CAPÍTULO III

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Eu não sou uma mulher má, acreditem em mim

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Eu não sou uma mulher má, acreditem em mim. Porém tampouco tenho inclinações para condescendência. Não compreendo Londres, acima de tudo. Quero dizer, o jornal de Stanley é comprado por toda a sociedade, e pode ser prepotência minha, mas acredito que muitas damas — e certamente cavalheiros também — estão mais interessados em meus comentários do que em política, filosofia ou anúncios de vendas. As edições esgotam-se rápido, minhas palavras são comentadas no salão, as pessoas parecem gostar...

Até que eu mencione seus nomes.

Recebi ameaças. Ameaças graves, porém nulas já que ninguém sabe quem sou. Eu tampouco faço questão de revelar minha identidade, não por medo, mas o anonimato traz liberdade de várias formas. Sendo assim, não compreendo as duas facetas da sociedade londrina. Adoram fofoca, adoram escândalos, adoram uma pessoa que diz o que pensa, mas quando a própria hipocrisia é apontada recuam. Palavras afiadas são boas apenas quando não lhe ferem.

Não é minha intenção prejudicar ninguém — na maioria das vezes, confesso. Tudo o que comento tem um propósito maior. Ás vezes apenas compartilhar momentos de alegria, mencionar algum fato curioso, ou gerar reflexão. ''As fofocas de Silewood'', como muitos chamam minha coluna, na verdade não passam de considerações despretensiosas sobre viver, a sociedade e moral. Meus dedos não se calarão por ameaça alguma. Nunca. E que esteja dito.

Deste modo continuemos com a programação inicial. Vocês souberam que a caçula do Sr.Collins aparentemente caiu de cavalo em Bath? Sinto muito por ela, mas acho uma tremenda coincidência que tenha sido as vésperas do sarau da família. Uma lástima, pois há alguns anos escutei...

(...)

Srta. Silewood Stanley Journal, abril de 1830.

— Oh meu Deus! Se eu contar vocês nem conseguirão acreditar...

A Srta. Bridget Hawkins aproximou com entusiasmo da mesa onde lady Eliza e Samantha Duncan descansavam. Elas estavam no baile de lady Flemming em um sábado à noite. Era um bom evento, lotado e certamente divertido, ao menos para qualquer um que não fosse Eliza ou Samantha. Há bons minutos elas haviam desistido de conseguir uma dança e direcionaram-se para uma da mesa, onde se concentraram apenas em comer todos os aperitivos de uma bandeja que pegaram no balcão. Bridget, por outro lado, parecia extremamente disposta a fazer qualquer coisa para chamar atenção de algum rapaz. Qualquer um.

Com a aproximação de Bridget, tanto Samantha quanto Eliza contraíram os músculos. Elas conheciam bem a Srta. Hawkins e conheciam melhor ainda os perigos de seu entusiasmo. Bridget puxou uma cadeira, alisou o vestido de musselina após sentar-se e continuou fitando as amigas com um fervor duvidável. Lady Eliza por fim deu de ombros, pegou mais um doce e esforçou-se para parecer minimamente interessada na história da amiga.

— Se nós não vamos acreditar não há porque contar, não é mesmo?

— Pare de besteira, Liz — Bridget sorriu — dancei com Aaron Crosby.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora