em casa

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Agora, mais que nunca, precisamos escrever. Escrever mais e mais palavras, mesmo que não façam sentido, mesmo que não sejam lidas. É preciso escrever. 

Esse momento não é sobre se sentir só, ou sobre se sentir alheio em meio ao tudo. É também, mas não só. é sobre medo e coragem, sobre amor e dor, fé e força. é sobre saber desistir e poder lutar. É sobre a humanidade. E trancada em minha casa sou obrigada a me fazer humana. E, apesar de sentir cada vez mais a falta das coisas simples, também consigo ler as entrelinhas da poesia que, de tanto recitar de co, esqueci seu significado. 

sinto falta de me arrumar para ir estudar, de dar bom dia ao porteiro, de comprar pão de queijo. De ver idosos indo à padaria. Sinto falta de sentar perto das minhas amigas, de ir na biblioteca, sinto falta de esbarrar em estranhos e ver as pessoas andando sorrindo. Sinto falta dos professores falando, do céu noturno e da escuridão iluminada nos corredores da UnB. Sinto falta dos almoços em família, das crianças correndo, de acordar minha irmã na cama, de bagunçar seu cabelo e dar boa noite, sempre apertando sua mão. Das intrigas, da correria, dos beijos apressados, sinto falta de sentar no meio das escadas, só pra ouvir como foi seu dia vendo sua pupila dilatar.

Mas também sinto falta da compaixão que parece aparecer, da solidariedade em meio a destruição, do amor, que dá a vida enquanto tenta salvar outra. 

Não consigo compreender essa realidade. Ainda não e, sinto que demorarei muito tempo. Não só eu, meu eu já não existe em si há muito, mas todos. Sentimos como um, pagando o preço de um como todos.  

Acredito que muitos ainda negam essa realidade, negam o que está acontecendo, e se prendem em vídeos e notícias escandalosas, como uma alternativa. Talvez os calados sejam os mais cientes dos perigos do Real. E, quando nessa situação, a única opção para sobrevivência parece ser o total isolamento. De corpo e mente. 


Mariposas por todos os ladosWhere stories live. Discover now