C A P Í T U L O XXVIII

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— Pela milésima vez, senhora

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— Pela milésima vez, senhora. Você não pode entrar.

Não era a milésima vez que o rapaz repetia a sentença, mas certamente não era a primeira, nem a segunda e muito menos a terceira. Eliza Gunning era insistente. Ela tinha saído escondida do pai no meio da noite, contratado uma carruagem de aluguel, caminhado mais alguns metros sozinha em meio a bêbados, batedores de carteira e prostitutas, para no fim ser barrada na entrada do clube? Não, não mesmo.

Ela saiu de perto do homem mais uma vez. Eliza não tinha muito que fazer por ali. O movimento era intenso, então a todo o momento carruagens chegavam e estacionavam, outras saíam, e alguns cavalheiros andavam a pé. Dois deles passaram bem ao lado de lady Eliza e um deles chegou a retirar o chapéu para ela. O homem aproximou-se sorrateiramente, com os olhos tremeluzindo como um predador, e ela se afastou.

— Oras, belezinha. Não fuja de mim!

Ele avançou em direção à Eliza que teve como único reflexo tentar bater nele com o guarda-chuva. Infelizmente o objeto não era suficiente para deter um homem mais velho e corpulento e não demorou a que o objeto caísse ao chão. Ela cambaleou alguns metros e logo bateu em uma carruagem. Pisou em uma poça d'agua, encharcando seu vestido azulado e a capa que usou na mesma manhã. O homem continuou indo em direção a ela.

Eliza se encolheu, amedrontada. Estava prensada entre o troglodita e uma carruagem enlameada.

Docinho, olhe para mim. — Ele cambaleou em sua direção. Provavelmente já havia bebido alguns copos — Você é tão pequeninha e bonitinha. Quero você.

— O quê? Não! — ela cuspiu.

Os dois homens riram. Mesmo vendo o pavor nos olhos de Eliza o outro nem fez questão de ajudá-la.

— Ah, claro que não... — ele zombou — vamos diga seu preço.

Ele levou as mãos até os ombros dela e escorregou por seus braços. Eliza se afastou, grunhindo e tentando escapar por trás do veiculo. Ele fechou o caminho.

— Docinho, você é minha. Agora venha!

Eliza gritou assim que ele agarrou seu pulso. O outro homem achou muita graça na situação e levou a garrafa que tinha em mãos até a boca, bebendo o resto do liquido. Liz pressionou os olhos, fechando-os. Ele atacou o recipiente vazio no chão e estava prestes a avançar na direção dela também quando a mesma garrafa foi sua ruína. Ela não escutou nada, apenas ouviu um urro de dor e o barulho do vidro espesso se quebrando.

— Maldita! — o homem atingido gritou.

Em seguida xingamentos inimagináveis foram audíveis para Eliza. O homem corpulento que a agarrava soltou-a e cambaleou até o amigo que continuava xingando, quase caindo ao chão. Eliza olhou horrorizada para o sangue que saia de sua cabeça.

— Ah, ele não vai morrer — uma voz feminina soou — já fiz isso inúmeras vezes.

A mulher que havia desferido o golpe estava há alguns metros dele, observando com desdém a patética cena. Ela devia estar na faixa dos vinte e cinco aos trinta anos, tinha cabelos avermelhados, mas provavelmente coloridos artificialmente como algumas mulheres faziam. Usava um vestido roxo e verde espalhafatoso, cheio de babados e com um decote bem generoso. Eliza não a considerou feia, mas também não era a maior beldade da cidade. Entretanto, sua pose e poder fazia com que a força que exercia fosse maior ainda.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora