Faz alguns dias que ele foi embora, faz alguns dias que eu mandei ele ir. Apagamos as fotos, escondemos as roupas e mudamos os móveis. Ele não vai voltar, ele nunca soube o caminho de casa. As noites podem se alongar até se misturarem com os dias. Às vezes nada faz sentido e minha boca não encontra palavras, então fico em silêncio. Presa no silêncio, abraçada pelo frio. Meus pensamentos são silenciosos, assim como meu caminhar. Minhas mãos também aceitaram ao voto, não podia escrever, a ordem é de silêncio. Mas pude pintar.
Então chorei, e senti cada lágrima. O choro é como uma maré, vai e vem, e quando vem transborda, e quando vai seca. E nada importa. Nem o tempo, nem o toque, nem o que foi. É como estar só de casaco e sem meias no frio. As árvores sacodem com o vento e ainda são imagens.
as memórias são imagens. As imagens são recortes do que já não existe.
meu café escorre pela xícara, queima o lábio e pinga na blusa. A blusa que não sai de mim, nada nunca sai de mim. Menos ele, ele foi embora, e eu mandei ele ir.
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Mariposas por todos os lados
ŞiirO sentir de ser tudo e ainda não aguentar suportar o nada.