Capítulo 2

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Acordei um pouco mais motivada, cheia de esperanças. Como qualquer criança inocente é. E eu não me sentia boba por encontrar nas pequenas coisas motivos para alegrar-me.

Um dia

Um dia eu vi que todos nós temos a singularidade de se sentir inferior

Me olhei no espelho. Meus cabelos eram cacheados. Sua raiz era ondulada, mas as pontas faziam grandes cachos. A Lorena tinha o cabelo liso e loiro. Completamente o oposto de mim. Acho que nesse dia eu comecei a odiar meu cabelo. E nesse dia ele deixou de ser bonito para mim e consequentemente para os outros.

Fui para a escola com ele amarrado.

Marco sempre conversava comigo no recreio. Eu me sentia privilegiada. Mas sempre que Lorena aparecia ele me deixava e ficava perto dela. Será que eu não percebia como chata ela era? Lorena apenas falava sobre coisas sem sentido. Talvez eu que era chata, por isso ele não ficava comigo. Talvez fosse por causa do meu cabelo, do meu rosto, do meu corpo.

Lorena sempre me provocava por causa do meu cabelo e dos meus óculos. Eu não fazia nada quando isso acontecia. Geralmente eu chorava no banheiro. Não tinha a coragem necessária para me impor. Tirando Marco, eu não tinha nenhum amigo naquela escola.

Com o tempo minha interação com Marco foi diminuindo na escola e se tornou apenas comprimentos ao sair de casa. Ele simplesmente se esqueceu de mim e isso me magoava profundamente. Os anos foram passando e não importa o que eu fizesse, ele simplesmente não me via mais. E eu não conseguia alcançar seus olhos, muito menos seu coração. Ele ficava mais belo, com o passar dos anos. E eu, apenas continuava a menina normal.

Quando fizemos 15 anos ainda estudávamos na mesma escola, porem agora no ensino médio.

-Você não percebe o quanto é ridícula? - Lorena falou rindo enquanto suas amigas me empurravam num beco. As olhei. Bom, durante todos os anos que estudávamos na mesma escola elas faziam questão de tornar a minha vida um inferno - adivinhem meninas, hoje a Violet estava na porta do vestuário masculino esperando o Marco sair de lá para conversar. - Ela gargalhou e me fez me sentir mais ridícula do que eu mesma já me achava.

Ela se aproximou me fazendo levantar a cabeça e quando a vi ela já tinha puxado meu prendedor de cabelo revelando todos os meus cachos que caíram pelas minhas costas.

Ela pareceu irritada com meu cabelo e os bagunçou com as duas mãos e as meninas começaram a tirar fotos. Eu me sentia tão humilhada. Eu apenas queria chorar. Apenas isso. Mas quando vi aquele semblante atrás dela surgir meu coração acelerou na mesma hora. Abri um sorriso e seu nome quase se formou em meus lábios.

Marco entrou no beco me encarando. Segurou o pulso de Lorena e a olhou sério.

-Pare com isso! - brigou.

Ela fingiu um choro.

-Foi ela que começou!

Fiquei surpresa por ele evitar olhar para mim. Mas quando olhou seus olhos pareceram como se ele tivesse cheio de pena. Aquilo perfurou meu coração como uma faca. Ele olhou para meus cabelos bagunçados e eu coloquei as mãos nele na tentativa de tirar sua atenção para meus cachos revoltados.

Naquele dia eu senti raiva de mim mesma.

E desejei não ser eu.

Mas se não for eu

Quem me será?

-Vamos embora. - Marco falou puxando Lorena para fora do beco e suas amigas foram atrás. Ele me deixou ali sozinha. Me sentei no chão e comecei a chorar amargamente. Aquela dor. Aquela dor me rasgava por dentro. Meu peito doía tanto e eu não conseguia conter o choro. O que mais poderia fazer se eu gostava daquele garoto? Que culpa tenho eu se meu coração resolveu se apegar?

Depois de me recuperar sai do beco segurando o cabelo com as mãos. E me dei de cara com ele, o garoto dos meus pesadelos, aquele que gostava de me fazer chorar. E eu já estava chorando.

-O que você quer? - perguntei sem forças para brigar.

-Aqui. - Ele mostrou meu prendedor de cabelo. Olhei bem para o Scott. Ele não era tão diferente do seu irmão. Tinha os cabelos pretos, lisos e curtos, era pouco mais claro que Marco. Seus olhos eram claros. Um castanho claro bem comum até. Ele era atraente para sua idade. Quando fui pegar o prendedor ele levantou a mão e eu voltei a prender meu cabelo com as mãos.

-Você deveria andar com essa juba solta- disse me mostrando o prendedor novamente.

-Pra que?!- Briguei tentando pegar o prendedor – para ser humilhada pelo meu cabelo ridículo?

-Você já é humilhada com ele amarrado, então anda com ele solto! - ele falou sorrindo. Sim, ele gostava de magoar. Dei um pulo e peguei o prendedor de suas mãos.

-Não preciso dos seus conselhos idiotas- disse dando passos rápidos em direção a minha casa. Conforme o vento batia em meu rosto as lembranças do que havia acontecido rodeavam minha mente. Corri até em casa e sem cumprimentar ninguém fui para meu quarto e me joguei na cama.

Chorei e apaguei. Quando acordei eram 5 da tarde. Marco estava em seu quarto, eu podia ver a luz do quarto dele, na verdade eu podia ver o quarto dos dois irmãos. Marco geralmente passava o dia fora de casa, ou saindo com seus amigos para as festas ou assistindo algum filme no seu quarto com a Lorena. As vezes ele parava para estudar, mas isso era raro.

Scott, gostava de passar a tarde tocando seu violão que ele aprendeu sozinho. E eu me sentava perto da janela para observar quando Marco saia do seu banho e exibia seus músculos para mim propositalmente. Eu sabia disso por que ele me olhava e sorria. E eu sorria de volta acenando para ele e corando.

-Idiota! - Scott gritou do seu quarto e puxou a cortina. Eu realmente era uma idiota. Eu sonhava com ele, eu suspirava por ele. Eu queria que meu primeiro beijo fosse com ele. Eu apenas queria que ele olhasse para mim.

E todo esse amor que não era correspondido eu derramava sobre meus textos, poemas e versos. Foi assim que vi que eu simplesmente amava escrever.

Gente, o que estão achando? Eu tinha desistido de postar esse livro na época,  mas quem sabe vcs gostem hahaha

ERA UMA VEZ PRIMEIRO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora