para que eu entendesse que eu não merecia menos do que isso.

Miguel POV

- Sofia disse se ia demorar?

Me sentei à mesa já em um ato de desistência; eu estava com fome e não conseguia mais manter o foco naquele noticiário bobo. Minha filha odiava comer sozinha, mas hoje eu infelizmente precisaria deixá-la na mão. No outro dia logo cedo iria ao Rio e queria resolver tudo que eu precisava ainda essa tarde.

- Não, mas disse que vinha comer em casa.

Maria sempre me tranquilizava quando eu estava uma pilha de nervos. Eu a chamei para almoçar comigo e em questão de poucos segundos depois disso, ouvimos algo ou alguém praticamente atravessar a porta da sala de estar para o outro lado. Não precisava ser nenhum expert para saber de quem se tratava; Sofia adentrou pelo corredor apressada o bastante para sequer olhar para os lados.

- Ê, angústia! - gritei da cozinha em tom de brincadeira - Uma hora ainda quebra essa porta.

Maria e eu nos entreolhamos aguardando a réplica de Sofia e nada. O único som audível era a porta do quarto dela batendo com a mesma intensidade que a da sala.

- Deixa que eu vou.

Eu estava calmo naquele dia e nada seria capaz de tirar a minha paz; passei pelo corredor já pensando com meus botões sobre o que a teria deixado tão nervosa e não pude deixar de notar a bagunça que ela havia deixado sobre o sofá.

- Quantas vezes eu já te disse pra guardar suas coisas depois que chega? - elevei a voz para que ela ouvisse bem a minha insatisfação -

Assim que puxei a jaqueta percebi que havia uma sacola diferente por baixo de tudo, de imediato ia deduzir que ela tinha dado um perdido em Maria para que fosse as compras depois da aula, mas o estranho era que eu já tinha visto aquele embrulho em algum lugar.

Eu não costumava mexer nas coisas dela mas a curiosidade para saber o que tinha ali dentro estava me matando, afinal de contas eu ainda não tinha dado a mesada e após algumas loucuras dela com o cartão eu o havia confiscado. Quando encontrei aquele jeans no interior da sacola eu começava a desconfiar que havia algo de muito errado acontecendo. Se não era o mesmo que Marisa havia ganho no fim de semana durante nosso amigo secreto pelo menos era muitíssimo parecido.

Se eu quisesse confirmar, só indo até ela. Apesar de ainda não querer acreditar que ela teria feito uma coisa dessas, respirei fundo e passei a mão pelo rosto algumas vezes tentando manter a compostura. Fui até o quarto dela e em uma fração de segundos abri de uma só vez aquela porta.

- Onde arranjou isso?

(...)




My Fair LadiesOnde histórias criam vida. Descubra agora