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Narrador.

Dayane queria chorar, aquele lugar era o lugar certo. Ninguém iria perguntar se ela estava bem. Não era em bares que as pessoas iam para encher a cara e uma grande parte delas até chorava depois de uma boa quantidade de álcool no sangue?Então Dayane poderia fazer o mesmo que ninguém iria saber o verdadeiro motivo de suas lágrimas.

Mas não. Antes mesmo da primeira lágrima cair, Day olhou para os lados só para se certificar que ninguém iria ver. Nem mesmo o homem que tinha deixado a garrafa com ela minutos antes a olhava, sua atenção era dividida entre secar os copos e uma reprise de futebol na televisão quase no teto. Com ninguém olhando, Dayane pegou seu copo e olhou uma última vez para o lado, parou o copo na metade do caminho. Lá no fundo do bar tinha uma pessoa chorando, Day semicerrou os olhos só para ter certeza que não estava vendo coisas pela grande quantidade de álcool ingerida.

— Essa menina vai secar de tanto chorar, nunca vi alguém chorar tanto.

— Desculpa. Não entendi, pode repetir? - O homem que agora tinha sua atenção no fundo do bar, virou-se para Dayane com um sorriso no rosto. - Eu não entendi o que disse, pode repetir?

— Claro. Aquela garota ali. - Apontou com a cabeça enquanto voltava a secar os copos. Dayane então percebeu que não estava vendo coisas, realmente tinha alguém chorando no fundo do bar. - Nunca vi alguém chorar tanto. Ela vai secar se chorar tanto e ainda vai espantar os meus clientes.

— Ela parece bem triste, talvez algo e grave tenha acontecido. - Dayane queria saber o motivo de tantas lágrimas. Rapidamente se lembrou de quando ela chorava daquele jeito por culpa de seus pais.

— Não quero ser grosso ou algo do tipo, mas eu e meu bar não temos nada com isso. Ela deveria procurar outro lugar para chorar. Uma igreja ou na casa dela mesmo.

— Mais grosso que isso? Impossível. E eu não sabia que era proibido chorar no seu bar. Isso é novo para mim, já vi e ouvi várias pessoas chorando em lugares como esse. - Dayane estava incrédula com tanta falta de sensibilidade da parte do homem em sua frente. - Quanto eu te devo?

— A garrafa estava pela metade, então vou cobrar só a metade. Você me deve setenta e cinco reais.

— O que ela pediu? - Olhou para o fundo mais uma vez.

— Só pediu água. Ela é a primeira que vem em um bar para beber água.

— Nem todo mundo gosta de bebidas alcoólicas. - Dayane se levantou, tirou uma nota de cem reais de sua carteira e colocou sobre o balcão com raiva da pessoa insensível que falava com ela. - Pode cobrar a água que ela pediu e pode ficar com o que sobrou. Quem sabe você precise para comprar uma água depois de chorar na igreja ou na sua casa.

Dayane não quis mais ouvir a voz daquele homem asqueroso. Ela também não entendia o que estava acontecendo com ela mesmo sobre o que havia acontecido segundos atrás. Aquela súbita raiva não aparecia a muito tempo. Já tinha visto muitas pessoas chorando e sempre quis ajudar, dessa vez não iria ser diferente, mas depois das palavras desagradáveis que ouviu, ela queria pegar a dona das lágrimas e colocar em seu colo.

Dayane sabia que não estava nada bem com a garota, ainda mais quando estava chegando mais perto e pôde ouvir seu choro que parecia dolorido, tão dolorido quanto o seu quando se via sozinha em casa. Day parou de frente para mesa, constatou que era uma moça e não uma garota. Suas mãos sustentavam sua cabeça e o cabelo cobria a maior parte de seu rosto. Por um instante Dayane parou de ouvir seu choro porque sabia que ela tinha a visto parar em sua frente.

— Eu já vou embora. Não queria atrapalhar o bar, não precisa me colocar para fora. - A garota que agora Dayane via como uma moça, tinha seus olhos fixos no chão e algumas manchas em sua calça, eram lágrimas. - Estou vendo seus pés, não precisa ficar parada me olhando, eu já estou saindo, só preciso de mais alguns minutos.

Let Me Love You Until The End?Onde histórias criam vida. Descubra agora