Capítulo 17: Décima Terceira Noite.

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15 de Dezembro de 2038 – 07:01 PM.

Margens do Rio Detroit.

Estava escuro, frio e miserável. Tudo o que Gavin Reed queria era retornar ao doce calor de seu minúsculo apartamento de merda antes do toque de recolher, mas não... "Precisamos resolver este caso, detetive." Eles já estavam nessa a horas e ainda não haviam encontrado nada! Gavin estava cansado e aborrecido, café não era mais o suficiente para melhorar o seu humor. Ás vezes parecia que Nove se esquecia que seu parceiro era apenas um humano, mas então o detetive se lembrava de que androides nunca se esqueciam de nada. Significa então que o cabeça de lata estava fazendo isso para puni-lo?! Ah... isso vai ter volta!

Essa era a segunda fábrica que eles investigavam naquele dia longo e fatídico e a última em sua lista – felizmente. Segundo os registros, havia sido uma fábrica de vigas de metal, mas estava entregue ás traças a pelo menos uns 30 anos, desde então, a natureza e os vândalos fizeram tudo o que estava ao seu alcance para tornar o lugar o mais decadente o possível. Parte do teto de madeira havia colapsado, as janelas industriais estavam imundas e destruídas, ervas daninhas e plantas rasteiras - agora queimadas pelo frio - cresciam por toda a parte, e o maquinário restante havia sido destruído pela ferrugem. Havia também os vestígios de que moradores de rua e viciados em rubrite tinham acampado ali por um tempo, até mesmo androides divergentes tinham passado pelo lugar nos anos antes da revolução.

Mas além de toda a sujeira e destroços, não parecia haver nada que ligasse aquele lugar aos assassinatos. E isso era muito, muito ruim, porque significava que eles estavam de volta à estaca zero.

— Vamos embora, cabeça de lata, não tem nada pra ver aqui. — diz Gavin pela milésima vez. Ele vestia um casaco pesado de inverno, o capuz estava puxado sobre sua cabeça e ele tinha um cachecol xadrez com padrões de gatinhos enrolado ao redor do pescoço. Uma mão estava no bolso e a outra segurava uma lanterna pois estava um breu naquele lugar.

— Acabamos de chegar. — Nove protesta sem se dar ao trabalho de olhar para o humano irritante. A peça enferrujada em suas mãos parecia muito mais interessante, e talvez pudesse dar-lhes alguma pista.

— Faz 20 minutos que estamos revirando esse lugar e tudo o que encontramos foi lixo! — o detetive chuta uma latinha amaçada de Coca-Cola como se para dar ênfase a suas palavras — Achei que você fosse inteligente o suficiente para perceber que a sua teoria é furada.

— Se passaram apenas 18 minutos, 27 segundos e 8 milésimos desde a nossa chegada, detetive. — o androide deixa a peça de lado. Ela havia sim sido usada como uma arma do crime, mas não do caso deles.

— Foda-se! Falta 1 hora pro toque de recolher e eu quero estar em casa antes disso. — Gavin vira as costas e marcha a passos decididos em direção a saída da velha fábrica decrépita. Ele xinga quando escorrega algumas vezes, mas consegue se equilibrar o suficiente para continuar andando. O detetive parece surpreso quando dá uma olhada por cima do ombro e vê que Nove finalmente o segue, porém, ele também nota o LED amarelo e o olhar decepcionado no rosto do androide geralmente estoico.

— Você é um oficial da lei, não deveria se preocupar com o toque de recolher. — Nove comenta quando já estão do lado de fora. Alguns flocos de neve caem preguiçosamente ao redor deles, sendo embalados pelo vento vindo do rio. É quando algo a esquerda chama a atenção do androide. Seu LED amarelo volta ao azul vibrante que rodopia algumas vezes, e então ele segue em direção a fonte de sua curiosidade.

— Detroit não é um lugar legal quando as ruas estão vazias e silenciosas, sabia? — Gavin guarda a lanterna no bolso e continua falando enquanto esfrega as mãos tentando aquece-las, sem perceber que Nove não estava mais seguindo-o — Como dizem, "em tempos de crise surgem aproveitadores", e eu procuro evitar problemas. É cansativo ter que ligar com esses filhos da puta e... Ei! — o detetive finalmente vê o androide indo no caminho oposto — Torradeira! O que você tá fazendo?!

Eu, Amor (EM HIATO TEMPORÁRIO)Onde histórias criam vida. Descubra agora