O pássaro
- Atrás de você!
Era uma tarde quente, o céu dançava entre o amarelo, azul e rosa, estávamos sentados à mesa de madeira da cozinha. Uma brisa suave sacudia os gerânios da sacada e entrava pela janela. O aroma do café recém passado e o bolo de fubá partido traziam lembranças. O desenho de flor das xícaras, o bordado do forro de mesa, enlaçando miçangas com pombas, ramos e flores. A pequena bolsa de chá de ervas imersa na água quente do bule de porcelana. O ranger da rede sacudindo ao vento na varanda. A luz do Sol, fazendo com que a cor da pele dela mudasse. Era gostoso.
Em cima do muro de tijolos alaranjados gastos e manchas de musgo, pousou um passarinho. Médio. Não cabia na palma da mão, mas podia ser facilmente carregado nos ombros. Suas penas e plumagens compunham uma palheta, que transitava entre o marrom e o mais claro bege. Seus olhos eram arredondados, completamente pretos. Bico fino, pescoço um tanto alongado. Algumas penas brancas detalhavam o peito estufado. Saltitava cheio de graça. Suas garrinhas analisavam a superfície irregular. Cutucava o musgo com precisão. Olhava sempre ao redor. Ele sabia o que fazia.
O muro, o céu, a brisa, o pássaro, todos eram um. Como uma poesia, se completavam. Eu a avisei.
- Atrás de você!
Ela demorou alguns segundos, entre colocar a xícara de volta a mesa e virar para a janela. Mas ele já havia voado. Quase tão rápido quanto seu pouso. Abriu as asas e se foi. O Sol não tingia mais sua pele, a brisa parou.
- Não vejo nada.- ela disse.
E era verdade. Não havia mais nada para se ver.
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Mariposas por todos os lados
PoetryO sentir de ser tudo e ainda não aguentar suportar o nada.