Capítulo 12

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-Nada ainda? - Bia perguntou por telefone. Resmunguei. - Violet! Use a sua genialidade! Faz um mês que lhe dei este desafio...

-eu sei...- disse observando o teto do meu quarto enquanto mexia em uma mecha de cabelo. O telefone estava ao meu lado na viva voz.

-Espero que na próxima vez que eu te ligar você tenha ao menos uma ideia...

-Bia.... - a chamei e ela permaneceu calada – o que é amor para você?- perguntei.

Ela ficou em silencio por alguns instantes e eu até pensei que a ligação tivesse caído.

-Acho que não existe uma explicação oficial – ela falou por fim – e você Violet, qual sua definição de amor? - ela me perguntou e eu não soube responder. Sempre que algo era relacionado a isso eu não me sentia confortável. - Minha linda- sua voz se tornou bem doce. Achei estranho e prestei muita atenção ao que ela me falava. - Você é como um mundo com muitas estações. Mas parece que você insiste em fugir do inverno. - disse por fim - por mais que seja frio e solitário ter que encara-lo, faz parte da vida.

Depois que ela desligou fiquei pensando sobre isso. Fugir? Eu? De que? Ri pensando comigo mesma e fazendo uma careta ao imaginar os invernos. Realmente ela acertou ao afirmar que eu não gostava dos invernos. Mas sei que ela não se referia a estação. Um sentimento assolador de solidão se formou em meu peito e eu me levantei da cama rapidamente. Sempre que ele se aproximava eu sentia tanto medo. Como se ele fosse um monstro capaz de me devorar e seria meu fim. Precisava sair e tomar um pouco de ar.

Peguei meu casaco no cabide próximo a porta e sai. Estava muito frio. Esfreguei meus braços observando as nuvens grossas e escuras no céu. Parecia que ia chover. E todos sabemos que chuva e frio não combinam muito bem. Mesmo assim continuei andando. Sai do condomínio e andei pelas ruas movimentadas daquele bairro da grande São Paulo.

Respirei fundo parando em uma esquina e observando as pessoas a minha volta. Odiava aqueles momentos reflexivos sobre minha própria vida. Odiava o fato de ter que me analisar pois eu sabia que acharia coisas que teria que arrumar, mas isso seria tão difícil. E eu não tinha com quem conversar sem ser a Bia, mas ela não gostaria de ouvir-me falar sobre sentimentos.

Aquele aperto em meu coração que eu tanto odiava. Semelhante ao que senti quando vim da minha antiga cidade, semelhante ao que senti ao perder meus pais. Olhei em volta em busca de algum refúgio, andei em direção a uma lanchonete e me sentei na primeira mesa vaga que vi. Encolhi-me colocando a testa sobre a mesma.

-A senhorita está bem? - um jovem homem segurou-me pelo ombro e eu levantei a cabeça no mesmo instante e olhei em seus olhos.

-Sim...- falei tentando sorrir para mostrar que estava realmente bem. Ele pareceu não confiar em minhas palavras quando senti algo quente escorrer pelo meu rosto gelado. Levei uma das mãos ao rosto e percebi que chorava. Me levantei rapidamente. - Desculpe...- disse saindo o mais rápido que podia dali. Eu odiava que me vissem chorar! Andei quase que correndo para minha casa, meio zonza e meio confusa em meio a tantas lágrimas. Tentava segura-las, mas não conseguia.

Peguei a chave do carro dentro do casaco e entrei nele. Respirei fundo e olhei o cartão que Marco havia me entregado. Não era tão longe dali. Dirigi de maneira um pouco imprudente até chegar a escola. Aquela era bem grande por sinal. Olhei-me no espelho do carro e por mais que enxugasse minhas lágrimas elas não paravam de cair. Pensei em desistir de tudo aquilo. De simplesmente voltar para minha casa, mas eu não conseguia. Sai do carro andando às pressas até o prédio. Começara a garoar. Abri a porta de vidro e o ambiente era gelado e cheirava a limpeza. A moça da recepção me olhou e pareceu preocupada.

-Moça, está tudo bem?

-Onde está o Scott? - perguntei ainda próximo a porta.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas minha atenção foi direto ao homem alto que surgiu na recepção. Seus cabelos estavam mais compridos, penteados para trás e uma parte caia sobre sua testa. Ele tinha mudado tanto. Seu maxilar havia se tornado mais largo e seus ombros ainda mais másculo.

ERA UMA VEZ PRIMEIRO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora