Capítulo 62

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Na manhã seguinte nós avistamos a pequena cidade, e avançamos diretamente para ela, nós estávamos mais do que exaustas, nossos corpos estavam acabados e sujos, estávamos em um estado precário de suor e nossa pele começou a descascar por conta do sol intenso que enfrentamos no caminho, na qual fazíamos somente as necessidades mais básicas, nem um rio sequer encontramos.

Fomos andando pela rua principal da província e nos informamos com o aldeão mais próximo onde ficariam um lugar com água para os cavalos. Ele nos olhou de cima a baixo como se fossemos duas mendigas insignificantes, mas depois nos respondeu a contragosto. Corremos até a fonte que ficava na praça da rua principal perto de algo que mais se parecia com uma praça e lá nos sentamos no concreto da fonte e nos deleitamos com água. Emma cuidou de alimentar as éguas com o restante da comida que tínhamos, enquanto eu permaneci na beira do poço de água, aprendendo como que se pegava a água daquele jeito.

-Não sabe como se maneja o balde em um poço como este? –perguntou uma senhora meio gorducha que se aproximou com o cenho franzido, ela usava um avental branco e um chapéu em sua cabeça.

-Perdão –lhe respondi –não estou muito acostumada. –ela franziu ainda mais a testa e depois me olhou de cima a baixo. Me arrependi imediatamente do que dissera.

-Para uma viajante como parece, seu estado parece péssimo. Achei que já estivesse encontrado vários desses pelo caminho. –apontou para o poço e depois sorriu. –venha, deixe-me que te ajude. –e assim ela o fez, e eu suspirei de alívio, não queria ter que ficar explicando mais mentiras. Depois que eu aprendi como manusear o balde no poço para me trazer água, agradeci a mulher e Emma se juntou a mim.

-Viajam a quantos dias senhoritas? –perguntou a senhora –sem querer ser evasiva é claro. –deu um risinho –digo por causa de seus estados.

-Quase quatro dias senhora –respondeu Emmily por mim.

-Queremos ir para o continente ao norte, sabe como chegamos lá? –introduzi-me na conversa, perguntando para a velha. –ela me encarou com surpresa nos olhos antes de responder

-Oh! Vocês estão no caminho mais longo, se continuarem pelo leste prossigam por mais umas cinqüenta milhas, chegarão na costa oceânica.

-Obrigada, senhora? –perguntei indagando seu nome

-Sou Magda –saudou ela com um risinho –e vocês? Se me permitem perguntar é claro!

-Sou Emma –respondeu minha irmã estendendo o braço para a mulher, que franziu a testa para minha irmã de mão estendida, que arregalou os olhos e depois relutante abaixou a mão. –desculpe-me, costumes de outra região. –explicou-se.

Me peguei inventando o primeiro nome que surgiu em minha mente, em uma cidadela como aquela eu não poderia me arriscar dizendo-lhes meu nome, como Jason e Edward uma vez me instruíram.

-Victória! –falei –meu nome é Victória. –determinei e Emmily me olhou com dúvida nos olhos, mas permaneceu em silêncio.

-Gostariam de ir até a estalagem em que eu trabalho? Creio que cevem estar cansadas e famintas –disse Magda.

Eu e Emma nos entreolhamos, fiz as contas mentalmente das moedas que possuíamos e balancei a cabeça negativamente.

-Não temos moedas o suficiente –sussurrei para minha irmã, que para meu desgosto Magda nos ouviu.

-Ora, deixe de besteira! Eu lhes faço pela metade do preço se for preciso, onde passariam a noite? Precisam descansar, parecem pior que trapos pelas ruas e eu não permitirei isso. –bradou com sua voz fina, e relutantemente nós pegamos nossos cavalos e a acompanhamos.

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-Por que mentiu? –perguntou Emma entre uma garfada e outra, estávamos na estalagem comendo o jantar que Magda nos proporcionou depois de termos chegado, sem antes é claro de nos forçar a tomar um banho antes disso, agora estávamos de banho tomado e roupas de montaria novas que eu paguei com algumas moedas a cozinheira para que trouxesse novas vestimentas para nós.

-Porque algo me diz que todo cuidado é pouco Emma. –respondi e beberiquei do suco de romã –nós estamos no meio do nada e não temos ninguém para nos proteger, isso nunca aconteceu a nenhuma de nós duas e não temos sequer um pouco de conhecimento da região para saber como chegaremos do outro lado do continente.

-Nós teremos que dar um jeito –disse Emma com um meio sorriso –acha que omitir seu nome vai ajudar em alguma coisa?

-Sim, eu acho! –fiz cara feia para ela e semicerrei os olhos. –não se passou por sua cabeça que somos observadas? Que estamos sendo perseguidas? –revirei os olhos

-Porque eles perseguiriam você? –retrucou

-Pode ter certeza de que a partir do momento em que disse seu nome, eu não sou a única a ser perseguida. –respondi em tom seco, nunca imaginei que minha irmã fosse ser uma pessoa tão irritante e incompreensiva. –e antes que pergunte sobre o motivo disso, bom, o motivo disso é sobre quem nós somos, e por mais que nem saibamos disso direito, pelo que me parece –olhei em seus olhos –não estavam nos planos dessa gente que as filhas do rei e da rainha Clarckson voltassem.

-Isso é muito estranho. –sussurrou Emmily olhando ao redor. –bom, pretende pegar um navio quando sairmos daqui? –disse mudando de assunto.

-Sim, se nossas moedas bastarem. –respondi preocupada. –nem sequer sei como funcionam moedas de ouro. –com isso nos entreolhamos e rimos da situação.

-Mesmo com um exército de soldados atrás de nós, não sei como conseguimos rir disso. –Falou minha irmã interrompendo o riso e me encarando seriamente, se inclinou para sussurrar novamente. – Rei Adrian deve estar furioso por saber que não estamos mais lá e por saber que você fugiu.

-Sim –suspirei e olhei através da pequena janela ao meu lado da mesa que ficava no canto da parede mais afastado do pequeno salão de refeição, chovia lá fora e trovões ressoavam fortemente no céu, mas as luzes dos postes nas ruas lá fora ainda estavam acesas, carruagens iam e vinham constantemente, e me peguei olhando um ponto especifico do outro lado da rua, onde havia um homem de capa preta, encharcado por conta da chuva.

Franzi a testa e semicerrei os olhos para conseguir enxergar melhor, ele olhava fixamente em nossa direção, baixei o olhar por seu corpo e paralisei quando vi uma espada grande e prateada embainhada em sua cintura, voltei meu olhar para cima, mas uma carruagem passou e tampou minha visão, imediatamente me levantei abruptamente da cadeira, o que fez um grande barulho.

-Espere aqui. –falei para Emma e sai caminhando apressadamente em direção a porta da frente, me virei passando pelo vestíbulo e abri a porta, escutei ao fundo o barulho do sininho atrás de mim. Olhei do outro lado da rua e ele ainda estava lá, dei um passo a frente, porém outra carruagem passou bloqueando meu caminho, e quando a minha visão estava livre, ele havia sumido, não estava mais lá. Respirei fundo e olhei para o céu confusa, eu sentia que sabia quem era, parecia com uma sensação de prazer e ao mesmo tempo de tensão que se instalara em mim, a mesma sensação de quando estive naquele corredor do palácio em Breackfost e alguém falou comigo em minha mente, da mesma forma que em uma noite fria e angustiante no palácio de White Kingdom, quando eu chorava e estava perdida em minha própria dor, e alguém me tirou do chão e falou comigo, de certa forma, nem mesmo o poder que andava comigo sabia me dizer se realmente se tratava de um inimigo, ou da minha própria imaginação.

"Descanse hoje princesa, lute amanhã."

Olhei novamente para a rua e arregalei os olhos quando uma carruagem vinha a toda em minha direção, e só então percebi que eu estava no meio da rua, recuei imediatamente para a calçada e olhei mais uma vez ao redor. A chuva estava amena neste instante, mas ainda assim caía.

-Olhe por onde anda garota –bradou um senhor que conduzia os cavalos, balancei a cabeça e retornei para dentro, trombando com uma Emma me olhando de cara feia e batendo os pés impacientemente.

-O que pensa que está fazendo? Por um acaso está ficando maluca? –bradou de braços cruzados e olhos arregalados.

-Talvez você tenha razão. –respondi e desviei-me para subir as escadas na direção do nosso pequeno quarto.

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The Crown - Livro 1 (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora