Capítulo 57

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Eles me jogaram em uma cela diferente do calabouço, eu tentei usar o meu poder para abrir a porta, mas depois desisti quando pensei em que consistiria uma fuga quando tudo já estava perdido. Já faziam três horas que eu estava lá embaixo, chorando com a alma, eu estaria presa a essa vida até a minha morte e me odiei por isso, eu tinha um certo afeto por Adrian, mas em momento algum isso consistia em querer casar-me. Me perguntava constantemente onde estaria Emma a uma hora daquelas, será que o rei havia cumprido com sua palavra? Eu suspeitava que não, ele não arriscaria mandá-la para casa para correr o risco de ser caçado e morto por soldados dos Clarckson por mais que agora não restassem muitos, por mais que eu soubesse que eles não viriam. Alguns momentos antes, recebi uma visita inesperada de ninguém menos do que a própria emissária do rei. Cecília apareceu em minha visão quando os soldados abriram a porta para ela, eu não podia sair do lugar por causa das correntes pesadas que desciam do teto e prendiam os meus braços para cima.

-Olha onde veio parar novamente princesinha -riu com escárnio ao levantar o seu dedo indicador com unha longa e pontuda unha pintada de roxo e colocou sob meu peito e empurrou com força contra mim, arrancando um filete de sangue ao perfurar minha pele, fazendo-me sibilar e mostrar-lhe os dentes com raiva.

-O que quer de mim merda? -grunhi enquanto sentia a dor em minha carne conforme ela continuava com o dedo no mesmo lugar, me perfurando. Ela sorriu e retirou o dedo, olhou para o sangue ali com voracidade antes de encontrar o meu olhar novamente. -nunca mais encoste em mim sua imunda! -bradei com a voz entrecortada.

-Posso fazer o que bem entender com você garota -ela me olhou de cima a baixo antes de continuar a falar, e eu conseguia ver e sentir o veneno escorrendo por seus lábios carnudos e vermelhos. -e eu diria que é exatamente o contrário, você neste momento não se passa de uma imunda prisioneira nos confins do palácio. Humpf! -permaneci em silêncio, apenas esperando para que ela fosse embora, mas ela permaneceu ali com os braços em cada lado de seu corpo, seu vestido amarelo impecável colado ao corpo e sua postura arrogante. -sabe, agora não poderá mais seguir com o seu plano miserável de possuir o poder para si, jamais conseguirá voltar para casa. Quer dizer -riu -naquilo que um dia foi o seu lar não é mesmo?

-Cale a boca! -sibilei, sentindo a raiva e a fúria invadindo meus pulmões, lágrimas começaram a cair pelo meu rosto silenciosamente.

-Ah, não me peça para parar agora! Ainda mais quando realmente se trata da herdeira verdadeira não é mesmo? -ironizou Cecília com os dedos nos lábios fingindo estar pensativa. -O que você irá herdar? Cinzas? Sofrimento e repulsa de um povo esquecido? Isso tudo foi por sua causa, seus pais fizeram bem em morrer, e sinceramente foi uma pena que você e sua querida irmãzinha não tenham ido junto.

-Já chega! -bradei tão alto de forma que pude sentir o estremecimento dos andares acima de nós, até mesmo o movimento de soldados que iam e vinham do lado de fora cessou, a poeira do chão se levantou e as pedras tremeram diante de minha dor e poder que se mesclavam. A emissária engoliu em seco e recuou vários passos para trás e suas costas encontraram a porta de aço revestido que nos selava do lado de dentro. Ela abriu a porta, mas antes de sair, ousou se virar para dizer mais alguma coisa.

-Edward jamais ficaria com você, não se passa de uma aberração em vida na qual ele ou qualquer outro apenas se divertiria. Ingênua e tola, você jamais chegará aos pés dos grandes nobres ou sequer será uma rainha! A corte não tem lugar para monstros esquecidos como você. -determinou Cecília antes de cuspir a alguns metros de mim e sair batendo a porta. Consegui ouvir quando a mesma fez questão de pedir aos soldados que limitassem minhas refeições e não se preocupassem. Se fosse por ela, eu deveria definhar ali aos poucos, de forma agonizante e lenta. Jamais imaginei que pudessem haver pessoas assim no mundo, mas de certa forma eu concordava com ela, eu não deveria ter sobrevivido naquele dia em Crossfire. De maneira alguma deveria ter atravessado pelos portais até a outra dimensão para me salvar e proteger. A dor e o ódio que estavam guardados na parte mais sombria de minha alma eram grandes demais para serem suportadas, eu mesma me perguntava em como eu não tinha desabado ali mesmo, ou até mesmo quando eu descobri sobre quem era a minha verdadeira família e que eu não poderia vê-la novamente.

Fui interrompida de meus pensamentos e minhas lágrimas cessaram quando senti um tremor no chão sob meus pés, olhei ao redor e me balancei abaixo das correntes. Olhei para o teto baixo da masmorra e poeiras começaram a se soltar, juntamente com algumas pedras que começaram a se soltar e cair. Arregalei os olhos, e agucei meus sentidos para tentar ver o que acontecia do outro lado da porta, no corredor estreito do calabouço.

-Ei! -gritei para algum soldado, mas me assustei quando vi de longe que todos eles corriam de um lado para o outro e pareciam assustados e desesperados, pegavam suas armas e corriam em direção as escadas para cima, eu conseguia ouvir e sentir seus passos apressados no chão. Algo estava acontecendo, e por um segundo, tive esperanças de que alguém viria me salvar, mas os minutos se passaram e os estremecimentos se tornaram constantes, comecei a me desesperar por saber que ninguém viria, minha irmã naquele momento já deveria estar longe, pelo menos era o que eu esperava. -o que está havendo? -bradei, mas ninguém me ouvia e eu comecei a berrar desesperadamente conforme comecei a sentir mais tremores no chão e meu coração acelerou. O que eu deveria fazer? Estava presa, condenada em uma cela por um tempo indeterminado. Pense Eliza, pense, mas nada me vinha em mente. Puxei minhas mãos com força das correntes acima e elas racharam, franzi a testa diante da minha força inesperada mas repeti o mesmo movimento duas vezes, na segunda tentativa os grilhões caíram e derreteram nos meus braços, senti aquele fogo queimando e derretendo junto com a minha carne e músculo, tirando de mim um urro de dor, mas que em segundos passara instantaneamente, quando abri os olhos que eu não percebera estar fechados, encarei onde o ferro antes estava e derretera, porém minha mão na qual eu esperava estar deformada, permanecia intacta e perfeita novamente, e chamas oscilavam e estavam entre meus dedos. Passei a mão no peito e não senti o ferimento da unha de Cecília, a dor sumiu me deixando assustada diante do meu ato, criei forças do impossível e corri para a fresta na porta e para a minha sorte, ou não, dei de cara com um soldado bem próximo que parecia mais do que aterrorizado, tentei a sorte ao me dirigir á ele.

-O que está havendo? -chamei a atenção do homem que olhou pálido para mim.

-Parece que sua conspiração foi atendida princesa. -vociferou -Br... Brian invadiu Breackfost com parte de seu exército em busca de vingança. -ao dizer isso ele terminou de pegar seus pertences e saiu correndo.

Brian estava aqui. Me recostei na parede e escorreguei nela até o chão estupefata, não era possível. O silêncio daqueles dias significava isso, Brian tinha realmente feito sua frota retornar, e tudo que eu fizera foi a deixa que foi permitida para que ele atracasse direto em Breackfost para destruir tudo que queria de uma vez, tudo isso por minha causa, e para me matar depois.

Depois de alguns minutos de silêncio absoluto, me levantei do chão e retirei o casaco na qual eu usava, ficando somente com a camisa branca, calça preta e a bota. De maneira alguma eu definharia ali, arregacei as mangas e coloquei os cabelos para trás, determinando para mim mesma que aquela seria a última vez que eu seria presa daquela forma ou derramaria lágrimas banais, levantei minhas duas mãos ao ar e conjurei toda minha força e poder que eu sabia que possuía e clamei de meu interior por salvação e força e o vi se projetar em minhas mãos com força e voracidade, dessa vez ele veio em um azul puro que eu poderia dizer ser hipnotizante. Determinei a mim mesma a partir dali, que se era para morrer, que fosse dignamente enfrentando o meu inimigo de frente. E assim eu lancei aquela onda de força mesclada com magia contra a porta que se estourou fortemente voando para longe, e corri em direção ao meu destino.

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Musica: Age Of Dragons/Audiomachine

The Crown - Livro 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora