— Você tem permissão para beber isso? — lord Morley perguntou.
Lady Eliza deu de ombros, relevando a pergunta do marquês. Ela estava em uma das laterais do salão, sozinha e em silêncio. A principal função de Liz era observar a amiga, a nova Sra. Paine, cumprimentando os convidados após a valsa dos noivos. Ronnie estava radiante com seu vestido esverdeado, adornado com rendas nobres e joias familiares. Seu cabelo estava esplendorosamente preso no topo da cabeça, preso apenas por uma cintilante tiara com diamantes e esmeraldas, um presente do rei aos Paine há mais de duzentos anos.
Veronica Besset agora estava oficialmente casada com Reynard Paine. E ela não poderia estar mais feliz por isso.
Eliza, por outro lado, não compartilhava a animação da amiga. Era óbvio que ela apoiava a união dos dois e estava feliz pelo casamento, porém devia dizer que estava, acima de tudo, entediada. E sozinha. Era estranho confessar, mas sua maior distração havia sido os primos de dez e doze anos de Ronnie, que haviam ficado com ela após a cerimônia. Entretanto com o cair da noite eles foram retirados do salão e a única coisa que sobrou para lady Eliza foi um palanque lateral e, claro, algumas taças de vinho tinto.
Sem dúvida o fato de estar sozinha, sem a companhia do pai ou das amigas era algo consideravelmente triste. Eliza gostava de fazer observações, comentários ou até jogar conversar fora, rindo. Ainda assim o fato de estar sozinha trazia ao menos um deslumbre da liberdade. Não havia ninguém reparando em sua conduta. Os convidados estavam distraídos demais com Ronnie deslumbrando o salão para se preocupar com a desajeitada Eliza Gunning abandonada em um dos cantos.
— Não preciso de permissão para nada, lord Morley — Eliza disse — assim como você estou aproveitando a festa.
Frederick estreitou o olhar. Ele pegou um cubículo de queijo camembert e levou até a boca. Estava ótimo. Mas ficaria melhor ainda harmonizado com um dos vinhos leves...
— Aproveitando? — ele murmurou — Atrás de um palanque?
Lady Eliza deu de ombros. Ela também pegou um dos cubículos, mas escolheu um queijo roquefort. Talvez ela devesse pegar outra taça também... Concentre-se, Eliza! Lord Morley está implicando com você. Mais uma vez.
— Não estou com a mínima vontade de ir até o tumulto do salão. Estou muito bem aqui, obrigada — respondeu — mas e você? Não prefere dançar ou até se juntar à mesa de jogos?
Lord Morley negou com a cabeça.
— Não estou muito disposto a arrancar o dinheiro desses homens hoje, — disse — muito menos dos Besset que tiveram que desembolsar boa parte da fortuna para o dote de sua amiga. Será que ela tem noção da quão valiosa é?
Liz deu de ombros. Ela usava um vestido azul esverdeado, em um tom claro e delicado, repleto de bordados e babados pelo tecido. Havia dispensado ajuda da criada para fechar o corset naquela noite, mas considerava que havia feito um bom trabalho sozinha. O quadril desenhava-se junto ao caimento da saia, a cinturava estava perfeitamente marcada e os seios, impulsionados pelas amarrações firmes e certeiras, projetavam-se para cima do decote.
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OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]
Historical Fiction❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe uma das damas mais populares da sociedade. Acostumada a tomar chá de cadeira com suas melhores amigas, ela pouco nutre esperanças de se casar...