Hellfire

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As luzes das velas e candelabros começaram a iluminar Paris, a cidade que se encontrava em seus anos de inquisição a caça as bruxas e a peste negra rastejava pelas entranhas da cidade medieval, em seu centro a gigantesca igreja de Notre Dame jazia em sua divina grandeza com sinos que dobravam e ecoavam tão alto que ressoavam nas almas de todos os cidadãos.

Hoje era um dia negro em Páris, a cidade estava acovardada, crianças não brincavam nas ruas e tavernas não abriram, o cheiro de pessoas e o crepitar das pequenas lareiras estava nulo, era um dia normal, até a notícia ocorrer, ao soar dos sinos, um demônio havia sido visto as portas da Catacumba, lugar maldito que ainda estava em contrução, os trabalhadores desapareciam ou enlouqueciam, era muito mais que um cemitério para os indigentes, diversas salas e tuneis já estavam lá antes de toda e qualquer mão humana os constuir, devido a isto, a igreja mandou do mais santo grau seu pior inquisitor, Perseu, o agourento, seu nome vinha de sua alcunha, de que por onde passava ele atraia mau agrouro e demônios, nunca enviou nenhuma alma a fogueira, mas já testemunhou mais do que o inferno é capaz do que o próprio Papa.

Um demônio enorme havia sido visto ao sair da catacumba e logo retornar, deixando insano todos que o viram e aterrorizando Paris, tudo que se ouvia nesse inicio de noite sem luar, era o cavalgar leve do cavalo do inquisitor, pegadas macias que rebatiam perante pedra e barro do chão, não era esse demônio que estava na mente de Perseu, e sim o primeiro que ele viu, o que residia em Notre Dame.

Em sua primeira noite na Catedral, com o Arcediago (Padre) dispensado do seu santo cargo de selar pela igreja, deixando apenas o inquisitor e as estátuas de todos os santos anjos e demônios, a observar sua existência, Perseu havia notado que no altar das velas uma movimentação repentina, uma dama, uma mulher, que se movimentava e dançava por entre as velas, que fazia as chamas dançarem junto a ela, tal visão só se tornou mais assustadora devido a seus olhos rubros com iris douradas e seus chifres curvos que lhe caiam como uma tiara perante o cabelo curto, um demonio no santuário, O inquisitor sem exitar, veio a interromper e assim ambos se conheceram, ela se Chamava Gabrielly, uma diaba, nascida das chamas e com as chamas fazia seu charme, um ser puro, cujo a alma mesmo vindo do inferno, radiava apenas inocência e suas intenções não detiam falsidade ou malevolência, Aos dias que se passaram, Perseu a via todas as noites e aos dias, ela caminhava como freia com véus em sua cabeça para lhe cobrir a identidade, se perguntava se isso era um pecado... ou apenas o destino, afinal, Deus escrevia certo por linhas tortas, e aquele inquisitor, tinha muito que falar, e mais ainda o que esconder.

Certa noite, ao silêncio da catedral ele rezava, e perante as estátuas ele então se pois a falar.

Oh divinos anjos
Sabens que sou muitos mais, que estás pessoas que jazem em prantos

Oh divinos santos
Sabens do que sou capaz,e que de minha fé eu levanto os mantos

então digam-me salvadores
por que a vejo dançar?
por que tuas chamas tocam em minhas dores

a vejo, a quero, o que é essa intensidade ?
que arde mais que todas as enfermidades.

Como fogo, suas chamas estão a me tocar
Desejo, incerto, de pecados quero a tomar.

eu não me importo, podem julgar
mas foi essa criatura que veio a me tocar

não tenho o que culpa, se assim Deus quer
Que suas chamas venham sempre a me acariciar

Tal divina dama, que esteve a sorrir pra mim
Quero teu calor até meu fim
Quero a ti Gabrielly
E minha sei que você será
Pois darei até minha alma para lhe conquistar!

Ele então se ajoelhou perante as estátuas, que pareciam o olhar vivas e o analisando, ele então viu as sombras se mexerem mas não se importava, neste momento, em sua visão e sua mente, todas as chamas se formaram no corpo formoso da diaba, que vinha a lhe envolver e seus lábios quentes a arder os dele de desejo, mas em um segundo piscar de olhos, a igreja e as chamas retornaram ao normal...

Protejam, Oh anjos
Tal mulher a me envolver
não deixem as suas chamas perecer

Eu destruirei todos aqueles que se opuseram a mim!
e das chamas do inferno eles vão achar seu fim

Mas ela me encanta e é isso que venho a me importar
seu calor veio a meu silêncio calar

quero teu fogo e se Deus assim não quiser
pois então ele nunca mais me verá de novo.

Nessa hora, um soldado que patrulhava perturbou a paz da igreja abrindo lentamente os portões, e o vento tirou as chamas das velas, no qual fizeram o Inquisitor retornar sua consciência para o mundo.

- Inquisitor, A freia... ela desapareceu - dizia o soltado com a voz baixa, tremendo a cada sentença

- O que!? como! - Perseu se voltava em furia para o homem que recuava a ver o olhar do inquisitor junto com as chamas, não da vela mas da fogueira da lareira abaixo dele

- E-eu não sei meu senhor... ela saiu em direção a aquele lugar... e desapareceu, quer que eu reuna a guarda ? - dizia o soldado em um suspiro de desespero.

- Esqueça... saia daqui! - ao terminar a frase o soldado fechou a porta e todas as velas se acenderam no mesmo estante, queimando em tons vermelhos alaranjados, porém pouco a pouco o vermelho das velas tomava uma cor sinistra, vermelho rubro feito sangue, e toda a catedral se banhava com tal cor rubra. - As catacumbas..
eu vou acha-lá, eu a acharei mesmo que eu tenha que queimar toda Paris!

Do fogo, do inferno, vocês vão perecer...
Meu beijo é terno e a você vou oferecer
E quem estiver, em desventura a te prender
Não vai mais existir, pois vão no inferno arder...

Ao  terminar a sentença com timbres mais densos que sua própria voz, o inquisitor colocava a mão perante a pira de chamas que jazia na lareira e as chamas escapavam seu braço como serpentes, se tornando vermelhas como sangue e queimando as mangas de sua roupa, seus olhos agora tinham uma coloração negra com as íris vermelhas e em um estalar de dedos, todas as estátuas da catedral fecharam seus olhos em respeito e medo perante a visão de um homem, que jamais foi humano, agora com botas longas até os joelhos, blusa negra  com a mangá queimada perante as chamas rubras de seu braço direito, o inquisitor pegava sua capa vermelha sangue e a colocava em seu ombro, sem por o capuz, a caminhar para fora a lua não brilhava, as casas não tinham luz e o silêncio e o escuro tomavam a cidade.

Deus tenha piedade para com ela
Deus a faça persistir
Pois se eu não rever minha bela.
Páris não vai mais existir
Entendo agora o poder de amar
É por isso que se ela em perigo ficar
Céu, terra e inferno, tudo irei queimar.

E a figura do inquisitor desapareceu como uma sombra na noite escura, tendo seus últimos passos, ouvidos, aos pés de Notre Dame.

♡ One-Shots para minha Esposa Gabrielly ♡Onde histórias criam vida. Descubra agora