O espaço, através da janela do velho cargueiro Montenegro, parecia estático e monótono. Pequenos pontos luminosos, que Rubi sabia serem as estrelas, formavam um quadro aparentemente imóvel diante de si. Aquela paisagem que ela tanto conhecia, não impressionava mais a navegadora que beirava a casa dos quarenta anos de idade. Vinte anos transportando provisões da Terra para a colônia Genesis, no planeta Marte, já havia anestesiado toda a frenesi de uma vida na imensidão sideral.
- Rubi! Checagem de rotina dos instrumentos de navegação, protocolo 5KN202. - anunciou o Comandante Argo Polenski, dez anos mais jovem e ainda, sem perder o entusiasmo da juventude.
- Instrumentos de navegação checados, Comandante. - respondeu Rubi, quase que mecanicamente.
Ao lado da navegadora, o engenheiro de manutenção de motores, Botsume, se manifestou com um pequeno riso sarcástico:
- Com esse entusiasmo todo, vou te sugerir como garota propaganda da Corporação Landor!
- Não enche! - ela respondeu, secamente.
Argo Polenski comandava aquele velho cargueiro como uma importante nave espacial interplanetária. Afirmava categoricamente que sua missão era fundamental para a sobrevivência da população de cientistas, militares e suas famílias que haviam deixado a segunrança atmosférica na Terra para uma existência repleta de desafios em Marte.
Ele os considerava nobres por dedicarem suas vidas no desenvolvimento de novas tecnologias e novas formas de superar as adversidades de um mundo de baixa gravidade e escassez de recursos. Se algo desse errado, comprometeria a existência de cerca de 2000 pessoas que viviam na colônia marciana. Seria uma verdadeira catástrofe e, caso fossem responsáveis por tal tragédia, responderiam diante de uma exigente e dura corte marcial formada por burocratas tiranos e pretenciosos.
Em vinte anos de transporte de água, medicamentos e recursos dos mais variados tipos - desde comidas básicas até roupas e algumas encomendas especiais do Governador Sand Landor, como vinho da rara safra de 2168 e algumas especiarias - nunca acontecera nada de grandiosamente significativo. A maior parte do trajeto era percorrido em piloto automático e a navegação manual só era requerida em casos de extrema emergência. Há várias décadas, a Corporação Landor havia erradicado a pirataria na órbita marciana com punhos de ferro e armas de alto calibre.
A propósito de seu soberano poder, eram evidentes as regalias do Governador diante da escassez de recursos que era - segundo ele mesmo - naturalmente imposta pelas adversidades do ambiente aos colonos de Marte. A água dessalinizada dos lagos subterrâneos era limitada e precisava ser compensada por carregamentos constantes oriundos da Terra.
Havia fazendas de cultivo em compartimentos artificialmente climatizados. Porém, ainda era um desafio criar animais de médio e grande porte em ambiente de baixa gravidade. A opção mais cara era importar alimentos - regalia exclusiva da família Landor, seus assessores e burocratas de estimação. Para a maior parte dos cientistas, engenheiros e oficiais, vegetais e rações entomófilas liofilizadas davam conta parcial do recado. Para os prestadores de serviço, os ratos que se proliferavam nos túneis de ar e tubulações de detritos completavam precariamente a dieta de proteínas.
Apesar da evidente segregação que se estabeleceu em Marte, muitas pessoas ainda acreditavam que o dinheiro pago aos colonos pela corporação privada da família Landor, valia todo o sacrifício. Após a IV Grande Guerra terrestre, o planeta azul já não parecia tão azul, e as catástrofes socioambientais que se seguiram definiram um panorama um tanto distópico para a decorrente civilização que permaneceu em seu planeta natal.
A corporação encabeçada pelo governador marciano vendia a ideia de que voar para Marte com passagem só de ida era uma vantagem para poucos. Aos felizardos escolhidos a dedo, era oferecida a chance de viver em zona neutra longe dos tóxicos gases atmosféricos e da água infestada de microplásticos e metais pesados. Importadores exclusivos de gelo das calotas polares da Terra, os Landors não só detinham o poder econômico vital da colônia como, também, governavam Genesis há três gerações consecutivas.
Os tripulantes do cargueiro Montenegro haviam deixado o espaçoporto lunar há três semana, pois o lançamento de aeronaves de grande porte em ambiente de baixa gravidade economizava combustível consideravelmente. Demoraria em torno de 1 mês para chegarem à Marte, e a viagem em velocidade de cruzeiro, geralmente, seguia tediosa e sem intercorrências.
Até aquele momento.
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O que vai acontecer com a tripulação do velho cargueiro Montenegro?
Como imaginam a vida na colônia Genesis, no planeta vermelho?
E com este capítulo, reinicio com bastante entusiasmo minha saga de produção literária, com novas ideias e criatividade renovada!
Espero que curtam essa nova aventura Sci Fi, em formato novela, que ainda está em processo de criação. Deste modo, gostaria de receber o feedback dos leitores para que possam contribuir na construção desta história!
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GENESIS
Science FictionNo século XXIII, os humanos já haviam colonizado a Lua e o planeta Marte. Porém, as consequências da IV Grande Guerra haviam mudado a Ordem Interplanetária, transferindo o poder dos governos falidos para as grandes corporações privadas. Em contraste...