Capítulo 41

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Parei por um segundo, tudo a minha volta pareceu girar, mas não ousei soltar o maxilar de Brian, que me encarava de olhos arregalados e cheios de fúria. Me afastei levemente ao sentir a queimação e a dor que se alastrou por mim em instantes, coloquei a mão onde a lâmina de Brian ainda estava pressionada em mim, e a arranquei com força, o que me fez cambalear para trás, eu não imaginei que eu sofreria aquilo. O rei se levantou o suficiente do chão para chegar perto de onde eu estava, agachada com os braços segurando a borda do navio, como se eu pudesse de alguma forma estancar a dor, e o destino que me aguardava. Ele se aproximou, eu tentei me afastar relutantemente, com o corpo pesado de uma forma irreconhecível, e fracassei, arregalei os olhos quando percebi o que ele faria, mas era tarde demais, ele empurrou a faca contra mim mais uma vez, rompendo carne e osso, ao enfiá-la diretamente na região de minhas costelas, e retirá-la imediatamente, o que me incendiou uma nova pontada de dor que fez minha respiração pesar, o gosto metálico de sangue preencheu minha boca instantaneamente.

-E no final das contas, eu a venci Elizabetth -ronronou o rei ao colocar as mãos sujas de sangue em meu rosto, manchando-o mais ainda, tentei desviá-lo, sem sucesso. -estou pensando, como o seu povo, como o mundo, na verdade irá agir quando descobrir que a última Cross viva, não estará mais entre eles -disse abrindo um sorriso de triunfo mais uma vez. Até que senti, a vibração em minhas veias, indo direto ao ponto sensível, e segurei o sibilar de dor na frente de Brian, quando percebi o que estava acontecendo.

-Tem razão -sussurrei para Brian que franziu a testa em confusão -mas é uma pena para você, que esse dia não seja hoje. -respondi com um sorriso, quando meus olhos brilharam, enquanto os do rei se encheram de terror, me levantei rapidamente, trocando nossas posições, e em um mero segundo, destruí com um estrondo de luz o navio em que estávamos, e olhei a tempo suficiente para o rei que escorregava pela proa direto para o mar revolto que engolia cada parte da embarcação. Era como se naquele momento, algo maior do que eu mesma tivesse me levantado, algo que eu sentia pulsar e vibrar dentro de mim-tem razão -falei novamente, chamando a sua atenção e as dos soldados dos outros navios alarmados que gritavam feito loucos desesperados, apontei na direção do lugar em meu abdômen que ele tentara me ferir, se curava lentamente, e permiti com que ele o visse. -não o matarei hoje como tentou fazer comigo a pouco, mas, se nos encontrarmos novamente, se ameaçar meu povo ou meu reino novamente -dei um risada de escárnio enquanto eu me dissipava em névoa da água salgada do mar que engolia o navio em que estávamos, meu olhar se tornou sombrio, e podia jurar que senti uma escuridão fria e intimidadora serpentar ao meu redor, fiz com que essa escuridão tocasse levemente a alma do rei caído no chão a minha frente, que estremeceu de terror e recuei rapidamente, apenas para lhe deixar um aviso -então eu terei um grande prazer em matar você.

Não esperei sua resposta, ou mais ataques dos outros que chegavam e se aproximavam para tentar salvá-lo, apenas puxei o poder de meu interior e me transportei até a direção de Edward e dos espiões. Cheguei até Edward que estava caído no chão, indefeso diante de três soldados inimigos que o cercavam, raiva tomou conta de mim imediatamente:

-Saiam de cima dele -bradei, quando lancei uma onda de poder nos mesmos, que foram lançados para longe, e corri na direção do príncipe, me agachando diante dele, e sibilo alto ao encontrar um ferimento profundo em seu peito, ele arregalou os olhos ao ajustar a visão e me ver. -você está bem? -perguntei, ganhando um curto aceno doloroso de cabeça do príncipe, olhei ao redor -precisamos achar os outros e voltar antes que as coisas piorem por aqui. Venha -tentei levantá-lo, puxando mais da minha força na magia, e xinguei alto com o seu peso, mas mesmo assim me esforcei e o levantei.

Sem com que eu percebesse os espiões se aproximaram de nós correndo, os rostos mais ensangüentados que os nossos e cheios de terror, viramos a cabeça novamente na direção de novas cornetas sendo tocadas nos outros navios, olhei na direção da embarcação de onde estive minutos antes, agora completamente estraçalhada como muitos outros ao seu redor, voltei a encarar os rapazes que praguejaram alto ao ver o estado de Edward ao meu lado, Jason veio imediatamente me ajudar a carregá-lo, Hector apenas acenou em minha direção com o semblante sério.

-Droga! O que aconteceu com ele? -praguejou Jason

-Não sei -olhei angustiada para ele, e senti a presença de mais navios se aproximando, sibilei baixinho e encarei os dois espiões -precisamos sair daqui. Rápido -bradei, e eles acenaram em concordância. Me voltei para Edward, que abriu os olhos, e quando encontrei seu olhar, agora mais suave, observei seu rosto cheio de sangue e machucado, me senti completamente incapaz de expressar minha gratidão por ele por ter me salvado, por ter preferido ficar e me defender,e ele criou uma força que não imaginei que tivesse naquele momento ao erguer sua mão ensangüentada e acariciar minha bochecha, meus olhos se encheram de lágrimas, sorri diante de sua atitude, mesmo em meio a todo aquele caos, mas não me permiti pensar em mais nada, ao me agarrar em sua cintura, e nos atravessar para longe.

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Chegamos na encosta de árvores e rochas que dava para nosso pequeno acampamento improvisado perto do mar, Jason e Hector não perderam tempo ao puxar Edward de meus braços e levá-lo para uma das pequenas tendas para verificar os ferimentos. E eu permaneci ali, na noite gelada com o vento frio e cortante batendo em meu rosto e suspirei aliviada diante de tudo que eu fizera, do que acontecera e do que eu fiz sozinha.

Suspirei mais uma vez e cai de joelhos no chão ao colocar as mãos em meu abdômen e sentir uma pontada lancinante na região, fechei os olhos na qual minhas lagrimas já caiam, eu tinha escapado por pouco, pensei, eu tinha me esquecido completamente de meu dom de cura, e mesmo se me lembrasse, não imaginei que funcionaria com o golpe que Brian me dera, aquilo tinha sido uma benção de Deus, se não eu já estaria morta, se não fosse por meus poderes. O que tinha sido aquilo? Eu fui tomada por uma onda de fúria, e em segundos o poder tomou conta de mim, como se me saudasse, eu sabia que era porque eu sentia ele lá, antigo e forte de uma maneira que jamais pensei que presenciaria, e por toda aquela raiva e dor, eu permiti que me guiasse por completo. Mas o único problema, era que agora Brian, meu inimigo, sabe da minha magia.

"Mas não saberá como detê-la" ecoou em minha mente

Mas eu me perguntava, até quando? Esperava profundamente que aquilo que aconteceu esta noite bastasse, e que ele fosse para longe, e que não fosse preciso que eu acabasse cumprindo minha promessa á ele. Não sabia se eu seria capaz daquilo, mesmo que fosse com meu inimigo. Matar.

Eu havia matado alguns daqueles soldados inimigos que vinham para cima de mim, e procurei muito não pensar nisso, e se pensasse, eu me lembrava das coisas ruins que eles faziam, que pensavam constantemente em suas mentes quando chegavam perto, e por isso não hesitei, agora o que eu ainda não era capaz de entender, era como eu tinha criado aquelas habilidades incríveis em meros segundos, e por mais incrível que parecia, eu ainda a sentia espreitando sob minhas veias, quieta e observadora, apenas esperando o momento certo de aparecer novamente se eu precisasse. Eu iria querer saber sobre aquilo, entender mais sobre o poder que nascia e crescia em mim de uma forma grandiosa e assustadora a cada dia que se passava e eu não fazia ideia de como controlar aquilo tudo.

Voltei cambaleante ao acampamento, o ferimento estava se curando lentamente, o primeiro já havia praticamente se curado, mas o segundo estava mais lento e doloroso, provavelmente porque ele girara a lâmina em mim, mas eu estava me curando pelo menos, ainda assustada e estupefata por isso estar acontecendo, mas feliz por ainda estar viva.

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The Crown - Livro 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora