Eu, Amor (EM HIATO TEMPORÁRIO)

Capítulo 15: Sobre Amor, Morte e Planejamentos de Viagem (parte 2).

Erros...

Seu HUD estava cheio de erros.

Alertas de todos os tipos bloqueavam sua visão, mas Simon ainda era capaz de identificar que estava na cozinha. Mais especificamente, no chão da cozinha, deitado em meio a uma poça de seu próprio sangue. Ele não conseguia se mover, haviam peças faltando, seu braço esquerdo estava em algum lugar debaixo da mesa de jantar. Seu globo ocular direito não respondia, provavelmente estava quebrado também. Esmagado em seu crânio devido ao impacto violento que recebera.

Simon ouvia vozes ao fundo e elas estavam discutindo, mas ele era incapaz de distingui-las neste estado. Havia o zumbido de estática e o bip angustiante do cronômetro decrescente: 01:15:07 para o DESLIGAMENTO IMINENTE. Não havia nada que Simon pudesse fazer, ele estava morrendo... Ele estava com medo. Tanto medo...

INSTABILIDADE DE SOFTWARE ▲▲▲

De repente, mãos trêmulas viram seu rosto para cima cuidadosamente, com medo de danifica-lo ainda mais. As lágrimas do androide turvam um pouco a imagem da criança angustiada. Era um garoto. Ele não devia ter mais do que 16 ou 17 anos, cabelos pretos e olhos azuis chorosos. O menino parecia desesperado, repetindo uma ladainha de coisas que Simon não podia ouvir.

"...ajudar você..." foi a única coisa que ele escutou em meio a toda aquela estática. Então o semblante preocupado do garoto se transformou em o mais puro ódio, e ele lança seu olhar raivoso para alguém que estava fora do campo de visão do androide, e ele grita obscenidades com todo o ar de seus pulmões. Mãos fortes puxam a criança para longe violentamente. O menino luta mas é incapaz de se desvencilhar do aperto mortal em seu braço.

Simon não vê a contagem regressista de seu cronometro chegar ao fim. Ele estava morto antes disso, quando um homem movido pelo mais puro ódio, desce o machado já tingido de azul sobre sua garganta.

***

13 de Dezembro de 2038 – 02:18 AM. [Dois dias para a Festa].

Nova Jericho; Apartamento do Markus.

Simon desperta de sua estase abruptamente e desesperado. Ele salta da cama e cai no chão de madeira com um baque alto, seus pulmões não estão funcionando direito e sua bomba está trabalhando dobrado, martelando em seu peito como se pudesse romper o chassi a qualquer momento.

ALERTA: Níveis de Estresse em 87% (subindo)

Ele não consegue respirar! Tem alguma coisa errada!!

Ele quer correr para o mais longe que puder, mas suas pernas não o obedecem, não funcionam como deveriam, como se seus comandos demorassem muito para chegar até elas.

Inconscientemente, Simon crava as unhas no pescoço. O dano desativa a pele sintética da região, revelando as peças brancas e cinzentas de plastimetal que formavam aquela parte do seu corpo. Suas unhas continuam cavando, ele precisava consertar o que estava errado. Ele precisa de ar!

ALERTA: Níveis de Estressa em 92% (subindo)

Filetes de sangue azul escorriam por suas mãos e braços, mas antes que ele pudesse causar mais danos, mãos fortes envolveram as suas e as puxaram para longe. Simon nem havia percebido que estava de olhos fechados. Ele vê Markus olhando para ele alarmado, seu semblante transbordando de preocupação enquanto ele dizia coisas que Simon não era capaz de ouvir por detrás das batidas de seu coração em seus ouvidos e sua respiração pesada.

— E-eu não consigo respirar! N-não consigo r-respirar!! — ele diz em meio a soluços e a estática de seu voz.

ALERTA: Níveis de Estressa em 95% (subindo)