Capítulo 14

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Mordi o lábio inferior ao começar a escrever uma parte do meu primeiro livro de romance. Estava animada para ouvir a opinião de Bia sobre a minha ideia. Já havia pesando em tudo, como iria acontecer, quem seriam os personagens, seus nomes, o enredo e até o mesmo o fim estava em minha mente.

-Não gostei. - ela falou virando a cadeira giratória para me ver - você tirou isso de um filme que assistiu?- perguntou- esta clichê demais! Onde está a emoção em sua história?

-Toda história merece ser contada – repeti a frase de Alice e vi sua sobrancelha tremer. Ela levou a mão a boca, parecia pensativa. Bia me olhou e eu encolhi os ombros.

-Tudo bem. - Ela disse – mas para valer a pena essa história tão clichê, você tem que recheá-la de coisas inesperadas. - falou. - Eu me refiro a sentimentos, antes que me pergunte. Se não consegue ter uma ideia mais inovadora eu desafio você a transformar essa sua história em algo incrível.

Percebi que ela havia tornado as coisas piores para mim. Pensei em desistir da ideia, mas me lembrei de como eu era quando adolescente. Sempre fugindo. Sempre dando desculpas. Apertei ambas as mãos para descontar minhas frustações. Levantei a cabeça e olhei fixamente.

-Veja e se surpreenda. Não me subestime, Bia. - falei saindo de sua sala.

-Violet – aquela voz me assustou. Me virei bruscamente, não estava nos meus melhores dias. Kaike se aproximou e eu me perguntei o por que ele estava ali. Será que não desistiu depois de eu ter ignorado todas as suas mensagens e seus ligações? Ele sorriu de maneira arrogante enquanto se aproximava. Vi em suas mãos um livro e o olhei nos olhos novamente. - Você viu meu novo livro? - falou. Desde de quando ele havia virando um escritor? - soube que ele até mesmo superaram a venda de alguns livros seus. - Quem diria que seu nível fosse tão ruim?

Pisquei várias vezes. Primeiro ele quer sair comigo, depois está me provocando. Sorri. Como se esse truque fosse funcionar comigo. Cruzei os braços e passei o peso do corpo para a outra perna. Eu vestia uma calça jeans azul, uma camisa apertada verde escuro e uma bota de cano curto preto.

Meus cabelos estavam presos em um grande coque e alguns cachos caiam para dar algum estilo. Eu estava levemente maquiada. Observei o livro e sorri debochadamente.

-estranho ver que o nome do seu pai está na capa.- disse juntando as mãos e o olhando fixamente – acho que alguém ainda não consegue sair da sombra dele, não é mesmo? - perguntei lentamente me aproximando .-Tem medo de fracassar? - falei me afastando - não me compare a você.- dei meia volta e andei decididamente até a porta. Estava exausta com tudo o que eu tinha que fazer.

Mas assim que entrei no elevador fiz uma careta lembrando de tudo o que eu havia falado. Se arrependimento matasse eu estaria tendo um ataque naquele mesmo momento. Por que eu tinha que ser tão impulsiva?- coloquei a mão na testa. Mas assim que o elevador parou sai com a cabeça erguida. Precisava descontar a minha frustação em algo.

-Eu achei uma boa história.- Alice falou enquanto bebia mais um gole do suco de acerola que tomávamos – mas com certeza, se for recheada de sentimentos vai ser melhor – ela falou me dando um pouco mais de ânimo. Até que eu andava falando bastante com Alice. Ela sempre gostava de conversar e eu me sentia à-vontade perto dela.

Estávamos em uma lanchonete perto da casa dela. Era um sábado ensolarado. Bem característico do clima de São Paulo. Ontem mesmo estava frio e hoje estava absurdamente quente, mas era sempre bom levar um casaco na bolsa.

-posso te ajudar com isso – Alice falou bem animada – posso te ajudar a encher seu romance de sentimentalismo. Eu entendo muito bem disso! -Observei Alice e seus olhos cintilantes. Ela era bem alegre, gostava desse seu jeito animado de ser. - mas confesso que não chego aos pés de uma escritora como você...- disse timidamente.

ERA UMA VEZ PRIMEIRO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora