Quanto ao baile confesso que minhas expectativas não estavam tão altas. O Sr. Henry Walker havia garantido mês passado que não faria qualquer propagando partidária — lembrem-se que ele é um entusiasta ferrenho dos Whigs — durante os eventos. Esperei por muito tempo que ele quebrasse sua promessa, mas ele não o fez. Mulheres londrinas, devo dizer que esse é o tipo de homem que devem procurar. Honrado. E nem digo isso em razão de seu posicionamento político (quem seria eu para opinar, não é?), mas sim por seu dever com a palavra. Homens íntegros estão em falta em nossa sociedade há tempos.
Confesso que isso foi o que mais me chamou atenção. O resto dos convidados, entretanto, estava adorando as fofocas usais. Aparentemente lord Morley, marquês de Normanbury, foi visto dançando com várias jovens durante o baile. A primeira delas, entretanto, foi lady Veronica Besset (ou melhor, Ronnie como ela insiste em ser chamada). Pareceu que os dois mantiveram uma conversa agradável durante a valsa. Infelizmente a Srta. Kateryn Laurens e o Sr. Winston não tiveram momentos tão passivos. Quase ao final da festa eles tiveram uma discussão e o Sr. Laurens proibiu Winston de voltar a ver a filha. Esta autora não sabe o motivo da briga — e confesso que não me interessa muito —, mas gostei de ver o Sr. Laurens tomando posição. Este também é um bom exemplo de conduta honrada. Lembrem-se de que ele é viúvo, para quem por ventura se interessar, mas longe de mim querer criar uma coluna para casamentos.
Atualmente minha única ocupação é mantê-los informados, e de vez em quando, encaixar meus comentários ácidos que certamente não seria capaz de pronunciar em voz alta.
Srta. Silewood — Stanley Journal, maio de 1832.
A Srta. Scales aproximou-se. Cassandra usava um vestido cor-de-rosa claro, sapatos de veludo branco e um laço cheio no topo da cabeça. Com seus cabelos claros, olhos azuis e lábios desenhados, ela pareceria adorável. Pareceria. Era quase humanamente impossível não estremecer com seu andar. Seus olhos estavam semicerrados, a sola do sapato ecoava no assoalho e ela estampava na boca o sorriso mais cínico que Frederick viu em anos.
Cassandra Scales era um caso perdido e ele não podia fazer nada em relação a isso.
— Ora, ora — Cassandra arqueou uma sobrancelha — parece que lord Morley apareceu no edital de Silewood. Não é uma honra?
— Sem dúvida... — resmungou — mas o que estamos fazendo aqui mesmo?
Cassandra deu de ombros. Sentou-se na única poltrona vaga e estendeu os pés para cima de uma sofisticada mesinha de apoio. Lady Kriss Evans abaixou-se ao seu lado, vistoriando o vestido da amiga com extremo cuidado, enquanto Cassandra parecia preocupada. Ruby Chesterfield e James Alberdeen não saíram do divã onde lord Crosby tentava apoiar-se. Aparentemente todos ali, exceto Frederick, sabiam qual era a extrema emergência que os forçou a reunirem-se em uma sala da casa dos Duncan durante o sarau. Lord Morley pairava ao lado deles, com os braços cruzados e roupas escuras, como uma sombra negra na imensidão de cores dos companheiros. Ele moveu a cabeça, afastando alguns fios escuros que insistiam em cobrir seus olhos.
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OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING [Concluído]
Ficção Histórica❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe uma das damas mais populares da sociedade. Acostumada a tomar chá de cadeira com suas melhores amigas, ela pouco nutre esperanças de se casar...