C A P Í T U L O XXX

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Eliza atirou mais uma pedrinha na calçada do outro lado da rua. Dessa vez ela quase acertou o vidro de lady Watson. Ver a baronesa irritada não era sua intenção no momento.

E então Liz suspirou. O seu monte de pedras estava diminuindo e ela não estava com a mínima vontade de voltar para o salão onde ocorria a recepção de seu casamento. Ela ainda estava apavorada. Nunca viu tantas pessoas conhecidas juntas, nunca foi tão bajulada, e as palavras do padre ainda ecoavam fortemente em suas memórias.

Você aceita esse homem como seu legítimo esposo, para viver com ele, conforme os mandamentos de Deus, em sagrado matrimônio? Promete amá-lo, respeitá-lo, obedecê-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?

E então ela havia pronunciado em alto e bom som:

Sim.

Estava casada! Eliza mal podia acreditar nisso. Pegou mais uma pedrinha e atirou novamente em direção à casa dos Watson. Se um vidro quebrasse ela seria responsável para comprar outro, não havia problema algum. Só precisava distrair sua tortuosa mente que não a dava desconto. Como as coisas haviam acontecido tão rápido? Em maio não tinha nenhuma perspectiva para se casar. Há duas semanas estava invadindo o clube de Austin a procura de lord Rudenport.

Ela deixou de lado o ato de vandalismo e pegou o buquê que estava ao seu lado. Tratava-se de uma bela mistura de lírios com não-me-esqueças e combinava perfeitamente com os tons de seu vestido. Os lírios foram escolhidos para representar a pureza e a inocência da noiva e a não-me-esqueças simbolizava fidelidade e amor verdadeiro, lembrando a todos que eles haviam se casado por amor, não por conveniência. Uma fita azulada mantinha todos os ramos juntos e os prendia com um simples laço.

Eliza observou cada detalhe de seu buquê. Em breve teria que se livrar dele, atirando-o para as convidas solteiras que quisessem contrair matrimônio — Eliza particularmente torcia para que Samantha Duncan fosse a sortuda. Assim, aproveitou cada segundo, tocando suavemente suas flores e sentindo o aroma com cuidado. Queria se lembrar do cheiro do buquê quando fosse mais velha. Queria guardar todo detalhe daquele dia em sua mente para torna-lo inesquecível. Tudo estava tão surrealmente bom que ela mal podia acreditar que era real.

— Belas flores, — Ronnie disse — você que escolheu?

A Sra. Paine apareceu de supetão na calçada. Ela ainda usava o vestido de madrinha, mas parte do penteado do casamento havia se desfeito. Ainda assim a senhora estava deslumbrante. Ela se sentou ao lado da amiga, cheirando o buquê também. Eliza sorriu por receber a nova companhia.

— Escolhi as não-me-esqueças. Vovó Margareth insistiu para que eu colocasse lírios, para que não surgissem rumores de que eu não me casei, hum... Pura.

Ronnie sorriu maliciosamente, mordendo os lábios de uma maneira que fez Liz gargalhar alto.

— Mas esses rumores estariam certos? — a Sra. Paine arqueou uma sobrancelha.

Eliza desviou o olhar, disfarçando e mexendo novamente em seu buquê. De repente a ideia de alinhar cada flor corretamente pareceu maravilhosa. Azul, branco, azul, branco, azul... Ronnie sorriu, tocando os ombros da amiga.

— Ah, eu sabia! — Ronnie inclinou a cabeça — Quer dizer, eu não sabia, mas também nunca duvidei da possibilidade. Diga-me, ele é bom para você? Senhor, deve ser maravilhoso, pois você não ficará tão nervosa com a noite de núpcias. Eu estava a puros nervos...

Liz riu.

— Ele é ótimo para mim, Ronnie — respondeu — mas isso não significa que eu não esteja nervosa. Estou feliz e apavorada ao mesmo tempo.

OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora