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Entretanto, o que mais me surpreendeu nessa última semana foi a conduta de lord Morley. Chegou aos meus ouvidos que o marquês de Normanbury andou criticando a minha coluna do sarau dos Duncans. Fui chamada, inclusive, de covarde e hipócrita. Não quero soar rancorosa, mas acho importante ressaltar que Frederick Morley passou os últimos cinco anos de sua vida afastado de Londres, viajando pelo mundo e colecionando affaires, enquanto sua mãe — a preciosa marquesa-viúva — permaneceu reclusa em sua propriedade em Mayfair, tomando conta da única irmã de lord Morley, que a propósito está em sua primeira temporada na sociedade.
Aceito críticas. Aceito críticas, pois se não o fizesse não estaria aqui. O que mais recebo são comentários negativos e ameaças, porém acredito, acima de tudo, que se alguém deseja me condenar, esse alguém deve ter ao menos uma mínima moral para criticar minhas atitudes. Penso que infelizmente esse não seja o caso do indecoroso lord Morley.
Escolhi sim o anonimato. Não me arrependo de minhas escolhas e isso não me faz uma fonte menos confiável. Afinal, se ninguém sabe quem eu sou, não há porque mentir. Meu compromisso é acima de tudo com a verdade, minha querida Londres. E apenas posso trazê-la em segurança para vocês se continuar desconhecida. Alguém apenas precisa avisar isso a lord Morley. Incluam também uma lista de mulheres solteiras, pois aparentemente ele somente descobriu que lady Ronnie Besset estava noiva do Sr. Paine após procura-la pelos salões durante o sarau inteiro.
Homens apaixonados...
Srta. Silewood — Stanley Journal, maio de 1832.
— Eu odeio essa mulher! — Frederick bradou.
Cordelia sorriu discretamente e enfiou novamente a cabeça no livro. Ela estava no sofá, com as pernas próximas ao corpo e tendo em uma das mãos uma xícara de chá bem quente — como ela sempre gostava. O irmão estava na poltrona á frente, com o jornal de Stanley sobre o colo e fervendo de raiva.
A menor não conseguia disfarçar a diversão por vê-lo assim. Cordelia era uma verdadeira admiradora da Srta. Silewood, e apesar de amar o irmão, não podia evitar a euforia por ter um membro da família sendo citado na coluna. Além de que, de certa forma, Frederick merecia. Não havia nenhuma razão consistente para ele ter feito aquele discurso na frente de toda a sociedade.
— Ela não disse nada demais, Freddie — Cordelia abafou um risinho — a Srta. Silewood apenas respondeu a suas criticas.
— Mentira — murmurou — ela tentou me atacar. Está tão desesperada que teve que apelar à minha vida pessoal.
Cordelia calou-se, sabendo que estavam entrando em um tópico perigoso. A jovem já havia escutado alguns rumores sobre as condutas românticas do irmão, mas esse não era um assunto discutido pela família. Nervosamente ela pousou a xícara sobre a mesa ao seu lado e voltou-se completamente para a leitura do livro. Frederick ainda não estava satisfeito. Ele passou os dedos pelas têmporas e fitou a irmãzinha tentando compreender o que havia escondido em seu olhar.
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OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]
Historical Fiction❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe uma das damas mais populares da sociedade. Acostumada a tomar chá de cadeira com suas melhores amigas, ela pouco nutre esperanças de se casar...