Existem algumas formas de se sentir o amor que um dia já foi prometido. Veja bem, mas nem todas as promessas se cumprem. A você será permitido sentir, mas talvez o que for seja levado pelo vento e se perca entre alguma janela aberta. Alguns pássaros levam horas se debatendo contra vidros fechados, outros morrem. A você será permitido sorrisos, mas serão breves, como a folha verde que logo perde sua cor e se junta à terra seca no chão. Seus pés andarão descalços em meio a galhos secos e pétalas desfeitas das rosas que já foram. Seu vestido longo e branco é fino demais para suportar a tempestade que abraça o destino de visita.
O vento que vem do norte sacudirá seus cabelos contra seu rosto, você perderá o equilíbrio e controle dos seus pés, lutará para se manter erguida, rodando, se debatendo entre árvores e constelações que envolvem essa grande teia. Seus olhos não enxergam a saída que você esqueceu de construir e o barulho não te deixa pensar. Suas roupas já se desfizeram e seu corpo nu é a única casca forte o suficiente para suportar nossa tempestade.
Você está encolhida, agarra suas pernas, abraça seus braços, fecha os olhos com uma força que não tem e grita. Você grita para poder se ouvir em meio ao caos ao redor. Você grita para perceber que ainda está lá, grita para pedir ajuda, grita para que o vento pare de cortar sua pele e sacudir esse corpo mole e sem controle, que muito lembra as pequenas flores que soprávamos ao vento no verão. Então ouve. Ouve o grito de ajuda, um grito agudo e vazio que vai perdendo forças, mas não cessa. Você não para. Não pode parar até que tudo pare. E então... acontece.
Meus olhos se abrem devagar e uma luz entra. Não sinto mais frio, o corpo repousa no chão, sinto o verde úmido roçar minha pele. Eu me sento devagar, meus cabelos deitam sobre minhas costas e vejo que briso. Sou leve e constante como o voo errado de uma libélula, que força suas asas para baixo e para cima, indo de forma incerta a algum fim bem traçado. Eu desenho com os dedos estrelas no ar. Meus lábios falam de silencio em brincadeiras infantis, e com isso, respiro. O corpo arrepia, uma lágrima fria rouba o calor do meu rosto enquanto desliza sem pressa por um caminho tão conhecido.
Posso caminhar, mas prefiro ficar parada. Seu corpo já foi como as cordas de um velho violão que adorava ser tocado. Dedos contorcidos e batidas sacudiam almas cristalinas banhadas de orvalho. O cheiro de noite invadiu seu crepúsculo. Mas já era tarde, nem todas as flores desabrocham pela manhã. Ela era como a primeira estrela. Imposta entre o colorido resto do que foi luz e o início de uma noite manhosa, revestida de brilhantes corpos celestes. Sem medo, sem futuro ou passado. Solar manifesta em ti.
E no fim, depois de tudo, você ainda irá se perguntar, como só consigo ser livre entre papéis e telas?
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Mariposas por todos os lados
PoetryO sentir de ser tudo e ainda não aguentar suportar o nada.