5. Como déjà vu

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Mais dias se passaram, e nada de Charles aparecer, bom, minhas poucas esperanças que eu tinha que ele aparecesse já se foram, agora mais nada restou. Não sei que diabos aconteceu com Charles, e acho que nunca vou saber.

As férias da faculdade de Matt já acabaram, agora ele voltaria para lá, e na casa só sobraria, eu, meu pai e minha mãe, seria um tédio, pois Matt apesar de odiar ele, eu o amo muito.

-Hilary? - Falou meu pai lendo jornal e comendo rosquinha.

-Sim?

-Hoje Matt vai comprar algumas coisas pra viajar... porque não vai com ele? -Meu pai e minha mãe estavam bem preocupados comigo, eu nunca saia de casa, e estava depressiva, não fazia nada da vida, além de ficar no quarto lendo livros e bem raramente escutando música.

-Simples, ele não me convidou, nunca convida. - Falei com ironia.

Meu pai ficou quieto voltando a ler o jornal.

- Filha. - Disse minha mãe.

- Hm?

- Você não vai comer nada? -Falou me olhando.

- Estou sem fome. - Me levantei saindo dali.

A verdade é que desde que se mudamos para cá, não me lembro de um só momento feliz, ou quase feliz. Meu pai, vivia lendo jornais, completamente viciado em desgraças dos outros, eu e Matt quando éramos crianças vivíamos dizendo que ele era banguela já que ele nunca sorria, ou talvez viciado em saber mais sobre o mundo, o mais estranho, é que ele vive lendo jornais do século passado, ele disse que ele gosta de saber sobre o passado. Minha mãe, vive ocupada com os serviços da casa, as vezes regando o jardim de flores mortas, ela acha que regar plantas mortas adianta em alguma coisa. Matt, bom, talvez ele seja o mais feliz daqui de casa, primeiro, ele tem permissão para dirigir, coisa que eu não tenho, e ele sai todos os dias, ele se diverte, vai em festas, eventos, parques, etc, etc, ou seja, ele nunca está em casa. E eu? Bom eu sou a mais isolada daqui e estranha, sou aquela que vive no quarto dia e noite, escrevendo coisas, as vezes ouvindo músicas, e pensando em minha morte, até o dia que mudarmos daqui. Antes Charles era minha única companhia, mesmo ele sendo tão "quieto" eu sabia que ele era o melhor a me escutar, que sempre me entendia apesar de tudo, o mais fiel que nunca me trocaria por um "pedaço de carne" ou até mesmo um delicioso osso. Pode parecer loucura, mas eu sei que ele me entendia e via todo meu sofrimento. E agora a única coisa que restou foi eu, e meu silêncio.

Me joguei na cama pensativa, graças a alguém maior, que não sei quem é, ou se realmente existe, os barulhos vindos do porão haviam parado. E o garoto estranho não havia voltado pela janela, nem pela porta, nem por lugar nenhum, eu fiquei feliz por um lado, agora tinha certeza que ninguém entraria pela minha janela, e triste pelo outro, mesmo ele sendo um maluco, era uma agradável companhia, mesmo eu não o conhecendo, sabia que podia confiar nele, e sabia que ele não contaria nada a ninguém.

- Posso entrar? -Falou aquele garoto com um lindo sorriso.

- Nossa você por aqui? -Falei realmente surpresa.

- Sentiu minha falta? -Falou entrando.

- Sim! Quer dizer, sei lá. Será que é tão difícil entrar pela porta? -Falei indignada.

- Desculpa, é uma tradição minha. - Sorriu. - Mas e ai, e o porão?

- Que? Como sabe?

- Que? Eu não sei.-Falou desentendido. - Por isso estou perguntando.

- Tá. - Falei estranhando. - Ele não fez mais barulhos. - Falei aliviada.

- Quem sabe fosse pássaros. - Falou tentando me animar.

Espíritos MalignosOnde histórias criam vida. Descubra agora