— O que há de errado com você, Freddie? — Cordelia indagou.
— Nada, oras. — Mentiu — Estou perfeitamente bem.
A irmã negou com a cabeça.
— Não, não está, mas tudo bem se não quiser contar — ela serviu-se com pouco de presunto.
Lord Morley sentou-se à mesa, tenso. Permaneceu parado por alguns instantes antes de servir-se com o desjejum. Se a mãe percebeu seu nervosismo, não falou nada, mas seus olhares se cruzaram algumas vezes.
Frederick estava arruinado.
Respirou fundo tentando concentrar-se em qualquer coisa, exceto seu sonho. Precisava tirar aquelas imagens da cabeça, mas a cada segundo de distração as imagens voltavam para sua mente. Era completamente aterrorizante. Frederick considerava o sonho do dia como um de seus mais assustadores pesadelos — mesmo que ao acordar ele tenha notado que suas calças não concordavam muito com o apontamento. Era ainda pior do que a vez que sonhara que um grilo gigante estava atacando Londres e devorando as cabeças dos moradores locais. Muito pior. Ele havia sonhado com Eliza. Com Eliza nua, em sua cama, fazendo-o delirar de prazer.
Em outras situações um sonho como aquele seria ótimo. Quantas vezes ele tinha sonhado com suas amantes e acordava, assim como naquele dia, repleto de desejo? Inúmeras. Só que dessa vez era diferente. Poderia ser qualquer mulher, mas por que a escolhida foi justo Eliza Gunning? Frederick sentia-se, em suma, culpado. Culpado por mantê-la em sua cabeça, culpado por desejá-la dessa forma, e o pior, culpado por ter gostado. Ao acordar e constatar que havia sido apenas um sonho lord Morley foi tomado por sentimentos conflitantes. Vergonha, ardência, repulsa e a inexplicável raiva de Edward Farnsworth por estar gritando tão alto do lado de fora a ponto de tê-lo acordado. Se não fosse por Farnsworth... Por Deus, Frederick precisava terminar aquele sonho. Precisava ver o que acontecia depois que ela rolava os olhos, mergulhava as mãos em seu cabelo e arfava em seu ouvido. Precisava...
— Não! — Lord Morley grunhiu.
Cordelia piscou algumas vezes. A marquesa-viúva balbuciou.
— Aparentemente meu filho não acordou com o melhor dos humores essa manhã.
Cordelia sentou-se a frente dele, abismada. Ela não tirou os olhos do irmão enquanto comia suas torradas com geleia. A garota não conseguia compreender o que havia de errado com ele e se dependesse de Frederick ela nunca entenderia. Ele jamais confessaria em voz alta que estava tendo sonhos eróticos com a inconveniente Eliza Gunning. Jamais, jamais. Custava ele mesmo aceitar sua situação.
— Impossível acordar de bom-humor quando o vizinho está fazendo um escândalo na rua as oito da manhã. Edward Farnsworth não deveria estar casado e morando sozinho, com sorte, longe daqui?
Cordelia riu baixinho.
— Algumas pessoas devem perguntar o mesmo sobre você.
— Eu estou procurando uma esposa. — Frederick garantiu — Você viu com quantas moças eu dancei ontem.
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OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]
Historical Fiction❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe uma das damas mais populares da sociedade. Acostumada a tomar chá de cadeira com suas melhores amigas, ela pouco nutre esperanças de se casar...